Itaueira Agropecuária integra abelhas às plantações e produz anualmente cerca de 90 mil toneladas dos frutos e 50 toneladas de mel
Há 40 anos, a Itaueira Agropecuária busca se atualizar às novas práticas para melhorar cada mais vez suas culturas. Entre as inovações que adotou para aprimorar os cultivos de melões e melancias de diversas variedades, a empresa decidiu integrar às plantações as abelhas Apis melífera, que polinizam os pomares e contribuem para maior produtividade e conformidade dos frutos.
A Itaueira Agropecuária iniciou suas atividades em uma fazenda em Canto do Buriti, nas chapadas do centro-sul do Piauí. O CEO da empresa, Tom Prado, conta que, no início, produzia caju, mas, ao longo dos anos, foi se diversificando e hoje os principais cultivos são melões e melancias de diversas variedades, produzidos em fazendas distribuídas pelo Piauí, Bahia e Ceará. Atualmente, são produzidas cerca de 90 mil toneladas ao ano desses frutos, distribuídos em 2.600 hectares de áreas de produção intensiva e irrigada de melão e melancia. A Itaueira também produz 50 toneladas de mel de abelhas.
“A integração com a apicultura ocorreu porque os melões e melancias precisam necessariamente ser polinizados pelas abelhas Apis mellifera para maior produtividade e conformidade dos frutos, que têm o formato elíptico. A apicultura é decisiva para garantir a produção destes cultivos, além de aumentar o brix (escala numérica que mede a quantidade de sólidos solúveis em uma solução de sacarose)”, pontua Prado.
Em um primeiro momento, a empresa alugava colmeias no mercado regional para polinizar os pomares. Porém, havia uma grande desuniformidade dos enxames, o que causava grandes variações de produtividade e conformidade de frutos, além de surgirem problemas com sua disponibilidade no momento exato da polinização.
“A partir da decisão de produzirmos e mantermos nossos próprios enxames, houve um salto na qualidade da polinização dos frutos com impactos relevantes no negócio. A presença das abelhas auxilia na produção de alimentos por meio da polinização. Elas são alocadas em quantidade, tempo e espaço necessários para maximizar a produção e sua qualidade”, explica o CEO.
Prado destaca que a integração da apicultura ao setor é total e as frentes de trabalho convivem em uma relação cliente-fornecedor interno. Assim, o setor de produção aponta qual área deve ser polinizada e mede a eficiência da polinização. Por sua vez, o setor da apicultura presta o serviço de polinização dos pomares de melão e melancia e corrige eventuais falhas ou problemas específicos.
“O setor de apicultura está sempre com enxames grandes e populosos, capazes de atender a demanda do cliente interno. Este sistema foi implantado desde o começo da produção de melões, sendo intensificado e aprimorado com colmeias próprias e criação racional a partir de 2014. Saímos de uma visualização transecto (medida proxy de eficiência da polinização) de 15 abelhas/100m para 170 abelhas/100m em 10 anos”, detalha.
Para conseguir os resultados pretendidos, a Itaueira desenvolveu um modelo próprio de apicultura racional considerado modelo nacional para melões e melancias. Aos produtores que pensem apostar nessa iniciativa, Prado orienta a adotar o manejo da apicultura racional com práticas de sombreamento, água potável, alimentação artificial (proteica e energética), produção de rainhas, manejo produtivo das colmeias, produção de enxames e combate aos inimigos naturais (formigas e varroa). “O segredo é manter os enxames sempre fortes”, enfatiza.
Exportações de melão registram alta
O Brasil, representado principalmente por Rio Grande do Norte e Ceará, ocupa a 20° posição do ranking dos maiores produtores do mundo de melão, com uma produção de 2% do total mundial. As exportações da fruta mostraram alta na safra 2023/2024 e, em março, registraram quase 200 mil toneladas exportadas somente esse ano. Apesar de o Brasil enfrentar concorrência de outros países da América Central, o produto nacional se destaca por conta da redução de custos na produção e de logística.
Segundo o Comex Stat (portal de estatísticas de comércio exterior do Brasil), a parcial da safra registrou um aumento de 6% em relação ao mesmo período em 2023 e faturamento 14% maior, chegando a R$ 162 milhões.
Diversidade de espécies de abelhas
Atualmente, existem cerca de 20 mil espécies de abelhas descritas no mundo e no Brasil, em torno de três mil. A maior parte desses polinizadores – responsáveis pela polinização de aproximadamente 73% das plantas no mundo – pode ser criada e manejada com técnicas adequadas, em áreas rurais e urbanas.
De acordo com dados do Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil, produzido pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES, da sigla em inglês) e pela Rede Brasileira de Interações Planta-Polinizador (Rebipp), as abelhas formam o maior grupo de polinizadores, representando cerca de 48% do total de espécies identificadas como visitantes florais de cultivos vinculados à produção de alimentos. Frutas como acerola, maçã, maracujá, melancia e melão, vegetais diversos e grãos como soja, feijão e café dependem desse processo.
Incentivo ao diálogo entre apicultores e agricultores
Para incentivar uma relação mais próxima entre o apicultor e o agricultor, o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) possui diversas iniciativas, entre elas o programa Colmeia Viva®, que busca caminhos para valorizar a produção racional dos cultivos, a proteção das abelhas e do meio ambiente, o serviço de polinização realizado por elas e o respeito à apicultura.
O Plano Nacional de Boas Práticas Agricultura-Apicultura é a iniciativa mais importante do programa. Trata-se de um plano de prevenção da mortandade de abelhas e mitigação de incidentes, baseado na disseminação de boas práticas no uso de defensivos e na formalização do pasto apícola entre agricultores e apicultores. As principais iniciativas do Plano são: assistência técnica, Colmeia Viva App, manual de boas práticas, treinamentos EAD e mapeamento de abelhas, iniciativa de pesquisa com a participação da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).