Letícia Mazzaro Cavaletti, de Astorga, sempre ouviu que foi criada para trabalhar no ar condicionado. Mas está amando os desafios da lida no campo
“Meu pai sempre me falava que me criou para trabalhar no ar condicionado. Que trabalhar na roça não era vida para mim por causa das grandes dificuldades que havia antigamente, especialmente para uma mulher”, conta a produtora Letícia Mazzaro Cavaletti, de Astorga, que até a pouco tempo seguiu as recomendações do pai Humberto Mazzaro ao pé da letra. Um revés na saúde do pai, entretanto, mudou completamente a situação e Letícia descobriu na agricultura sua nova profissão. “Com toda a tecnologia hoje disponível no campo, ficou muito mais fácil conduzir uma propriedade rural. Roça também é lugar de mulher”, diz.
NA CIDADE – A produtora se formou em Fisioterapia em 2002 e em Educação Física em 2016. Foi funcionária pública. Atuou muito tempo na área de fisioterapia, teve clínica e depois, mais recentemente, com a formação em Educação Física, montou uma academia de pilates. Mas, quando teve filhos e o pai se afastou da gestão da propriedade, em 2017, a princípio, tentou equilibrar as duas funções, aprendendo sobre o dia a dia do campo e ajudando o pai como podia, mas, não deu conta e acabou optando por arrendar a academia para se dedicar exclusivamente ao negócio da família, a partir de 2020.
NA FAZENDA – Letícia tem dois irmãos: um, Alexandre, já falecido, e o outro, Marcelo, que trabalhou com o pai a vida toda, mas nunca gostou muito da parte burocrática. Letícia é que teve que assumir essa parte, no que, a ajuda e incentivo do marido, Alexandre, que é gerente de Contabilidade e trabalha num escritório agropecuário, foi muito importante. “Eu, o Alexandre, o Marcelo e um funcionário antigo estamos dando conta de tudo, mas, sempre consultamos o pai, tiramos dúvidas, especialmente em casos mais difíceis. Levamos os problemas já com possíveis soluções e ele dá a palavra final”, afirma a produtora, ressaltando que os pais ficaram felizes com o envolvimento dela nas atividades da família, que chegou a região em 1952, sendo pioneira, quando seu pai e seu avô vieram plantar café. Atualmente cultivam soja e milho.
APRENDIZADO – E a empolgação de Letícia com o agronegócio foi tanta que tem buscado aprender também a lidar com as atividades no campo. “As duas funções estão interligadas. Tem que aprender o dia a dia na roça para administrar melhor”, comenta. Ela ama acompanhar a colheita e o plantio e se precisar, ajuda levando um caminhão, o trator, ou fazendo outras atividades. Tem aprendido sobre o que plantar, quando controlar pragas, doenças e o mato e tudo mais.
TUDO MUDA – “Na roça tudo é muito dinâmico e a realidade de um ano é diferente do outro. Tem que estar sempre aprendendo algo novo e isso é muito bom. É um aprendizado constante e estou amando tudo isso. O que vale para um ano, não vale por completo para outro. Na agricultura tudo é variável e o clima muda tudo. Já logo de cara tive que enfrentar seca, geada e cigarrinha”, conta Letícia.
APOIO – A produtora também tem se envolvido com o núcleo feminino, buscado apoio de amigas, aprendendo com palestras, dias de campo, eventos técnicos, exposições, grupos de trocas de informações. “Uso todos os recursos disponíveis para aprender cada vez mais”.
SUCESSÃO – O pai de Letícia sempre foi muito forte, trabalhador, decidido, muito atuante e preocupado em proteger a família. “Por isso, está sendo difícil para ele ficar parado, mas, está feliz ao saber que pode confiar e ver os filhos dando conta do recado. Só me arrependo de não ter começado antes. Mas, o bom é que tivemos tempo de aprender com ele. Ter essa supervisão foi fundamental. Agora, nossa preocupação é envolver desde cedo meus filhos e sobrinhas para não termos problemas na sucessão”, finaliza. (Jornal Cocamar)
