Cenário que se desenha é desafiador, em razão de que nem preço e nem volume tendem a crescer.
O Produto Interno Bruto (PIB) do setor agropecuário teve crescimento de 0,4% no terceiro trimestre, na comparação com o segundo. A alta veio bem acima da projeção mediana de queda de 1,8%, esperada por analistas de consultorias e instituições financeiras consultados pelo Valor.
Para Fábio Silveira, senior advisor da Volt Partners, o desempenho da agropecuária no terceiro trimestre de 2025 reflete um aumento expressivo na produção de grãos — especialmente milho, que exerce maior pressão altista nesse período. Houve também redução na produção de cana-de-açúcar, mas insuficiente para neutralizar o avanço do setor agropecuário, conforme observa o especialista.
Silveira destaca que o efeito positivo da agropecuária se espalha por toda a economia. No terceiro trimestre, a receita agrícola cresceu cerca de 10% em relação ao mesmo período de 2024. “Esse aumento da receita acaba beneficiando outras atividades da economia brasileira, principalmente serviços. Isso também fortalece o crescimento da economia como um todo”, acrescenta.
Segundo ele, esse impacto não é apenas imediato: a receita agrícola auferida nos primeiros trimestres tende a se refletir nos seguintes, sustentando o nível de atividade. O PIB do agro tem efeito real sobre setores como transporte, que apresentou bom desempenho devido à maior movimentação de produtos. “Se a receita agrícola tivesse caído, poderia até haver aumento de produção física, mas a queda prejudicaria indústria e serviços”, explica.
Para o próximo ano, de acordo com Silveira, o cenário que se desenha é desafiador, em razão de que nem preço e nem volume tendem a crescer. “2026 vai ser um ano em que a receita agrícola deve decepcionar. A agropecuária, em particular soja e grãos, vai inspirar cuidados maiores.”
As projeções da FGV Ibre indicam que o PIB do agro deverá crescer 8,3% em 2025. O professor Felippe Serigati, da FGV Agro, ressalta o tamanho da safra 2024/2025 de milho, considerada a maior da história. Uma vez que houve atraso no plantio, o cenário “empurrou” o calendário da segunda safra, provocando impacto no terceiro trimestre do ano.
Além da safra recorde, o milho vive momento de demanda aquecida tanto para a produção de ração animal quanto para a produção de etanol, com diversas usinas sendo inauguradas no país.
A pecuária, por sua vez, conta com volume de abates crescente: “O fato de ter conseguido fazer algo ligeiramente superior ao que foi o ano passado já é para chamar a atenção”, observa o especialista. Cenário que, segundo ele, não deve acontecer no ano que vem. “Em algum momento vai ter de haver retenção de fêmeas. O mercado de reposição está apertado.”
A projeção de crescimento do agro, porém, não esconde problemas em alguns segmentos. Culturas como algodão passam por momentos menos confortáveis, observa Serigati, enquanto o setor da laranja respirou mais aliviado do que outros com o tarifaço dos Estados Unidos.
No caso do arroz, mesmo com uma safra grande, a rizicultura enfrenta problemas. “O fato de crescer em volume não significa que todo mundo está com receita confortável”, explica Serigati (Globo Rural)




