Recebimento de cacau encerra 3º trimestre com leve alta e indica estabilidade na oferta |
A moagem de cacau manteve trajetória de queda no 3º trimestre de 2025, refletindo um cenário ainda desafiador para o setor. Foram processadas 46,1 mil toneladas, recuo de 16,6% em relação ao mesmo período de 2024. No acumulado de janeiro a setembro, o total de 144 mil toneladas representa queda de 15,1% frente a 2024, segundo dados do SindiDados – Campos Consultores, divulgados pela AIPC. “O recebimento mostrou algum alívio pontual, mas a moagem ainda não acompanhou esse movimento. Custos elevados de matéria-prima, forte queda na demanda de derivados, especialmente da manteiga de cacau, e margens comprimidas seguem limitando a retomada do processamento no Brasil, refletindo diretamente no apetite industrial”, avalia a presidente-executiva da AIPC, Anna Paula Losi. Recebimento indica estabilidade O recebimento total de amêndoas de cacau pela indústria processadora finalizou o terceiro trimestre de 2025 com um volume de 68.212 toneladas, o que representa uma variação positiva de 2,37% em relação às 66.633 toneladas registradas no mesmo período de 2024. Segundo Anna Paula, “o aumento no volume de recebimento já era esperado, pois houve um atraso nas entradas no trimestre anterior”. No acumulado de janeiro a setembro, o recebimento soma 126,4 mil toneladas, praticamente estável em comparação às 125 mil toneladas do mesmo período do ano anterior. Anna Paula pondera que “mesmo com a queda na moagem e uma certa melhora no recebimento quando se compara o total recebido nos nove primeiros meses do ano, pouco mais de 126 mil toneladas, e o total processado no mesmo período, cerca de 144 mil toneladas, ainda temos um déficit de aproximadamente 18 mil toneladas (12,5%) no período“. O trimestre também encerra o ano-safra 2024/25 (outubro a setembro), cuja análise reforça o cenário de cautela. O volume total recebido no período foi de 180.835 toneladas, ligeiramente abaixo das 182.349 toneladas registradas na safra 2023/24 e bem distante do pico observado em 2022/23 (215.217 toneladas). O resultado confirma uma queda consistente da oferta nacional após a boa safra de 2022/23, refletindo o impacto de fatores climáticos, fitossanitários e estruturais que ainda limitam a recuperação da produção. Mesmo com o leve avanço neste trimestre, o ciclo 2024/25 consolida-se como o segundo consecutivo de retração, evidenciando que a retomada da produtividade ainda depende de condições mais favoráveis e de continuidade dos investimentos no campo. “Depois de um primeiro semestre praticamente igual a 2024, observar que o volume recebido se manteve estável, com leve variação positiva, é um sinal importante. Ainda é cedo para falar em retomada consistente, dados os números fracos do ano safra 2024/2025, mas o resultado do trimestre indica uma possível resposta aos investimentos e aos esforços de melhoria na produtividade, e esperamos que os próximos anos essa melhora se consolide para que o Brasil possa voltar a ser relevante no cenário global de oferta de cacau”, destaca Anna Paula. Recebimento por estadoO desempenho do terceiro trimestre mostrou comportamentos distintos entre as principais regiões produtoras. A Bahia e o Espírito Santo apresentaram avanços expressivos, enquanto o Pará, responsável por quase metade do volume nacional, registrou queda no período. A Bahia registrou 34.592 toneladas no terceiro trimestre, frente a 28.611 toneladas no mesmo período de 2024, o que representa um crescimento de 20,9%. No acumulado de janeiro a setembro, o estado soma 71.468 toneladas, alta de 56,5% em relação às 45.673 toneladas do mesmo intervalo do ano anterior. O Pará registrou 30.252 toneladas no terceiro trimestre de 2025, frente a 35.921 toneladas no mesmo período de 2024, o que representa uma queda de 15,8%. Apesar do recuo trimestral, o estado acumula 45.910 toneladas de janeiro a setembro, alta de 36,3% em relação às 33.677 toneladas do mesmo período do ano passado. O Espírito Santo apresentou avanço significativo, com 2.689 toneladas no trimestre, frente a 1.611 toneladas no mesmo período de 2024 — variação positiva de 66,9%. No acumulado do ano, o estado soma 7.414 toneladas, um aumento de 5,9% em relação às 7.000 toneladas registradas em 2024.Em Rondônia, o recebimento totalizou 533 toneladas no trimestre, ante 490 toneladas em 2024, crescimento de 8,8%. No acumulado de janeiro a setembro, o estado soma 1.451 toneladas, leve alta de 1,1% em comparação às 1.435 toneladas do mesmo período do ano passado. Balança comercial do cacauAs exportações brasileiras de derivados de cacau (manteiga, pó e líquor) somaram US$ 135,9 milhões no 3º trimestre de 2025, ante US$ 137,8 milhões em 2024, o que representa uma leve queda de 1,4% em valor. Em volume, os embarques recuaram de 13,97 mil toneladas para 11,22 mil toneladas, uma redução de cerca de 19,7%. Anna Paula explica que “a queda em valor é menor em razão da variação cambial e do preço dos produtos neste período”. A Argentina manteve-se como o principal mercado dos derivados brasileiros, registrando aumento de 8,8% em valor: US$ 61,1 milhões (2024: US$ 56,2 milhões), mesmo com queda de 12% em volume: 