Governos e produtores veem indícios de crime; PF e SP investigam incêndios

Fogo já queimou área de 59 mil hectares de lavouras de cana-de-açúcar, causando prejuízo de R$ 350 milhões.

A PF (Polícia Federal) abriu dois inquéritos neste domingo (25/8) para investigar suspeita de ação criminosa nos incêndios que afetam o estado de São Paulo.

Segundo a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o fato de os incêndios no interior paulista se intensificarem em dois dias, a partir da quinta (22), é sinal de ação humana. A suspeita de atuação criminosa também foi compartilhada pelo presidente Lula (PT).

Nas redes sociais, ele afirmou que o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) não registrou nenhum incêndio por causas naturais em São Paulo. “Significa que tem gente colocando fogo de maneira ilegal, uma vez que todos os estados do país já estão avisados e proibiram uso de fogo de manejo”, disse.

Em reunião em Brasília neste domingo, Lula afirmou: “Ali é tudo propriedade privada, é canavial, é fazenda”, em referência a São Paulo e a suspeita de incêndios criminosos.

O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, anunciou que as 15 delegacias da instituição no interior de São Paulo e a superintendência regional estão mobilizadas para a investigação.

Mais cedo, também neste domingo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) já havia dito que a Polícia Civil de São Paulo investiga casos de possíveis incêndios criminosos. A corporação diz apurar vídeos e imagens mostrando o que seriam autores das queimadas. Os registros circulam nas redes sociais.

Dois homens foram presos neste fim de semana em São Paulo suspeitos de atear fogo, em São José do Rio Preto e Batatais. O primeiro caso, no sábado, foi de um idoso de 76 anos suspeito de incendiar lixo em mata no bairro Jardim Maracanã, em São José do Rio Preto.

No domingo, em Batatais, um homem de 41 anos foi detido após ser flagrado por um morador, no bairro Jardim Celeste, colocando fogo em uma mata. Ele portava um isqueiro e uma garrafa com gasolina.
De acordo com policiais, o telefone celular do suspeito tinha vídeos de incêndios armazenados na galeria de imagens —inclusive dele comemorando outras queimadas.

Tarcísio, em visita a Ribeirão Preto, cidade que concentra grande parte dos focos de calor, disse que o detido em Batatais tem histórico de crimes. “Criminoso, com passagem pela polícia, com gasolina, ateando fogo, quer dizer, querendo agravar a situação”, disse o governador.

Produtores rurais de São Paulo ouvidos pela reportagem compartilham da hipótese de que os incêndios têm origem criminosa. Eles afirmam acreditar que o fogo dos últimos dias foi provocado por ação humana. Representantes do setor disseram à Folha que a forma como as queimadas começaram aponta para uma ação coordenada.

Almir Torcato, diretor-executivo da Canaoeste (Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo), afirma que, embora as condições climáticas fossem favoráveis a incêndios (calor acima de 30°C, ventos fortes e baixa umidade), o fogo começou de pontos separados, o que pode indicar ação humana.

“Nós, como instituição, não temos prova suficiente para falar que foi algo coordenado. Mas os fatos por si só não são coerentes para ter sido exclusivamente natural, considerando as imagens de satélite e tudo mais”, diz Torcato.

Torcato afirma que há décadas o setor já não usa queimadas na produção —atividade que, segundo ele, era comum quando a cana era colhida sem mecanização.

A visão é compartilhada pelo produtor Marco Guidi. Segundo ele, o setor nunca viu um incêndio ocorrer dessa forma.

“Os focos iniciaram simultaneamente, em pontos distantes um do outro, dificultando a presença das brigadas”, afirma Guidi. “Tudo leva a crer que foi uma ação criminosa e bem articulada.”

Segundo a Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), essa é uma luta antiga do setor. A entidade diz que, em 2022, entregou um ofício à Secretaria de Segurança do Estado no qual pedia que os casos de suspeita de incêndios criminosos fossem levados adiante e investigados.

Empresas do setor também dizem que suspeitam de queimadas provocadas por ação humana. A Raízen diz acreditar que os incêndios são de natureza criminosa, agravados por estiagem, baixa umidade do ar, ação dos ventos e altas temperaturas.

Empresa do setor agrícola, o Grupo Moreno chegou a oferecer recompensa de R$ 30 mil por informações de incêndios criminosos.

