BNDES dobrará captação externa após acordos com G20 e China

Uma das novidades é a criação de linha em moeda chinesa renminbi; banco público terá mais R$ 26 bilhões, principalmente para transição climática

Acordos firmados durante o G20, no Rio de Janeiro, e a visita do presidente da China Xi Jinping, em Brasília, vão dobrar as captações externas do BNDES. Novas operações e doações em dólar, euro e até yuan, a moeda chinesa, totalizam cerca de R$ 26 bilhões, segundo balanço conseguido em primeira mão pela Folha.

Segundo o BNDES, cerca de R$ 8 bilhões podem ter liberação imediata, e o restante estará disponível até 2026. O total conseguido nesta semana equivale ao volume já captado internacionalmente pelo BNDES neste ano. Segundo balanço da instituição, as captações externas totalizaram R$ 26,2 bilhões em 30 de setembro de 2024, expansão de 10,6% no ano.

Apesar dos avanços, as captações externas do banco ainda estão distantes dos volumes registrados no final dos anos de 1990 e início de 2000. Segundo série histórica do BNDES, naquela época, o valor superava o equivalente 1% do PIB (Produto Interno Bruto). O recorde foi registrado em 2002, quando chegaram a 2% do PIB e começaram a declinar.

Neste ano, as captações externas representam 0,23% do PIB. Atingindo os US$ 52 bilhões previstos, chegariam a 0,46% (em valores do PIB deste ano).

A maior novidade do pacote fechado nesta semana é a cooperação entre BNDES e o CDB (Banco de Desenvolvimento da China), com a oferta de uma linha totalizando ¥ 5 bilhões (o equivalente a R$ 3,9 bilhões). É o primeiro financiamento em moeda chinesa feito pelo BNDES. O Banco do Brasil realizou a primeira operação atrelada ao yuan, em 2023, com o BOC (Bank of China), mas num valor bem menor, ¥ 350 milhões.

O diretor de Planejamento e Relações Institucionais, economista Nelson Barbosa, explica que um dos produtos que vão ser criados a partir dessa iniciativa é uma espécie de correlato em yuan (também chamado renminbi) da linha em dólar.

Na versão tradicional, em moeda americana, o tomador, em sua maioria exportadores com receita em dólar, paga a variação cambial mais uma taxa, e se protege do sobe e desce cambial.

“Vamos oferecer uma linha em renminbi, em que o tomador paga a variação cambial em renminbi, mais uma taxa, para quem tem receita na moeda chinesa”, diz Barbosa.

“Ainda vamos estruturar a operação, e a ideia é testar a demanda, porque todas as operações com a China são feitas em dólar, mas o mercado diz que teria demanda por renminbi.”

As tratativas para a linha na moeda chinesa foram iniciadas durante visita de comitiva brasileira à China, e a cooperação foi oficializada no pacote de 37 atos firmado durante encontro Xi Jinping e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta quarta-feira (20/11).

O maior volume de recursos foi amealhado nos encontros bilaterais durante o G20.

Um memorando de entendimento com o AIIB (Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura) firmou o compromisso para a liberação de US$ 3 bilhões (cerca de R$ 17 bilhões) em financiamentos para infraestrutura, com foco em ações ESG (que tenham impacto benéfico de caráter ambiental, social e na governança).

Como esse financiamento tem garantia do Tesouro Nacional, antes de o recurso estar disponível, a operação vai precisar cumprir um rito de análise que inclui, por exemplo, avaliação da Cofiex (Comissão de Financiamento Externo). A expectativa de Barbosa é que possa ser finalizado até o final do primeiro semestre do ano que vem.

Esse acordo pode beneficiar o PAC nas áreas de infraestrutura de transporte, energia, digitalização, água e saneamento, especialmente em projetos capazes de promover uma maior integração entre Brasil e Ásia. Está previsto ainda que parte dos recursos podem ser injetados no Fundo Clima, para a mitigação das mudanças climáticas.

A CAF (Comissão Andina de Fomento) acertou a disponibilização de até US$ 500 milhões (quase R$ 3 bilhões) para o BNDES, também com foco em descarbonização, energia renovável e infraestrutura de saneamento.

A liberação de outros € 200 milhões (R$ 1,2 bilhão) para o banco público foi acertada com a AFD (Agência Francesa de Desenvolvimento), mas com foco regional. Os financiamentos devem focar em saneamento, desenvolvimento urbano e energia renovável no Norte e Nordeste, especialmente em áreas da Amazônia.

Uma fração dos recursos foram doações dos governos dos Estados Unidos e Noruega para o Fundo Amazônia, gerido pelo BNDES. Os apoios financeiros somam US$ 110 milhões (R$ 336 milhões). Esse fundo é dedicado a promover a conservação e do uso sustentável no bioma amazônico, e pode bancar fiscalização e combate ao desmatamento, bem como reflorestamento, entre outras iniciativas.

O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, afirma que o reforço na oferta de recursos permite que o banco amplie a atuação no combate às mudanças climáticas, que vem tendo forte demanda do mercado.

A linha para financiamento de projetos de combustível sustentável para aviação e navegação, por exemplo, foi lançada oferecendo R$ 6 bilhões. As propostas apresentadas pelos investidores somaram a demanda de R$ 160 bilhões.

“Com as novas captações e os acordos anunciados nesta semana, o BNDES diversifica as fontes de composição do funding, sem onerar o Tesouro”, afirmou Mercadante.

“Com isso, teremos ainda mais capacidade de alavancar os investimentos em áreas estratégicas, com ações focadas especificamente na transição energética e na preservação ambiental, pautas fundamentais em que o Brasil tem todas as condições de liderar o processo global” (Folha)

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