Por Bruno Boghossian
Leilão anulado e medida provisória devolvida são sintomas de uma ação política atabalhoada.
No último mês, o governo abriu a caixa de ferramentas para encarar dois problemas. Primeiro, Lula anunciou um leilão para segurar o preço do arroz após as enchentes gaúchas. Depois, a equipe econômica bolou uma medida que deveria cobrir um buraco bilionário em seu cofre.
Algumas horas foram capazes de fazer o presidente e seus auxiliares voltarem todas essas casas. Com a anulação da compra de arroz e a devolução da medida provisória que deveria compensar a prorrogação da desoneração da folha, o governo girou em falso.
Os dois casos são sintomas de uma ação política atabalhoada. Pouco depois dos temporais que inundaram o Rio Grande do Sul, o governo correu para preparar um leilão de importação de arroz com o objetivo de amortecer a variação de preços. O processo acabou correndo com empresas sem capacidade técnica e sob conflito de interesses.
A decisão de anular a compra manteve o fantasma dos preços e criou duas encrencas que o governo não tinha. O primeiro é o desgaste de um episódio que transita entre incompetência, improviso e suspeita de jogo sujo. O segundo é a dívida que Lula contraiu ao prometer que mandaria arroz barato para as prateleiras.
A pancada que o governo levou no caso da desoneração, por sua vez, pode até ser debitada na conta do lobby pesado da indústria e do agronegócio, mas o time de Lula deveria ter entrado em campo conhecendo o fôlego dos adversários.
A Fazenda e o Planalto editaram uma medida provisória que mordia benefícios generosos sem medir o tamanho da gritaria desses setores. Para completar, ficaram sem rede de proteção no Congresso porque não negociaram o texto com os presidentes da Câmara e do Senado.
A derrubada do veto das saidinhas havia sido amarga, mas o governo absorveu a derrota com o argumento de que sua prioridade era a pauta econômica. Os dois golpes sofridos nesta terça-feira (11) sugerem que o Congresso conservador não é o único problema de Lula (Folha)
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Farsul/Arroz: “Governo só bagunçou o mercado”
O economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul, Antonio da Luz, disse ao Broadcast Agro que o governo só “bagunçou o mercado” com o leilão de compra de arroz, cujo cancelamento foi anunciado nesta terça-feira, 11/6.
“O governo, quando interveio no mercado, criou uma alta no preço. Quando ele disse para as pessoas que podia faltar arroz, as pessoas saíram para o supermercado para se abastecer. O preço subiu ao consumidor”, disse o economista.
“E quando ele disse que vai fazer um leilão de 1 milhão de toneladas, o preço do (arroz no) Mercosul explodiu. E quando disse que não compraria do Mercosul, compraria de fora, o preço na Tailândia e no Vietnã subiu. Olha só que loucura, oferta e demanda. Só o governo não entende isso”, declarou ele.
“Agora, com a saída do governo do mercado, pelo menos temporariamente, não sei se eles vão voltar ou não. Acho que não, embora eles digam que sim, eu acredito que as coisas vão voltar à normalidade. Porque o mercado está todo bagunçado. O governo só bagunçou”, afirmou Antonio da Luz. Segundo ele, o leilão foi um “desrespeito” com o produtor rural do Rio Grande do Sul.
O leilão para compra de arroz foi cancelado depois de reportagem do Estadão levantar suspeitas sobre empresas que venceram o certame. Uma delas, por exemplo, é uma mercearia de Macapá cujo nome fantasia é “Queijo Minas” (Broadcast)