O fogo no interior de São Paulo nos últimos dias já queimou 59 mil hectares de lavouras de cana-de-açúcar, causando um prejuízo aos produtores rurais de R$ 350 milhões.

Os dados são da Orplana (Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil) e contemplam áreas a serem colhidas e também de rebrota de cana pulverizadas em várias regiões agrícolas paulistas. Só entre sexta e sábado, foram 2.105 focos de incêndio no estado, 1.800 no primeiro dia e 305, no dia seguinte.

“O sábado começou melhor, mas os fortes ventos atrapalharam muito no fim do dia”, afirmou o CEO da Orplana, José Guilherme Nogueira (Folha)



 SP lança pacote de ajuda para produtores rurais atingidos por incêndios

Raízen diz acreditar em incêndio provocado por ação humana, e grupo agrícola oferece recompensa por informações

O Governo de São Paulo vai lançar neste domingo (25/8) um pacote de ajuda para produtores rurais que tenham sido afetados pelos incêndios que atingiram o interior de São Paulo nos últimos dias. As medidas incluem recursos emergenciais e proteção jurídica para essas propriedades.

Segundo o governo estadual, o produtor afetado terá acesso a R$ 50 mil para despesas como manutenção e recuperação da produção perdida. O dinheiro será oferecido por meio do Feap (Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista).

A gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) diz que irá emitir um termo emergencial para impossibilitar qualquer tipo de sanção ou multa dos órgãos fiscalizadores sobre as propriedades atingidas.

Além disso, as propriedades em questão serão enquadradas nos programas habitacionais paulistas. De acordo com o governo, o objetivo é recuperar as moradias atingidas pelas queimadas.

Os incêndios impactaram atividades do setor agropecuário e outros ramos da indústria.

A Raízen registrava até a tarde deste sábado (24/8) vários focos de incêndio nas áreas de produção da companhia. A distribuidora afirmou que também havia fogo em propriedades de fornecedores de cana e em áreas de outros grupos sucroenergéticos.

“Devido à gravidade da situação, todo o efetivo da brigada de incêndio da Raízen está empenhada no combate, inclusive com o uso de aeronaves, apoiando o Corpo de Bombeiros no atendimento das ocorrências”, afirmou a Raízen em nota.

A distribuidora diz não ter feito ainda estimativas do impacto financeiro devido às queimadas. A companhia afirma acreditar que a os incêndios foram originados por ação humana, de natureza criminosa, agravados pelo período de longa estiagem, baixa umidade do ar, ação dos ventos e altas temperaturas.

Jacyr Costa, presidente do Coagro (Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp), prevê um impacto grande no agronegócio do estado, com a descontinuação de atividades da indústria realizadas ao ar livre.

“Todos os setores são afetados. Uma agroindústria tem usinas que foram obrigadas a evacuar porque o fogo estava chegando perto. Então para a produção. Principalmente quem tem atividade mais a céu aberto evita continuar a produção. Qualquer empresa que faz o serviço de caldeiraria ao ar livre, por exemplo, tem de parar a produção. Acaba impactando tudo”, explica Costa.

Empresa do setor agrícola, o Grupo Moreno chegou a publicar nota em redes sociais oferecendo recompensa de R$ 30 mil por informações de incêndios criminosos em áreas de companhia usadas para cultivo de cana-de-açúcar ou de vegetação nativa. A recompensa será concedida caso as informações levem à prisão da pessoa responsável pelo ato.

“Tais incêndios causam transtornos e prejuízos às empresas, seus colaboradores, meio ambientes e sociedade em geral”, escreveu a empresa na nota.

Só em Ribeirão Preto (SP) são 14 focos de incêndio ativos. Outros municípios da região, como Sertãozinho, Brodowski, Batatais e Jardinópolis, também registram queimadas. O fogo está espalhado também por outras regiões paulistas e atingiu Olímpia, Barretos, Paulo de Faria, Mogi Mirim e Mogi Guaçu.

No Paraná, produtores rurais também se mobilizam para ajudar no controle do fogo. A maior parte dos casos se concentra na região Noroeste.

