Três associações regionais de produtores de cana-de-açúcar do Estado de São Paulo se retiraram das negociações coletivas a respeito da nova metodologia de pagamento pela matéria-prima no âmbito do Conselho de Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Etanol do Estado de São Paulo (Consecana) e fecharam à parte um acordo com a União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica). As tratativas se arrastam há dois anos.
Ontem, a Associação dos Fornecedores de Cana de Capivari (Assocap), a Associação dos Fornecedores de Cana de Araraquara (Canasol) e a Associação dos Fornecedores de Cana de Piracicaba (Afocapi) firmaram um memorando de entendimentos com a Unica em evento em Piracicaba (SP) sem a participação da Organização das Associações dos Produtores de Cana-de-açúcar (Orplana), representante oficial dos fornecedores no Consecana.
O Consecana foi criado para disciplinar o método de pagamento das usinas aos seus fornecedores de cana — que, no Centro-Sul, representam 30% do volume processado —, e seu estatuto prevê a revisão dos parâmetros técnicos e econômicos a cada cinco anos. A última revisão deveria ter ocorrido em 2023 para ser aplicado a partir da temporada 2024/25, mas as negociações entre Unica e Orplana ainda se arrastam, o que tem afetado os produtores da região.
Com a deterioração dos preços do açúcar nos últimos meses e a quebra de colheita de cana nesta safra 2025/26, aumentou a expectativa dos produtores para um acordo sobre o assunto.
A assinatura incomodou a direção da Orplana e provocou discussões em grupos de mensagens de produtores rurais. José Guilherme Nogueira, presidente da associação, disse que está “apreensivo”. “É óbvio que a Unica está fazendo isso para tentar enfraquecer a Orplana”, afirmou.
Para ele, a decisão das três associações terá repercussão negativa sobre os produtores de forma geral. “Isso mostra que as pessoas estão desesperadas para aceitar os termos [das usinas], sendo que temos condições melhores na mesa de negociação”, comentou o dirigente da Orplana, que congrega 35 associações regionais de todo o país.
Durante o evento, Evandro Gussi, presidente da Unica, refutou a acusação da Orplana. “Não estamos rachando os fornecedores. Só não queremos que aconteça o que aconteceu com o RenovaBio”, disse, em referência à longa negociação que se deu entre usinas e fornecedores sobre a fatia a ser repassada a produtores pelos Créditos de Descarbonização (CBios) gerados pelo etanol da cana fornecida.
A discordância entre Unica e Orplana é sobre a elegibilidade dos produtores ao novo cálculo. A Orplana reivindica que o novo método seja aplicado aos produtores que já recebem algum tipo de bonificação, seja por qualidade da matéria-prima entregue, seja por algum tipo de compensação. A Orplana também defende que os novos contratos firmados após o fechamento do acordo sejam regidos por uma regra só.
Já a Unica diz que, desde o início, as negociações sobre a nova metodologia do Consecana estavam restritas para serem aplicadas aos fornecedores que não estavam sendo contemplados por nenhum novo mecanismo, e que esse tema foi o que pautou estudo técnico da FGV. Segundo Gussi, conselheiros da Orplana não teriam tido conhecimento do estudo. Já Nogueira disse que todos os pontos da negociação são debatidos no conselho da entidade.
O memorando assinado ontem com as associações de Capivari, Araraquara e Piracicaba prevê que as partes vão “identificar quais são os fornecedores que não estão tendo remuneração adequada no percentual e nas metodologias técnicas, identificar quanto tem que ser o incremento e como esse incremento deve ser feito”, afirmou Gussi, durante o evento.
O documento prevê ainda que, mesmo que Orplana e Unica cheguem a um denominador comum, o acordo firmado de forma bilateral será o válido (Globo Rural)







