Empresa da UE antecipa compra de café devido lei antidesmatamento

União Europeia comprou 13 milhões de sacas neste ano, 65% a mais do que em 2023.


As indústrias de torrefação europeias se preparam para a entrada em vigor da EUDR (Regulamento de Produtos Livres de Desmatamento da União Europeia), programada para o início de 2025.

As importações europeias de café nos sete primeiros meses deste ano somaram 13,3 milhões de sacas, 64,9% a mais do que no mesmo período do ano passado.

As empresas se preocupam com eventuais dificuldades nas importações após o início do próximo ano. A preocupação não é tanto com as áreas de café, que estão consolidadas há vários anos, mas com o que poderá ser exigido, diz Guilherme Morya, analista de café do Rabobank, banco especializado em agronegócios.

O café não avança em áreas de floresta e é visto como uma atividade sustentável, mas poderá haver ajuste de documentos, afirma o analista.

A partir de 2025, terá de ser comprovada a geolocalização do café, assim como de outros produtos brasileiros após 2020. Caso contrário, a importadora receberá pesadas multas.

Os estoques atuais computados pela European Coffee Federation indicam essa procura maior por café brasileiro neste ano. As empresas da região iniciaram o ano com estoques de 6,9 milhões de sacas, mas já estão com 8,4 milhões.

Isso ocorre em um período que não é favorável à formação de estoques, diz o analista. O preço do primeiro contrato na Bolsa de commodities de Nova York é superior ao valor dos contratos mais longos. Tradicionalmente, os preços do mercado futuro no segundo semestre são maiores do que os à vista.

O café já vem com pressão nos preços desde o ano passado. Quebra de safra no Vietnã, elevação de custos de frete, devido a questões geopolíticas, e clima afetando várias áreas de produção.

A partir do segundo trimestre deste ano, devido ao clima seco, a florada dos cafezais do Vietnã começaram a apresentar problemas. Isso deve refletir na colheita a partir de novembro.

Os números ainda são precários, mas o mercado trabalha com perdas de 10% a 20%. Se confirmada a última porcentagem, a queda seria próxima a 6 milhões de sacas, uma vez que a produção vietnamita é de 29 milhões a 30 milhões de sacas.

Uma quebra dessa complicaria os estoques mundiais, atualmente ajustados. O ciclo 2024/25 apresentará o quarto déficit desse tipo de café entre oferta e demanda.

O patamar de preços deste ano beneficia o produtor, que recebe preços altos e tem custos menores. Segundo o analista do Rabobank, a relação de troca é de 1,79 saca de café de 60 quilos por tonelada de fertilizante (mistura 20-05-20). No ano passado, eram necessárias 2,9 sacas.

Até abril, olhando para a frente, o cenário de preços era de estabilidade. Esses novos fatos trouxeram mais volatilidade ao mercado.

Morya diz que nos preços atuais ainda não estão sendo computados possíveis efeitos do clima seco das próximas semanas na florada dos cafezais brasileiros.

A média de cinco anos dos preços do café robusta é de 90 centavos de dólar por libra-peso. Atualmente está em 180 centavos. O preço do robusta dá sustentação ao do arábica.

A participação efetiva das empresas europeias nas compras já elevaram as exportações brasileiras de café deste ano para 28,1 milhões de sacas, 46% a mais do que em igual período do passado.

As vendas externas de café arábica subiram 31%, atingindo 20,7 milhões de sacas. O destaque, no entanto, fica para o café robusta, que continua com crescimento impressionante, diz Morya.

Nos sete primeiros meses deste ano, as exportações desse tipo de café aumentaram 314%, somando 5,2 milhões de sacas. Em todo o ano passado, foram 4,7 milhões.

O Rabobank revisou a safra brasileira de 2024/25 para 67,1 milhões de sacas, abaixo dos 69,8 milhões previstos anteriormente. Serão 44,1 milhões de café arábica e 23 milhões do tipo conilon.

A safra mundial 2024/25 deverá atingir 175 milhões de sacas, com crescimento de 3% sobre a anterior, conforme as contas do banco.

A demanda mundial tem ritmo menor, uma vez que as indústrias de torrefação registram algumas dificuldades nas vendas, devido a preços da bebida, pressão inflacionária e economia menos acelerada em alguns países consumidores.

Na safra 2023/24, a demanda mundial foi de 170 milhões de sacas, com alta de 1,1%. Na 2024/25, o volume deverá crescer 1,5% (Reuters)

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