Por Marcelo Fraga Moreira
Mais uma semana com o mercado surpreendendo! E como previsto nos comentários anteriores, o mercado voltou para os 400 centavos de dólar por libra-peso.
O vencimento julho-25 chegou a subir +4.800 pontos. Após negociar novamente nos 410,50 centavos de dólar por libra-peso o julho-25 encerrou a semana @ 399,85 centavos de dólar por libra-peso (fechamento anterior / mínima / máxima / fechamento atual respectivamente 372,60 / 362,30 / 410,50 / 399,85 centavos de dólar por libra-peso).
O café robusta em Londres encerrou o vencimento julho-25 @ 5.415 US$/tonelada e o vencimento novembro-25 @ 5.298 US$/tonelada (respectivamente 324,84 US$/saca = 1.851 R$/saca e 317,82 US$/saca = 1.830 R$/saca).
O real voltou a valorizar +4,20% e encerrou a semana @ 5,68 R$/US$.
O mercado interno voltou a negociar acima dos 2.650/2.700 R$/saca para o café arábica tipo 6 (chegou a ser reportado negócios acima dos 2.850 R$/saca) e acima dos 2.750 R$/saca para o café arábica tipo “cereja descascado”. Café com qualidade, café especial e com certificações seguem sendo remunerados e disputados pelos compradores.
Já o café tipo robusta, com a expectativa do início da colheita nas principais regiões produtoras, continua “pressionado” com negócios saindo ao redor dos 1.650/1.700 R$/saca (tanto safra velha como safra nova).
O spread entre o café arábica tipo 6 e o café tipo robusta (nesses níveis de preço) está negociando acima dos -35%! E aproximadamente -25% em comparação com o café arábica “tipo rio”… A princípio “um deságio absurdo”! Porém, aparentemente, o produtor do robusta está precisando fazer caixa para pagar as operações da sua colheita e “vendendo/liquidando” ao preço do comprador.
Com o julho-25 em Londres encerrando @ 5.415 US$/tonelada, então o produtor brasileiro está vendendo seu café com -400 US$ / -300 US$ de desconto com base na cotação da bolsa de Londres! Novamente não faz sentido! Até algumas semanas atrás o café robusta brasileiro era negociado com “prêmio/paridade” com a Bolsa de Londres e com ágio sobre o café negociado no Vietnam! O que mudou de lá para cá? No quadro geral absolutamente nada! A principio a queda na produção brasileira do café arábica será novamente suprida pela oferta do café robusta. E em breve os preços deverão voltar a negociar dentro da normalidade. Ou seja, o spread entre café arábica tipo “rio” e o café robusta deverá zerar e até voltar a valer um “prêmio”.
Com essa “pechincha” momentânea creio que muitas tradings já estão montando posições e criando um “colchão” para em breve voltarem a exportar café para os demais destinos com uma grande margem no bolso podendo aplicar o “spread de origem” – uma vez que a safra do Vietnam 24/25 continua sendo uma incógnita e a disponibilidade do produto entre “hoje” até out-25 também!
Infelizmente o produtor brasileiro do café tipo robusta já começou a safra 25/26 “deixando” muito dinheiro na mesa!
As operações de “hedge” continuam sendo um “tabú” entre os produtores.
Apenas como referência para o café robusta: contra o vencimento julho-25 a opção de compra “call*” strike 5.400 US$/tonelada encerrou @ 300 US$/tonelada (18 US$/saca = 102,60 R$/saca) e a opção de compra “call*” strike 5.400 US$/tonelada no vencimento novembro-25 encerrou @ 504 US$/tonelada (30 US$/saca = 171 R$/saca)!
As safras brasileiras 24/25, 25/26 e 26/27 continuam gerando muitas dúvidas, muitas especulações quanto a produção final de cada uma delas, aos estoques de passagem de uma safra para a outra, e à disponibilidade pontual para abastecer tanto o mercado interno quanto as demandas para a exportação.
Na sexta-feira tivemos a divulgação da estimativa da Eisa* para a safra 25/26 em 65,90 milhões de sacas (lembrando que nos últimos dias tivemos outras estimativas entre 62,80 até 65,90 milhões de sacas – respectivamente Rabobank e Eisa* – Empresa Interagrícola de Santos) x a Conab * ainda nos 51,80 milhões de sacas.
Aparentemente após a divulgação dos dados da Eisa* (durante o pregão da sexta-feira) o mercado recuou das máximas dos últimos 15 dias (o vencimento julho-25 estava negociando ao redor dos 410 centavos de dólar por libra-peso e praticamente “derreteu” devolvendo os 1.000 pontos de alta em 5 minutos).
Um ponto em comum com os dados da Eisa* e as minhas analises é um aperto no estoque de passagem entre a safra 24/25 para a safra 25/26 com aproximadamente apenas 2 meses de estoque disponível (aproximadamente 10 milhões de sacas). Quanto ao tamanho da safra 25/26 o tempo dirá quem está correto: Conab* x “mercado”…
O Brasil continua sendo o “bilhete premiado” que irá deixar muita gente “rica/pobre” nos próximos meses!
