- Presidente dos exportadores diz que o Brasil precisa elevar o consumo interno
- Estados Unidos são o principal mercado para o produto brasileiro
A colheita do mel pode começar com algumas ferroadas, mas o produtor sabe que, no final, a produção será doce. A recente tarifa dos Estados Unidos, principal mercado para o produto brasileiro, tem um pouco a ver com isso. Ela trouxe desafios de curtíssimo prazo, mas a cadeia deve aproveitar o momento para olhar também para os de médio e de longo prazo. As afirmações são de Renato Azevedo, presidente da Abemel (Associação Brasileira dos Exportadores de Mel).
O Brasil produz 65 mil toneladas de mel por ano, e as exportações até agosto somaram 26 mil. Deste volume, 85% foram para os Estados Unidos. A tarifa de 50% veio em período de final de safra e, na maioria dos casos, os americanos honraram os contratos. Os números da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) mostram isso. Em agosto, as exportações para os Estados Unidos foram de 2.941 toneladas, número bem próximo do de julho, quando haviam sido 3.081 toneladas.
O cenário agora exige mais atenção no curto prazo, quando, a partir das próximas semanas, entra a nova safra. É período de redefinição de contratos e de preços. E o setor já começa a receber sinais de que essa nova conta gerada pela tarifa vai recair, em boa parte, sobre os brasileiros.
No médio prazo, o presidente da Abemel diz que o desafio é elevar o consumo interno. “É fundamental a conscientização da população dos benefícios do mel. O consumidor acaba, por falta de informação ou por falta de hábito, não consumindo.” Já o desafio de longo prazo é o de trabalhar efetivamente em cima da classificação do nosso produto e mostrar a qualidade e os benefícios dele mundo afora, diz Azevedo.
A produção brasileira provém, em sua maioria, de pequenos e médios produtores. Daí a necessidade da preparação deles para os desafios do mercado, segundo Kalinka Koza, assessora técnica da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
Um dos focos da entidade é a regularização das agroindústrias de pequeno porte. Ela vai dar condições para que o próprio produtor consiga processar o mel e fazer vendas diretas ao consumidor, agregando valor.
Para Laudemir Muller, gerente de agronegócios da ApexBrasil, a tarifa imposta pelos Estados Unidos é ruim tanto para os brasileiros como para os americanos. “O mel brasileiro é diferenciado, e eles [os americanos] o usam basicamente para blend, a fim de melhorar o produto deles.” Cerca de 85% das importações de mel orgânico certificado feitas pelos Estados Unidos saem do Brasil, afirma.
O país deve elevar esforços para mostrar a qualidade do produto brasileiro em feiras internacionais e diversificar mercados. Além disso, disputar gôndolas em supermercados no mercado externo com marcas brasileiras, afirma ele.
Se referindo à tarifa americana, Muller diz que essa chacoalhada traz, além de questões de curto prazo, a necessidade de uma reavaliação do mercado internacional e de algumas reflexões de fundo sobre o agronegócio brasileiro.
O presidente da Abemel não deixa de relacionar problemas que surgirão das dificuldades de colocação do produto brasileiro no mercado americano. De 70% a 80% do valor das exportações são repassados para o campo, e uma desestruturação da cadeia produtiva, construída nas últimas três décadas, traria uma situação muito delicada (Folha)