O agronegócio brasileiro ignora 90% de áreas sem proteção

Por Rodrigo Zuini, CTO da Picsel*

O agronegócio brasileiro apresenta um paradoxo notável, pois embora seja reconhecido mundialmente por sua produtividade e escala, enfrenta uma fragilidade estrutural significativa devido à baixa penetração do seguro agrícola, que atinge menos de 10% da área cultivada, segundo dados da Confederação Nacional de Agricultura. Esse cenário demonstra que ajustes incrementais não são suficientes e que o país precisa de uma mudança de paradigma impulsionada por tecnologia e novos modelos de negócio, como o cooperativismo, reforçados pela Lei Complementar nº 213/2025, sancionada em janeiro, que cria novas oportunidades para proteção e compartilhamento de risco.

A tecnologia desempenha um papel central na transformação desse panorama, já que a combinação de dados provenientes de satélites, drones, sensores de campo e históricos climáticos de décadas permite criar uma base de conhecimento sem precedentes. O desafio passou a ser processar essas informações e transformá-las em inteligência acionável, capacidade essencial para ampliar a cobertura do seguro agrícola. Segundo a Organização das Cooperativas Internacionais, existem mais de 5 mil seguradoras cooperativas em todo o mundo, com quase 333 milhões de membros e R$ 11 trilhões em ativos, mostrando que modelos cooperativos robustos e escaláveis já são uma realidade global.

A inovação na subscrição de risco representa outro elemento transformador, pois permite superar limitações de métodos tradicionais baseados em estatísticas históricas que frequentemente premiavam produtores menos eficientes e penalizavam os mais resilientes. Hoje, é possível criar réplicas virtuais de fazendas e submetê-las a décadas de variações climáticas em minutos, o que permite avaliar a resiliência real de cada talhão e ajustar preços de forma justa, considerando o risco individual em vez de médias regionais.

Além disso, a adoção de tecnologia de ponta não exige desenvolvimento interno massivo, já que plataformas em nuvem e arquiteturas de microsserviços possibilitam que cooperativas acessem ferramentas avançadas de análise de risco e personalização de apólices, mantendo o foco no relacionamento com os cooperados. Essa integração entre tecnologia e capilaridade institucional demonstra como o setor pode aumentar a cobertura sem comprometer eficiência e proximidade com os produtores.

Embora existam objeções quanto à complexidade e custo da implementação tecnológica em cooperativas, experiências globais comprovam que o acesso a soluções centralizadas e de fácil utilização reduz barreiras, aumenta a confiança dos produtores e amplia a cobertura de seguros. De acordo com a International Cooperative and Mutual Insurance Federation, cooperativas e seguradoras mútuas representam quase 30% do mercado global de seguros, confirmando que é possível combinar eficiência, escalabilidade e relacionamento próximo com o cliente.

Para avançar na universalização do seguro agrícola no Brasil, é fundamental integrar tecnologia de ponta, dados precisos e o modelo cooperativo como pilares centrais. Essa convergência permite proteger melhor o produtor, fortalecer a resiliência do setor e transformar a segurança agrícola em um motor de desenvolvimento sustentável, demonstrando que o futuro do seguro agrícola depende da capacidade do país de abraçar essa transformação e reduzir os 90% de áreas ainda desprotegidas.

*Rodrigo Zuini é CTO da Picsel, com mais de 20 anos de experiência em tecnologia, dados e transformação digital. Atuou globalmente em projetos de larga escala e liderou times de alta performance em empresas de diversos setores.

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