Como consolidar o crescimento puxado pelo agro e turbinado pelo consumo

Por Rolf Kuntz

Consumo está aquecido, mas a longo prazo será preciso investir na expansão e na modernização do potencial produtivo e, de modo especial, no fortalecimento da indústria.  Foto Alex Silva Estadão

Juros menores podem favorecer o investimento, mas a decisão empresarial depende também da segurança da economia e da confiança nas instituições e no comportamento do governo.

Com emprego elevado, a economia brasileira, turbinada pelo consumo e puxada pela agropecuária, cresceu 1,4% no primeiro trimestre, mas com inflação de 2,04% nesse período e de 5,48% em 12 meses – um convite à manutenção de juros altos, desestimulantes do investimento produtivo e da formação de estoques.

O ministro da Fazenda mantém o compromisso de conter os preços e para isso propôs um aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A proposta empacou na chefia do Congresso, mas o ministro anunciou a intenção de buscar uma alternativa.

Enquanto isso, o presidente da República exibe pouca ou nenhuma disposição de frear seus gastos, já empenhado, segundo observadores do mercado e analistas da economia, em garantir para si ou para um aliado a vitória na eleição do próximo ano.

A animação da economia tem-se mantido apesar dos juros muito altos, já aumentados para 14,75% ao ano. A atividade industrial encolheu no primeiro trimestre, com recuo de 1% no setor de transformação e de 0,8% no da construção, mas a produção conjunta ainda se manteve 2,4% acima do volume obtido um ano antes.

Na agropecuária, o volume produzido foi 12,2% maior do que o dos três meses finais de 2024. Um novo recorde tem sido estimado para a safra de soja em 2025. Nos serviços, a produção de janeiro a março foi 0,3% maior que a do quarto trimestre do ano passado e 3,3% superior, em 12 meses, à contabilizada no período imediatamente anterior. Esses dados são especialmente importantes porque o setor representa pouco mais de dois terços do Produto Interno Bruto (PIB) e é o maior empregador.

O balanço do primeiro trimestre permite manter a aposta em um crescimento econômico em torno de 2,5% neste ano, se algumas condições forem preservadas. O cenário poderá ficar mais complicado se aumentar o risco de inflação superior 5% e se for, portanto, necessário frear o consumo e apertar o crédito. O trajeto será menos arriscado se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva for mais cauteloso em relação às despesas do governo.

Num quadro de maior segurança talvez se possa esperar uma expansão econômica mais próxima de 3%, mas isso dependerá também das condições internacionais, especialmente do comportamento do presidente Donald Trump.

Mas um desempenho satisfatório em 2025 será insuficiente, assim como um cenário externo favorável, para garantir ao Brasil um crescimento prolongado. Será preciso investir na expansão e na modernização do potencial produtivo e, de modo especial, no fortalecimento da indústria.

No primeiro trimestre, esse tipo de investimento, chamado em linguagem técnica “formação bruta de capital fixo (FBCF)”, foi equivalente a 17,8% do PIB. Em outras economias emergentes, em geral mais dinâmicas do que tem sido o Brasil, essa taxa iguala e até supera 20%.

Juros menores (recursos mais baratos) podem favorecer o investimento, mas a decisão empresarial de investir depende também da segurança da economia, isto é, da previsibilidade das condições internas, às vezes também do cenário externo, e da confiança nas instituições e no comportamento do governo.

O investimento do setor público – em infraestrutura, expansão e modernização de serviços e até de produção de alguns bens – pode ser muito importante para o desenvolvimento, se for conduzido com base em planos e projetos bem elaborados e bem executados. (EStadão)

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