5,06 mil toneladas (2024: 5,74 mil toneladas), o que indica preço médio mais elevado e alterações na composição dos produtos embarcados. Impacto das tarifasNeste período, as exportações para os Estados Unidos totalizaram US$ 32,3 milhões, frente a US$ 25,6 milhões em igual período de 2024 — uma alta de 26,3% em valor. Em volume, houve queda de 2,11 mil toneladas para 1,87 mil toneladas, já refletindo os impactos iniciais das tarifas americanas, uma redução de 11,3%, o que indica aumento expressivo no preço médio por tonelada e possível redirecionamento de embarques para produtos de maior valor agregado. O resultado do trimestre não foi pior em razão dos embarques de julho, realizados antes da entrada em vigor da nova tarifa. No recorte de agosto e setembro, período já sob a tarifa adicional de 50% sobre os produtos brasileiros, as exportações somaram US$ 17 milhões e 1,13 mil toneladas, ante US$ 18 milhões e 1,44 mil toneladas no mesmo bimestre de 2024 — o que representa queda de 5,6% em valor e redução de 21,5% em volume. A diferença reflete o início do impacto tarifário sobre a competitividade dos derivados brasileiros nos Estados Unidos, com redução nas compras e no preço médio efetivo praticado. “Os primeiros efeitos da tarifa já são evidentes. As indústrias brasileiras enfrentam cancelamentos e renegociações de contratos, e a tendência é de perda de espaço frente a países que mantêm condições tarifárias mais favoráveis. Ainda é cedo para dimensionar o impacto total, mas o cenário é preocupante: sem medidas de compensação efetivas ou acordos que restabeleçam a isonomia competitiva, o Brasil corre o risco de perder de forma duradoura um mercado importante para os derivados de cacau”, afirma a presidente-executiva da AIPC, Anna Paula Losi. As importações brasileiras de derivados de cacau somaram US$ 56,3 milhões e 8 mil toneladas no 3º trimestre de 2025 — uma queda de 25% em valor e 38% em volume frente ao trimestre anterior. Embora o montante ainda supere em 20% o registrado no mesmo período de 2024, o recuo reflete um mercado interno já abastecido e com menor demanda por derivados. O destaque foi a quase interrupção das importações de manteiga de cacau, com queda de 98% em valor e 96% em volume, acompanhada de retração nas compras de pó e pastas desengorduradas. Segundo Anna Paula Losi, “esse movimento pode ser interpretado como um efeito indireto das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos, que contribuíram para deslocar volumes ao mercado interno e acentuar a pressão sobre um setor que já enfrenta excesso de oferta e retração do consumo“. No trimestre, não houve importação de amêndoas de cacau, reforçando o quadro de ajuste nas operações industriais e a menor demanda efetiva. Mercado global segue volátilO cenário externo segue determinante para o comportamento dos preços e volumes. Segundo análise da consultoria StoneX, o mercado global de cacau permanece sob forte volatilidade e incerteza, com preços ainda muito acima das médias históricas. A análise da consultoria aponta que importantes mudanças nos fundamentos já se desenvolvem gradualmente, conforme as forças de oferta e demanda se reorganizam em resposta ao forte estímulo via preços – o que já se reflete, em parte, no mercado futuro da commodity, apesar dos riscos de oferta ainda permanecerem elevados.O desequilíbrio entre oferta e demanda persiste como o principal fator de sustentação das cotações, em um contexto marcado pela escassez de dados oficiais, já que a Organização Internacional do Cacau (ICCO) deixou de divulgar suas atualizações trimestrais em fevereiro de 2025. Com isso, o acompanhamento do mercado tem se apoiado em dados parciais de exportações, chegadas aos portos africanos e moagens industriais, o que fragmenta o acompanhamento do mercado e amplia a volatilidade das expectativas. Do lado da oferta, as atenções permanecem voltadas ao Oeste Africano. Apesar de chuvas próximas à média histórica até julho, o clima mais seco desde então vem deteriorando indicadores de umidade do solo e de saúde da vegetação, o que ainda gera dúvidas sobre o desempenho da nova safra 2025/26. Ainda assim, o breve alívio climático na primeira metade de 2025 e a possibilidade de uma recuperação das chuvas entre outubro e novembro garantem uma expectativa de melhora após dois ciclos decepcionantes, aliviando parcialmente o déficit global. Paralelamente, países como Equador e Indonésia seguem ampliando sua produção, impulsionados pelos altos preços desde 2023. O Equador, particularmente, demonstra números impressionantes de exportações, impulsionados pelo clima e pela maturidade dos investimentos no setor, devendo se colocar muito próximo da posição de segundo maior produtor global em 2025/26. Pelo lado da demanda, as moagens de cacau vêm apresentando retração em todas as principais regiões consumidoras, com quedas mais acentuadas na Europa e na Ásia. Essa tendência levanta dúvidas sobre a resiliência do consumo global de derivados do cacau, especialmente diante do aumento dos custos da matéria-prima e das margens comprimidas das principais indústrias processadoras. |

15 de outubro de 2025/
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