Diener Gonçalves, presidente do Sindicato Rural de Cianorte, disse que tem pedido a produtores rurais da região que têm tanques de água para ajudar no abastecimento dos caminhões dos bombeiros. A Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná) ainda não tem um balanço de eventuais prejuízos aos agricultores, mas tem alertado sobre medidas de prevenção (Folha)



São Paulo eleva para 46 o número de cidades em alerta máximo para queimadas

O número de cidades em alerta máximo para queimadas no Estado de São Paulo subiu para 46, segundo o monitoramento do Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) da Defesa Civil. Cinco novas cidades entraram na lista de alerta máximo para queimadas na comparação com a relação anterior: Águas da Prata, Pradópolis, Altinópolis, Paulo de Faria e Morro Agudo, o que elevou o número de municípios em alerta máximo de 41 para 48.

Atualmente, 21 municípios enfrentam focos ativos de incêndio: Monte Alegre do Sul, Pontal, Sertãozinho, Santo Antônio da Alegria, Nova Granada, Iacanga, Pompeia, Boa Esperança do Sul, Lucélia, Poloni, Bebedouro, Tabatinga, Brodowski, Luís Antônio, Pedregulho, Tambaú, Turiúba, Pradópolis, Altinópolis, Paulo de Faria e Morro Agudo. Essas cidades enfrentam condições severas de baixa umidade e calor intenso, aumentando o risco de queimadas.

Das 25 cidades que anteriormente estavam com focos de incêndio ativos, 7 saíram da lista: Alumínio, Salmourão, Dourado, Itápolis, Presidente Epitácio, Ibitinga e Urupês. Porém, Pradópolis, Altinópolis e Paulo de Faria entraram para a relação de focos de incêndio ativos.

Neste domingo, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, viajou a Ribeirão Preto, uma das regiões mais afetadas, para acompanhar as operações de combate ao fogo. Para enfrentar a situação crítica, foram mobilizados mais de 7,3 mil profissionais e voluntários na Operação SP Sem Fogo.

A ação conta com o apoio das Forças Armadas, incluindo o uso de aeronaves e helicópteros para conter as chamas. O setor sucroenergético, entre outros, está contribuindo com carros-pipa e brigadistas para ajudar no combate ao fogo, reforçando os esforços para mitigar os danos ambientais e humanos provocados pelas queimadas.

Um posto avançado do Estado foi montado na Base de Aviação da Polícia Militar em Ribeirão Preto. Além das medidas de combate aos incêndios, o governo também implementou um plano emergencial de saúde para a região, coordenado pela Secretaria de Estado da Saúde e pelo Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, visando ampliar o atendimento médico às populações afetadas (Broadcast)



SP lança pacote de ajuda para produtores rurais atingidos por incêndios

Região de Ribeirão Preto, no oeste do Estado, é uma das mais críticas. Muitas queimadas estão em áreas de canaviais.

O governo de São Paulo afirmou neste sábado (24) que atualmente há 17 cidades no Estado com focos ativos de incêndios, enquanto 36 estão em “alerta máximo” para queimadas, em meio a um período de estiagem que já dura dias e altas temperaturas.

A região de Ribeirão Preto, no oeste do Estado, é uma das mais críticas, afirmou o governo. Atuam na região três helicópteros da Polícia Militar, uma aeronave KC-390 da Força Aérea Brasileira e dois helicópteros para ajudar no combate às queimadas.

Diante da forte fumaça que encobre a cidade, a prefeitura de Ribeirão Preto publicou decreto proibindo até domingo atividades esportivas ao ar livre, publicou o G1.

“Estamos contratando aviões para fazer a pulverização de água, que se somam às nossas equipes de aeronaves do Corpo de Bombeiros e ao reforço das Forças Armadas”, afirmou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, em comunicado à imprensa.

O governo paulista criou na sexta-feira um “gabinete de pronta resposta” aos incêndios.

No início da tarde, pelo menos três trechos rodoviários no Estado estavam interditados em decorrência das chamas e da fumaça.

Em Urupês, próxima a Ribeirão Preto e uma das cidades mais atingidas pelos focos de incêndio, a defesa civil informou que cerca de 200 hectares de cana-de-açúcar foram consumidos pelas chamas. Na sexta-feira, dois brigadistas da usina Santa Isabel, morreram ao tentar combater o fogo, afirmou a prefeitura da cidade em comunicado.

“O céu continua opaco, com forte odor de fumaça ainda presente no ar. Dados do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do INPE…indicam que a qualidade do ar em Urupês está insalubre para grupos sensíveis, como pessoas com doenças respiratórias, crianças e idosos”, afirmou a prefeitura (Reuters)

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