Internet na zona rural é caminho para inclusão

Por Cláudia Buzzette Calais

Falta de conectividade prejudica o País ante a evolução tecnológica dos equipamentos e técnicas usadas na lavoura.

O sucesso do agro brasileiro é também o sucesso da tecnologia aplicada ao campo. Foi o trabalho dos cientistas, associado a investimentos públicos e privados, que permitiu a expansão produtiva e a diversificação da agricultura nacional.

Mas há um aspecto no qual o agro brasileiro não é tão “tech” quanto deveria: a conectividade. O País tem somente 30% da sua área agrícola com sinal de internet. Mato Grosso tem menos de 15% de sua área com cobertura móvel.

A falta de conectividade no meio rural prejudica o País ante a evolução tecnológica dos equipamentos e técnicas usadas na lavoura, e é sinônimo de menor produtividade e produção menos sustentável.

Vivemos uma nova revolução verde, atrelada à tecnologia digital. O avanço da “internet das coisas” (IoT), que integra dispositivos eletrônicos, tornando-os capazes de “conversar” entre si e compartilhar dados, permite que sensores coletem dados da propriedade em tempo real. Ferramentas de inteligência artificial (IA) podem analisar dados, ajudar na gestão e orientar a tomada de decisão.

Avançar na conectividade do agro não se resume à infraestrutura de internet da zona rural, mas também investir no capital humano e capacitar o trabalhador e toda a população que participa daqueles circuitos econômicos. O maquinário mais moderno é inútil sem um operador alfabetizado digitalmente e sem constante treinamento. Conectividade no campo é também sinônimo de educação de qualidade.

Há ainda mais um motivo para o País melhorar seus índices de cobertura: deixar de investir nessa área significa aprofundar desigualdades e intensificar a crise climática. Nos seus Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável, a ONU lista a “revolução digital para o desenvolvimento sustentável” como uma das seis transformações cruciais ao cumprimento das metas estabelecidas para 2030, incluindo as de combate à fome e promoção de uma agricultura mais verde.

Os grandes players têm condições para investir em infraestrutura de conexão, mas os pequenos e médios produtores, além dos agricultores familiares, responsáveis por produzir a maioria dos alimentos que chega à nossa mesa, precisam de apoio para que possam usufruir das inovações que chegam ao campo.

Conectar o campo é tarefa imprescindível para que o Brasil concilie suas metas de desenvolvimento econômico com a proteção do meio ambiente e a valorização do agricultor familiar (Cláudia Buzzette Calais é diretora executiva da Fundação Bunge; Estadão)

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