Entre os principais produtores de aves do Brasil, oeste catarinense produz milhares de toneladas mensalmente da matéria orgânica
A região de Chapecó no oeste de Santa Catarina é considerada o coração da avicultura catarinense, são cerca de três mil granjas com aproximadamente 65 milhões de aves. Esse número corresponde a 79% da avicultura de todo o estado, conforme dados da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola (CIDASC), da Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária. Como segundo maior produtor do Brasil, o plantel catarinense produz diariamente milhares de toneladas de matérias orgânicas geradas pelas camas de aves. Para se ter uma ideia do volume, a quantidade de cama de frango gerada, após o ciclo de 40 dias de engorda das aves, por exemplo, é de cerca de dois quilos por animal alojado. Um lote de 25 mil aves pode gerar aproximadamente 50 toneladas de esterco nesse período.
Como apresenta importantes nutrientes, os quais podem ser incorporados ao solo, a indústria vem desenvolvendo soluções inovadoras e produtos que promovem o incremento na produtividade das lavouras com redução de custo de produção. É o que já faz há muito tempo a Terraplant Fertilizantes, de Chapecó (SC), que desenvolve a mais de 23 anos fertilizantes orgânicos e organominerais utilizando como matéria-prima as camas de aves. Além de ser um excelente fertilizante e maximizar a produção da lavoura, a prática da utilização da cama de aves para a fabricação do produto é alinhada à preocupação com a preservação do meio ambiente e aos preceitos da economia circular, já que reutiliza toda essa matéria-prima que seria descartada no meio ambiente.
Apenas a empresa de Chapecó recebe anualmente de seus fornecedores cerca de 55 mil toneladas de camas de aves, sendo de uma variedade de aves como frango de corte, matrizes e perus. Os fornecedores estão grandes empresas como a Aurora, a BRF e a JBS. Mas a matéria-prima também chega de pequenos produtores com apenas um galpão, que fornecem até 150 toneladas por carga, ou grandes produtores com 10 galpões, que fornecem até 2 mil toneladas por retirada. “Temos um número grande de fornecedores, alguns até com 20 anos de parceria. Então vamos rotacionando, pois as camas utilizadas passam de 15 a 20 lotes de aves para a nossa retirada, para que o teor nutricional esteja dentro do padrão que acreditamos ser adequado para o nível de qualidade dos nossos produtos. Geralmente as camas são retiradas com no mínimo 74 semanas, podendo ficar até mesmo 24 meses”, destaca o CEO da Terraplant, Cléber Terribile.
Com a experiência de quem atua há mais de 25 anos com o desenvolvimento de fertilizantes e adubos provenientes de camas de aves, Terribile ressalta o alto potencial de nutrientes dessa matéria-prima atualmente para a produção de fertilizantes organominerais. “Existem fertilizantes organominerais que são produzidos à base de outros resíduos orgânicos como a cana-de-açúcar, esterco suíno ou bovino, mas, não possui todos esses nutrientes. O fertilizante com matéria-prima de cama de aves entrega uma nutrição completa com até 13 nutrientes”, explica.
O doutor em solos e Coordenador de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Terraplant, Alex Becker, explica que as camas de aves brutas quando chegam à empresa passam por uma operação bastante complexa até se transformarem em fertilizante pronto para a utilização. No entanto, o especialista faz um alerta que se as camas de aves forem transformadas em adubos ou fertilizantes sem o devido cuidado técnico, pode ter o efeito contrário e prejudicar o solo deixando mais ácido e até mesmo levando a degradação.
“O produto chega para nós como um resíduo, então se o produtor utilizar diretamente no solo tem estudos que comprovam que pode ocorrer a degradação do solo, pode levar microrganismos que não são benéficos, além de acidificar o solo, então a matéria-prima sem essa transformação necessária pode ser um grande malefício ao solo quando utilizada em grandes volumes. É bastante complexo essa operação para que o resíduo seja utilizado de forma segura na agricultura. Tem muitos produtores que utilizam a cama sem tratamento nas lavouras e isso gera problemas no solo”, explicou Becker.