Café: De novo, a “Teoria da Conspiração assusta o produtor

Marcelo Fraga Moreira

O próximo vencimento Dez-24, após negociar na máxima do ano no dia 27 de agosto @ 259,45 centavos de dólar por libra-peso, encerrou a semana @ 236,00 centavos de dólar por libra-peso (abertura / máxima / mínima / fechamento respectivamente @ 240,55 / 246,70 / 235,30 / 236,00 centavos de dólar por libra-peso). Tecnicamente essa correção já era esperada pois o “mercado esticou” e estava negociando acima do topo da banda de Bollinger dos 50 dias! Os fundos + especuladores “comprados” (atentos nessa “oportunidade”) entraram vendendo, liquidando aproximadamente -4.819 lotes – estão agora comprados em 41.956 lotes.

Conforme nosso comentário da semana passada os fundos + especuladores continuarão ditando a direção do mercado no curto/médio prazo: “… Ou seja, não é isso que fez o mercado realizar. Mas sim a combinação da desvalorização do R$ e a correção técnica / liquidação posição dos fundos/especuladores”. A princípio esse movimento de realização poderá continuar nos próximos dias com o Dez-24 podendo buscar o próximo objetivo nos 226,25 centavos de dólar por libra-peso (o “gap” deixado no dia 05 de agosto-24).

O produtor, infelizmente, continuou não aproveitando as oportunidades que o “mercado” proporcionou e segue acreditando que os preços vão subir “em linha reta”. Com a “volatilidade” diária o mesmo se sente prejudicado pelo “mercado”! Porém o grande culpado continua sendo o produtor. A falta da política de hedge, do entendimento da compra do seguro das opções de venda “put*” e/ou a compra das estruturas “put-spread*” leva o produtor a perder excelentes oportunidades para realizar seu hedge / estratégias para garantir o seu “preço mínimo” desejado. Como já demonstramos aqui, a única variável que o produtor não consegue proteger é o seu “basis” (o diferencial de compra – que pode ser positivo ou negativo – e que uma vez fixado será utilizado para o cálculo do preço final). Esse diferencial de compra/venda base “bica corrida / mercado interno” já saiu de -30 pontos para -45/-50 pontos! As outras variáveis como R$/US$, custos com frete / logística / e cotação em NY podem ser fixados com antecedência… 

Em 1 semana, com NY “derretendo” -2.400 pontos e o R$ chegando a valorizar +3,00%, o mercado interno encerrou novamente negociando abaixo dos 1.500 R$/saca para o café arábica tipo 6 “beliscando” os 1.400 R$/saca! E o produtor novamente voltou a pregar a “teoria da conspiração” onde o “mercado” quer “massacrar o produtor” não “repassando” o preço para o produtor na mesma velocidade quando o mercado sobe… Também foi divulgado em alguns grupos de whatsapp que os “compradores” estavam “saindo do mercado em conjunto” por 10 dias para pressionar os produtores a vender mais barato…

O café robusta continua firme negociando na paridade com o café arábica! Londres também “realizou” -158 US$/tonelada com o próximo vencimento Nov-24 encerrando @ 4.770 US$/tonelada (aproximadamente 286,14 US$/saca = 1.596,68 R$/saca). O produtor do café tipo robusta “não pode reclamar” pois o preço do seu produto saltou da expectativa inicial da safra dos 450/500 R$/saca para “inimagináveis” 1.450 R$/saca! Infelizmente muitos produtores tiveram problemas com sua safra mas os que atingiram seus objetivos já estão considerando novos investimentos em tecnologia / irrigação / e “comprar a terra do vizinho”…  

Os fundamentos continuam os mesmos: uma safra brasileira 24/25 indefinida, a seca superando os 150 dias em muitas regiões já comprometendo a próxima safra 25/26, muitas floradas ocorrendo em áreas irrigadas e não irrigadas, nova onde de calor no Brasil com previsão de novas chuvas apenas a partir do dia 20 de setembro, problemas climáticos nas demais origens, o tufão Yagi atingindo o Vietnam nesse final de semana, a expectativa do aumento do consumo nos novos mercados asiáticos, e uma “oferta x demanda mundial” 24/25 com um déficit estimado entre -12/-23,90 milhões de sacas.

No curto prazo o Brasil continua surpreendendo e exportando acima das expectativas. Segundo dados da Cecafé*, e pela projeção para o mês de setembro-24, o Brasil poderá exportar acima dos 4,50 milhões de sacas – superando o recorde do mês de nov-20 quando o Brasil exportou +4,77 milhões de sacas (teremos logística pra esse volume?)! Nos primeiros 6 dias do mês as “emissões” já estavam em 998.501 sacas (projetando uma exportação recorde – acima dos 5,80 milhões de sacas).

Essa aceleração nas exportações durante os primeiros 4 meses da safra 24/25 deve ser em função das restrições com as novas regras que irão entrar em vigor a partir do dia 01 de janeiro-25 na Europa. Até lá as grandes tradings / torrefadoras deverão continuar acelerando os embarques e montando estoques de segurança no destino. Os fretes marítimos já começaram a subir – ou melhor, explodir. Já existem rotas onde as novas cotações de frete já passaram dos 1.500 US$/contêiner de 20 pés para 3.300 US$/container! As companhias marítimas continuam “nadando de braçada” pois o setor é controlado por 2-3 grandes empresas marítimas!

O mercado continua observando de perto o final da maturação da safra do Vietnam. A princípio, a safra do Vietnam está sendo estimada entre 22-27 milhões de sacas e a brasileira entre 55-65 milhões de sacas. Considerando a estimativa mais otimista nas 2 origens então o déficit global entre “produção x consumo” deverá ficar nos -12 milhões de sacas! Já considerando o lado “pessimista” o déficit aumenta para -23,90 milhões de sacas!   

No curto prazo o Dez-24 encontra suportes @ 237,40 / 226,25 / 220 centavos de dólar por libra-peso e resistências @ 246,65 e 255,05 centavos de dólar por libra-peso.

A posição em aberto nas opções de compra “call*” com vencimento no próximo dia 08 de novembro está bem interessante! A posição em aberto para o vencimento Dez-24 encerrou da seguinte forma (strike centavos de dólar por libra-peso / nr lotes): 225 / 1.275230 / 4.578; 235 / 688; 240 / 934; 245 / 1.247; 250 / 4.549; 255 / 692; 260 / 1.402; 265 / 791; 270 / 2.340275 / 1.124280 / 2.310; 285 / 244; 290 / 3.850; 295 / 228; 300 / 7.001! E nas opções de venda “put*”: 240 / 1.749; 235 / 138; 230 / 1.934; 225 / 2.303; 220 / 3.605!

Continuo positivo para os próximos meses (com alta volatilidade) ainda mais com essa posição em aberto nas opções nos “strikes” acima dos 250 centavos de dólar por libra-peso.

Como sempre, proteja-se!

Cuidado com as travas para as próximas safras 25/26 em diante!

Travas sem “contra hedge” (através da compra de uma opção de compra “call*”) são um perigo!

Produzir sem garantir um piso mínimo (através da compra de uma opção de venda “put*”), um seguro contra eventual correção no mercado também.

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priscilla@archerconsulting.com.br (Marcelo Fraga Moreira é um profissional há mais de 30 anos atuando no mercado de commodities agrícolas, escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting)

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