Sustentabilidade contra os desafios climáticos

O cultivo sustentável de grãos é a estratégia utilizada por produtores de Iporã para enfrentar os recorrentes problemas do clima

Em Iporã, no extremo noroeste do Paraná, onde os solos são arenosos e naturalmente mais suscetíveis às variações climáticas do que em áreas argilosas, os produtores de grãos sabem como fazer a sustentabilidade jogar a seu favor. O Rally Cocamar de Produtividade passou por lá, acompanhado do gerente técnico da cooperativa, Rodrigo Sakurada.

BRAQUIÁRIA – Eles não têm dúvidas: a braquiária – forrageira de origem africana que se adaptou muito bem às condições brasileiras – é a solução mais eficiente para ajudá-los a enfrentar os recorrentes problemas do clima, tanto para o caso de excesso de chuvas quanto para a falta de umidade. A braquiária é semeada após a colheita da soja, no final do verão, em consórcio com o milho de inverno ou de forma solteira, podendo servir de pastejo para o gado durante os meses frios. Mas seu principal objetivo é proteger o solo com uma camada de palha para o plantio direto da soja, a cultura mais importante.

BENEFÍCIOS – “Os benefícios são muitos”, afirma o engenheiro agrônomo Fernando Ceccato, da unidade da Cocamar Cooperativa Agroindustrial no município, indicando que a melhor forma de semear – no caso de consórcio milho e braquiária – é com a adaptação de uma terceira caixa de sementes na semeadora. Há mais 12 anos atuando no município e entusiasta do uso da forrageira como estratégia sustentável para mitigar os efeitos climáticos sobre as lavouras, ele orienta os produtores para a sua adoção e tem exemplos de resultados práticos muito convincentes.

SOLO COBERTO – No início de dezembro, precipitações volumosas deixaram um rastro de destruição em propriedades onde solo e lavouras estavam desprovidos de palhada. Em determinado local, um carro chegou a ser engolido por uma valeta aberta pela enxurrada. Segundo Ceccato, em áreas onde se pratica a braquiária como cobertura, os danos foram pequenos porque a palha amortece o impacto da chuva e, ao mesmo tempo, promove a infiltração da água, impedindo seu escorrimento. E é justamente essa infiltração – favorecida pelo intenso enraizamento da braquiária, capaz de romper a compactação -, que vai acumular umidade no subsolo e assegurar o desenvolvimento da soja mesmo em caso de uma estiagem menos prolongada.

MAIOR PRODUTIVIDADE – O produtor e médico veterinário Albertino Afonso Branco, um dos primeiros a aderir à braquiária ainda em meados da década de 2000, quando iniciou um programa de Integração Lavoura Pecuária por orientação da Cocamar, diz não se ver mais trabalhando de outro jeito. E garante: “com um sistema bem consolidado, tendo a braquiária como base e associada a outras tecnologias, é possível alcançar uma produtividade de 30 a 40 sacas de soja acima da média do município”.

Branco, que produz o grão em 40 alqueires, é taxativo: “nesse solo de areia, frágil e que esquenta muito ao sol, não tem como dispensar a braquiária”. O produtor usa a forrageira, ainda, para alimentar uma centena de vacas leiteiras no inverno: “nem preciso fazer silagem”.

INÍCIO ANIMADOR – Pioneiro da soja em Iporã, onde planta 260 alqueires, Adelar Dazzi lembra que antes de adotar a braquiária, no início deste ano, o solo apresentava problemas de compactação, com uma deficiente taxa de infiltração de água, de apenas 40 milímetros. “Já nos primeiros meses após a introdução da braquiária em consórcio com o milho, a taxa de infiltração subiu para 60 milímetros, 50% a mais”. É animador, mas, segundo Ceccato, os resultados vão começar a aparecer, mesmo, a partir do terceiro ou quarto ano.

SEM DANOS – Quanto às chuvas recentes, que somaram 270 milímetros em três dias e provocaram estragos no município, não houve nenhum dano nas propriedades de Dazzi e Branco. “Não aconteceu nada mesmo em talhões onde há desníveis mais acentuados”, menciona o agrônomo, acrescentando: a orientação aos produtores que estão aderindo à braquiária é cultivar o primeiro ano nesses lugares apenas com a forrageira, sem a soja. Com isso, ao proteger o solo, a braquiária vai evitar possíveis danos ocasionados pela erosão.

ARRENDAMENTO – Setenta por cento dos produtores de soja de Iporã são arrendatários, segundo dados da Cocamar. E, quando chove bem, a produtividade das lavouras não fica muito atrás na comparação com as médias obtidas em solo argiloso. “Eu já colhi aqui uma média de 170 sacas de soja por alqueire”, lembra o produtor Adelar Dazzi. De milho, ele já alcançou 300 sacas, mas lamenta que nos últimos anos as lavouras tenham sido muito castigadas por veranicos.

AVANÇO – Somente neste ano, a unidade da Cocamar em Iporã comercializou cerca de 70 mil quilos de sementes de braquiária entre produtores do município e região, o que permitiu cobrir com a forrageira uma área de aproximadamente 15 mil hectares (6.200 na medida em alqueires), nas modalidades consórcio milho e braquiária, braquiária solteira e integração Lavoura Pecuária (ILP).

SUSTENTABILIDADE – O agrônomo Fernando Ceccato lembra que muitos produtores são conscientes da importância desse manejo para a sustentabilidade de seus negócios e destaca que a parceria da Cocamar com a Embrapa Soja tem contribuído para isso. Por vários anos, em Iporã e outros municípios das regiões atendidas pela cooperativa, equipes da estatal – lideradas pelos pesquisadores Júlio Franchini, Henrique Debiasi, Esmael Lopes e Donizete Loni – realizaram uma detalhada avaliação do solo, em propriedades de cooperados. Entre outros aspectos, foram analisados nível de compactação, estrutura física, porcentagem de cobertura, análise nematológica, declividade do terreno e taxa de infiltração de água.

MELHORA – “O que se constatou, em resumo, foram solos muito deficientes e desequilibrados em seus aspectos físicos, químicos e biológicos”, diz o agrônomo, ao acrescentar que a compactação, entre outros problemas, dificulta a infiltração. Com a braquiária, já no primeiro ano de implantação é possível observar uma melhora da estrutura física, entre outros itens, que coíbem a erosão, aumentam a atividade biológica e promovem um aporte de umidade, o que assegura mais resiliência às plantas em caso de um veranico, com reflexos positivos na produtividade.

RALLY – Em seu 10º ano de realização, o Rally Cocamar de Produtividade conta com os seguintes patrocinadores: Ouro Fino Agrociências, Sicredi Dexis, Seguradora Sombrero, Fertilizantes Viridian, Nissan Bonsai Motors e Texaco, com apoio do Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), Aprosoja-PR e cooperativa Unicampo de profissionais de ciências agrárias. (Jornal Cocamar)

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