Altas temperaturas, estiagens e incêndios causam prejuízos às lavouras de cana-de-açúcar nesta safra e devem impactar negativamente também na próxima
A exemplo do que ocorre em grande parte do Brasil, as temperaturas acima das médias históricas, os períodos de estiagens prolongadas e os incêndios prejudicaram a safra atual de cana-de- açúcar do Paraná e deve causar efeitos negativos também na próxima. O Brasil enfrenta a pior seca já registrada desde o início da atual série histórica, em 1950. Segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, o momento atual supera as estiagens de 1998 e de 2015/16, e a seca neste ano se estende por 5 milhões de quilômetros quadrados —58% do território nacional.
O prognóstico não é otimista. Todo o país sofrerá com o calor acima da média e pouca chuva nos próximos meses. Apenas na região Sul, que sofreu as enchentes históricas em abril passado, deve chover mais, aponta o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Mesmo para quem trabalha há décadas analisando fenômenos de seca, não há clareza sobre o que está acontecendo no Brasil. A comunidade de pesquisadores tenta desvendar se há relações entre o aquecimento anormal dos oceanos, o desmatamento e a estiagem prolongada atual.
Segundo o presidente da Alcopar, Miguel Tranin, a estiagem prolongada, com baixa umidade no ar, favorece muito os incêndios. “Além das queimadas criminosas, uma simples bituca de cigarro jogada pela janela do carro, ao cair na palha seca, pode virar um incêndio de grandes proporções, causando prejuízos significativos”, alerta. No dia 9 de setembro, o Estado Paraná bateu um recorde histórico ao registrar 11.115 casos ao longo de 2024, segundo dados do Corpo de Bombeiros. Até então, o topo do ranking de incêndios florestais era o de 2019, com 10.835 ocorrências, seguido por 2021 com 10.648 incidentes. A situação alarmante, que coloca em risco a agropecuária, fez com que governo estadual decretasse situação de emergência no Paraná, atendendo ao ofício enviado pelo Sistema FAEP, pedindo ações urgentes de apoio ao setor agropecuário paranaense. A medida permite ações como a autorização para os órgãos estaduais atuarem no combate aos incêndios, reconstrução das áreas atingidas e dispensa do processo de licitação a contratação de bens e serviços. Além do prejuízo ao meio ambiente e aos agricultores, os incêndios podem gerar multas aos produtores rurais, por isso, o presidente interino do Sistema FAEP, Ágide Eduardo Meneguette orienta que o produtor rural, em caso de incêndio em sua propriedade, faça o Boletim de Ocorrência, para ter segurança jurídica. Tranin comenta que a extensão real do prejuízo aos produtores de cana ainda está sendo avaliada e depende muito de quando se dará a retomada das chuvas em toda a região canavieira do Estado, especialmente com relação a próxima safra. Além da menor produtividade das lavouras de cana-de-açúcar, que não se desenvolveram devido à estiagem, as queimadas aumentam os prejuízos ao atingirem lavouras fora do ponto ideal de colheita, diminuindo o rendimento e alterando toda a logística de colheita, ou ao atingirem as lavouras em fase de rebrota, atrasando todo o processo e a próxima safra, ou demandando até o replantio. Isso sem falar quando há perda da qualidade da matéria-prima, nos casos em que, ante um grande número de incêndios, as usinas demorem para moer a cana queimada. O Corpo de Bombeiros elenca algumas dicas que o produtor rural pode adotar em sua propriedade, como a manutenção do terreno, com a retirada de materiais que possam alastrar o fogo. Além disso, a orientação é fazer aceiros, separando as zonas de mata das áreas residenciais e agricultáveis. Outro ponto importante é manter equipamentos de combate ao fogo, como abafadores, enxadas, rastelos e mangueiras. Como a maior parte das usinas estão localizadas próximas a pequenos municípios, e boa parte destes sequer contam com estrutura para apagar incêndios, dependendo de municípios maiores próximos, são as usinas que, em muitos casos, acabam dispondo de suas estruturas e pessoal de prevenção de incêndio para combater os focos existentes. “As usinas estão sempre em prontidão, ajudando até mesmo cidades maiores uma vez que suas equipes já contam com a pratica de entrar e combater incêndios em lavouras, mesmo áreas que não são de cana, e até florestas. Elas fazem um trabalho sensacional no combate e nas campanhas de prevenção”, comenta o presidente da Alcopar. (Jornal Paraná) |