Ao projetar os rumos da agricultura brasileira para as próximas décadas, a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, afirmou nesta segunda-feira (28), durante o Agrishow Labs, que o futuro da produção de alimentos estará ancorado na ciência, na inovação tecnológica e na sustentabilidade. O Agrishow Labs é uma iniciativa de inovação com startups patrocinada pelo governo de SP. Em sua palestra magna, intitulada “O Futuro da Agropecuária Brasileira – Desafios e Oportunidades de PD&I”, Massruhá reforçou o papel da estatal na liderança das transformações necessárias para alimentar uma população mundial estimada em 9,3 bilhões de pessoas até 2050.
A trajetória da agricultura nacional, disse ela, comprova que o investimento em ciência tropical foi decisivo para transformar o Brasil de importador a um dos maiores exportadores de alimentos. “Somente o avanço científico e tecnológico é capaz de conciliar aumento de produção, conservação dos recursos naturais e maior resiliência às mudanças climáticas”, destacou.
Entre os caminhos apontados para o futuro do setor estão o uso intensivo da inteligência artificial, a expansão da agricultura digital e o fortalecimento da conectividade no campo. Massruhá ressaltou que a Embrapa já desenvolve ferramentas para integrar conhecimento científico às necessidades dos pequenos e médios produtores, promovendo inclusão produtiva e digital no meio rural.
Um dos exemplos citados é o programa Semear Digital, que implementa ações de inclusão tecnológica em 10 municípios, com foco em cadeias produtivas como mandioca, tomate, café, milho e aquicultura. Também foi destacada a plataforma e-Campo, que oferece capacitações on-line para produtores e técnicos, democratizando o acesso a informações atualizadas.
Bioeconomia e sustentabilidade
A presidente enfatizou que a agricultura do futuro será, necessariamente, mais sustentável. Nesse sentido, destacou projetos liderados pela Embrapa, como o Catálogo Nacional de Bioinsumos, em parceria com o Ministério da Agricultura, e a Plataforma Integra Carbono, que reúne protocolos, métricas e bases de dados para mensuração e mitigação de emissões de gases de efeito estufa (GEE).
Outro destaque foi a intensificação sustentável da pecuária com o sistema ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta), capaz de elevar a produtividade animal e sequestrar carbono no solo. “Estamos promovendo a restauração de pastagens degradadas, melhorando a saúde do solo e fortalecendo a resiliência dos sistemas produtivos”, afirmou.
Haroldo Junqueira Franco da Core Inovação — hub responsável pela curadoria do Agrishow Labs — também reforçou a importância das parcerias para impulsionar a inovação no agro.
“Não abrimos mão da força desses convênios. Projetos como os apresentados pela Embrapa, que envolvem ciência, captação de recursos e o uso de IoT (Internet das Coisas), devem ser contínuos e ampliar sua atuação, apoiando startups, pesquisadores e fomentando novas iniciativas”, afirmou. Segundo Franco, a Core Inovação já participa de projetos semelhantes e reconhece os desafios de apoiar startups desde o estágio inicial. “Esperamos que esses esforços tenham continuidade, fortalecendo novas tecnologias para o agronegócio”, acrescentou.
Inovações de fronteira
Em sua palestra, Massruhá também apresentou projetos de biotecnologia avançada, como o desenvolvimento da soja editada geneticamente com a técnica CRISPR para tolerância à seca e redução de fatores antinutricionais — já aprovada pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança).
Além da edição genética, a Embrapa investe em tecnologias emergentes como visão computacional para contagem automática de frutos, inteligência artificial para identificação de pragas agrícolas, agricultura espacial em parceria com a Agência Espacial Brasileira (AEB) e computação quântica aplicada ao agro.
Próximos passos
Entre as iniciativas futuras, Massruhá anunciou o projeto RuralGPT, que pretende criar um modelo conversacional de IA especializado em agricultura tropical, oferecendo informações confiáveis e em tempo real para subsidiar decisões no campo. A iniciativa integra a estratégia da Embrapa de ampliar parcerias com instituições de pesquisa e expandir a fronteira da inovação no setor.
“Investir em pesquisa, inovação e políticas públicas que incentivem a adoção de novas tecnologias é fundamental para assegurar a multifuncionalidade e a sustentabilidade da agricultura brasileira”, concluiu.