Excesso de chuva em algumas regiões e seca em outras reduziram a produtividade.
Aconteceu o que já era esperado. Com tanta variação climática no final do ano passado e no início deste, a safra de grãos do país vai ficar bem distante do recorde atingido em 2023.
O resultado foi um PIB (Produto Interno Bruto) da agropecuária de janeiro a março deste ano 3% inferior ao de igual período de 2023, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgados dia 4/6.
Após produtividades recordes no início de 2023, o rendimento das principais culturas recuou neste ano. Soja, milho e arroz, que representam 92% de toda a safra de grãos do país, tiveram queda na produtividade.
Dados divulgados pelo IBGE no início de maio e, portanto, ainda sem os efeitos das enchentes do Rio Grande do Sul, já indicavam retração de 6,5% na produtividade de milho, na média do país; 5% na de soja, e 2,5% na de arroz. Os próximos levantamentos vão apontar retrações ainda maiores.
Sendo que boa parte da safra de grãos é colhida nos primeiros meses do ano, e os números não foram favoráveis, o PIB agropecuário deste ano ficará bem distante do de 2023, quando atingiu crescimento de 15,1%.
A produção recorde de 152 milhões de toneladas de soja no ano passado, considerando os números do IBGE, uma vez que outras consultorias indicam volumes ainda maiores, fez o PIB de janeiro a março de 2023 registrar alta de 22,9% sobre o de igual período de 2022. A comparação deste ano, portanto, é com um período de forte aceleração em 2023.
Se no ano passado a pecuária inibiu um crescimento maior do PIB, em relação às lavouras. Neste ano, ocorre o contrário. A produção de carnes esta acelerada, gerando inclusive recordes de exportação, mas a de grãos recua.
Nos números da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a produção brasileira de grãos, se confirmada conforme os dados estimados em maio, ficará 24 milhões de toneladas abaixo do colhido em 2023.
O PIB da agropecuária vai sofrer, ainda, os impactos do desastre climático do Rio Grande do Sul neste segundo trimestre. O estado tem uma agropecuária bastante diversificada e uma posição importante na produção nacional.
Líder na produção de arroz, de trigo e de fumo, entre outros, é o segundo maior produtor de soja do país. Se de um lado as perdas ainda não foram mensuradas, a reconstrução vai movimentar a economia, dificultando qualquer previsão de evolução do PIB no setor agropecuário.
O efeito das enchentes e da destruição no estado vai aparecer no PIB de abril a junho. Não apenas as lavouras foram afetadas, mas todo o segmento do agronegócio. Da produção à distribuição.
O VBP (Valor Bruto da Produção) da agropecuária do estado, que já estava em queda por causa das fortes secas dos anos recentes, deverá encolher ainda mais com as enchentes deste ano.
O estado, que chegou a ocupar a 4ª posição no ranking nacional do VBP, recuou para a 6ª, após as constantes secas na região. Com peso de 8% na economia brasileira, o PIB da agropecuária perderá participação neste ano, quando os estragos do Rio Grande do Sul forem mensurados.
Os gaúchos são responsáveis pela 3ª maior produção de carne de frango do país, ocupando a mesma posição nas exportações nacionais. Na suinocultura, ocupam o 3º lugar em produção e o 2º em exportações.
O estado tem o quarto maior rebanho de vacas leiteiras, somando 1,1 milhão de animais, e ocupa a 7ª posição no número de cabeças de gado. A maior parte dessa estrutura estava em áreas afetadas pelas enchentes.
Os gaúchos são o terceiro maior produtor de leite e de ovos, liderando a produção de mel, com 15% do total do país.
No setor de lavouras, disputam a liderança na produção de trigo com os paranaenses e, na safra de 2024, deverão obter 46% da produção nacional do cereal.
A produção de 7,5 milhões de toneladas de arroz, com base em dados ainda anteriores às enchentes, somam 70% da safra nacional, mas o estado tem importância reduzida nas produções de feijão (2%) e de milho (4%).
A safra de soja dos gaúchos, ainda para ser reavaliada, estava estimada em 21,7 milhões de toneladas, segundo o IBGE, 15% do volume nacional. A produção prevista para o país todo é de 148,2 milhões, segundo o instituto.
A produção nacional de milho também afetará o PIB deste ano, mas com queda menor do que se previa. A produtividade de Mato Grosso, principal estado produtor no país, foi melhor do que o esperado, e a produção da safrinha deverá superar os 90 milhões de toneladas, conforme os números do IBGE. A colheita ainda está em andamento.
Mesmo com a redução da safra, o PIB de janeiro a março deste ano supera em 11,3% o do quarto trimestre de 2023. Nos últimos quatro trimestres, a alta acumulada é de 6,4% (Folha)