A colheita já começou tanto para o café tipo robusta quanto para o café tipo arábica “precoce” em algumas fazendas do arábica. Por enquanto as notícias estão positivas para o café tipo robusta e preocupantes no café arábica. Aparentemente cafés arábica peneira 17/18 e café tipo “cereja descascado” serão disputados com ágio / prêmios bem interessantes em breve.
As chuvas recentes, apesar de benéficas para a reposição hídrica do solo, estão trazendo prejuízos extras em algumas lavouras com muitos grãos já caindo no chão. O impacto no resultado final da safra 25/26 só será conhecido nos próximos meses.
A exportação brasileira no mês de abril-25 segue firme e forte. Segundo projeções dos números da Cecafé* o Brasil deverá exportar novamente entre 3,00-3,30 milhões de sacas – sinalizando uma exportação total no ano safra 24/25 ao redor dos 45 milhões de saca. Nós analistas estamos sendo obrigados a corrigir o estoque de passagem da safra 23/24 para a safra 24/25 e/ou a produção brasileira da safra 24/25 para justificar o estoque de passagem da safra 24/25 para a safra 25/26, em 30 de junho de 2025, nos 10,00 milhões de sacas.
Assim, a oferta total disponível para a safra 24/25 deve ter sido em 76,90 milhões de sacas. E aqui cada um pode “brincar” com os números conforme sua conveniência (por exemplo):
- a) Estoque de passagem: 16,50 milhões de sacas
Produção: 60,40 milhões de sacas
Oferta total: 76,90 milhões de sacas
Consumo interno: 21,90 milhões de sacas
Exportação: 45,00 milhões de sacas
Estoque de passagem final safra 24/25 para a safra 25/26: 10,00 milhões de sacas
Ou
- b) Estoque de passagem: 10,00 milhões de sacas
Produção: 66,90 milhões de sacas
Oferta total: 76,90 milhões de sacas
Consumo interno: 21,90 milhões de sacas
Exportação: 45,00 milhões de sacas
Estoque de passagem final safra 24/25 para a safra 25/26: 10,00 milhões de sacas
Como dito acima, o consenso geral do mercado é que hoje, no Brasil, o estoque disponível é o menor dos últimos anos. E que a safra 25/26 será menor que a safra anterior.
Por esses e outros motivos já apresentados nos últimos comentários semanais, sigo positivo para os próximos 2-3 anos!
Os fundos + especuladores, conforme último relatório do CFTC*, estão comprados em aproximadamente apenas 27.000 lotes.
Durantes as últimas semanas (e com o efeito Trump) reduziram a posicao comprada dos 50.000 lotes para os atuais 27.000 lotes. Ou seja, estão com muito espaço para “adicionar novas compras” e “empurrar” esse mercado novamente, com alguma nova “notícia altista”, para colocar todos os proximos vencimentos (pelo menos até o julho-26 / setembro-26) negociando entre os 400/450 c/lb em breve (Qual será esse gatilho? A primeira sinalização do risco de uma geada? Com a confirmação dos problemas no rendimento das lavouras?).
Uma correção no curto prazo será bem vinda para os gráficos / indicadores “tomarem um passo pra trás e 5 pra frente”!
E o inverno ainda nem começou!
O vencimento julho-25 apresenta suportes importantes @ 388 / 376 / 353 e 346 centavos de dólar por libra-peso e resistências @ 399 e 406 centavos de dólar por libra-peso. Atenção pois o indicador “estocástico” indicou “topo” e poderá influenciar na correção de curto prazo na próxima semana (parafraseando a explicação do Arnaldo Corrêa no seu “comentário semanal do açúcar” – O indicador estocástico de curto prazo mede a velocidade e o momento dos movimentos de preço”.
Também aproveitando para lembrar nossos leitores sobre as famosas operações dos “acumuladores” e novamente compartilhando o que ocorreu no ultimo curso avançado ministrado pela Archer Consulting agora no mês de abril:
“No último curso avançado que ministramos no início do mês, um dos alunos fez uma observação que arrancou gargalhadas da turma: “Professor, toda manhã levantam da cama um esperto e um otário. Quando eles se encontram, nasce uma operação de acumulador…” O comentário, além de espirituoso, descreveu com precisão quase cirúrgica o espírito de certas operações estruturadas que aparecem por aí. A classe, é claro, caiu na gargalhada — e alguns, talvez, até riram de nervoso.”
Novamente muito cuidado com essas “propostas mirabolantes” que surgem nesses momentos “por aí” – “com operações com probabilidade mínima em ocorrer”.
Não coloquem riscos desnecessários nos seus livros!
Produtor: aproveite as altas do mercado e proteja-se!
Para o produtor do robusta/conilon: faça as contas de “paridade” entre café arábica x café robusta. Se conselho fosse bom “a gente vendia e não dava de graça”… Não faz sentido vender café tipo robusta, a meu ver, com spread superior a -20% sobre o café arábica…(Marcelo Fraga Moreira é um profissional há mais de 30 anos atuando no mercado de commodities agrícolas, escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting)