Editorial Folha
- Após dezenas de conferências da ONU, avanço na contenção das emissões e do aquecimento é insatisfatório
- Apesar das dificuldades, sem o multilateralismo das COPs, o mundo estaria ainda mais distante de atingir a meta do Acordo de Paris
A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), aberta nesta segunda (10) em Belém, é mais uma oportunidade diplomática para conter o efeito estufa. Mas, levando em conta as estatísticas e as últimas edições da reunião, nota-se que a mobilização global está aquém do desafio e que acordos sobre pontos controversos parecem distantes.
O Acordo de Paris (2015) instituiu a meta de manter o aumento da temperatura média global abaixo de 2ºC até o final deste século —preferencialmente limitá-lo a 1,5°C— e reduzir emissões de carbono provenientes da queima de combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural).
As emissões, porém, só crescem. Segundo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) divulgado na terça (4), elas subiram 2,3% em 2024, chegando ao recorde de 57,7 gigatoneladas de CO² .
Para conter o aquecimento em 2°C no fim do século, as emissões em 2030 teriam de cair 25% em relação ao registrado em 2019, e 40% para atingir a marca de 1,5°C.
O Acordo de Paris estabeleceu que os 196 signatários devem apresentar contribuições nacionalmente determinadas (NDCs), planos para reduzir emissões renovados a cada cinco anos.
Até setembro, prazo estabelecido pela ONU, só 64 países haviam entregado suas NDCs. No primeiro dia da COP30 o número chegou a 110 —e faltam grandes poluidores como Índia, Irã e Arábia Saudita, sem contar a retirada dos EUA do acordo por Donald Trump em janeiro.
A UNFCCC (braço climático da ONU) analisou 86 dessas NDCs e, segundo a entidade, elas reduziriam as emissões verificadas em 2019 em só 12% até 2035. Assim, estima-se que o mundo chegará a 2100 com aquecimento de 2,8°C.
A pauta obrigatória da COP30 é a definição de indicadores para medir o progresso das ações de adaptação climática, importante para manter o pragmatismo.
Os principais entraves são a lucratividade do setor de combustíveis fósseis e o financiamento para adaptação a mudanças climáticas em países em desenvolvimento por nações ricas, que fica debilitado num contexto de conflitos globais e ascensão de protecionismos econômicos.
As três COPs anteriores foram sediadas por nações petrolíferas: Azerbaijão (2024), Emirados Árabes Unidos (2023) e Egito (2022).
Na do ano passado, foi estabelecido financiamento anual US$ 300 bilhões, pífio diante do US$ 1,3 trilhão ao ano almejado.
Apesar das dificuldades, o multilateralismo é a melhor forma de conter o aquecimento global. Sem as conferências da ONU, o mundo estaria ainda mais distante da meta do Acordo de Paris —sem contar seu papel indutor de articulação de setores privados e da sociedade civil.
Espera-se que a edição na maior floresta tropical do planeta consiga superar obstáculos e o contexto adverso para ao menos limitar a escalada da temperatura global e seus efeitos deletérios (Folha)







