Preços iniciaram dia em queda, mas subiram após adiamento de tarifas.
O comportamento dos preços futuros dos grãos na bolsa de Chicago nesta segunda-feira (3/2) confirmou que, com Donald Trump na presidência dos EUA, não deve haver espaço para monotonia no mercado, e volatilidade deve ser o nome do jogo. Após iniciar o dia em queda em decorrência da decisão do governo Trump de aplicar tarifas de 25% sobre produtos de Canadá e México e de 10% sobre itens chineses, milho, soja e trigo fecharam com valorização na bolsa americana.
A mudança de rota aconteceu depois que a presidente do México, Claudia Sheinbaum, anunciou, no início da tarde, que os EUA decidiram adiar por um mês a aplicação das tarifas gerais de 25% a produtos mexicanos. Isso foi possível depois que os dois países chegaram a alguns acordos na área de segurança.
À noite, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, também anunciou, em rede social, o adiamento das tarifas ao país por pelo menos 30 dias. Ele afirmou que teve uma “boa conversa com o presidente Trump”, na qual ficou acertado que o Canadá vai tomar novas medidas para garantir a segurança da fronteira com os EUA.
Preços
Com o anúncio de Sheinbaum, o contrato de soja para março fechou em alta de 1,56% em Chicago, a US$ 10,5825 por bushel. Além do adiamento da aplicação das tarifas ao México, a oleaginosa foi favorecida pela valorização do óleo de soja, que subiu diante da eventual restrição nas compras de óleo de canola do Canadá pelos EUA.
“As cotações subiram quando o mercado começou a entender que este primeiro momento de tensões políticas dos EUA com outros países aparentemente pode ser contornado. O México conseguiu um adiamento. Trump está em conversas com o [primeiro-ministro do Canadá, Justin] Trudeau, e deve conversar com a China. Com isso o mercado melhorou o humor, mas podemos esperar grande volatilidade nos próximos dias”, afirmou Luiz Fernando Roque, coordenador de inteligência de mercado na Hedgepoint Global Markets.
Clima
O clima ruim nas principais regiões produtoras de soja da Argentina e o atraso na colheita da oleaginosa no Brasil também ajudaram a sustentar os preços, segundo a consultoria Granar.
Paulo Molinari, consultor sênior da Safras & Mercado, observou que, sem retaliação dos países afetados por novas tarifas contra o milho e a soja dos EUA, o mercado está mais atento ao clima na Argentina e à divulgação de relatórios de acompanhamento das safras. No fim da semana passada, a Bolsa de Cereales estimou produção de 49,6 milhões de toneladas de soja na Argentina — a previsão inicial era de 52 milhões de toneladas — , e 49 milhões de toneladas de milho na safra 2024/25 (contra 47 milhões de toneladas iniciais).
A tendência para os próximos pregões, segundo os analistas, é de alta volatilidade, por conta da política de Trump e do clima.
O anúncio do adiamento da imposição de tarifas ao México — principal mercado para o milho americano — também fez o cereal se recuperar em Chicago. O contrato para março, que começou o pregão com queda de 1,14%, fechou com alta de 1,4%, cotado a US$ 4,8875 por bushel.
O trigo, que caía 0,45% durante a manhã de ontem, teve alta de 1,3%, para US$ 5,6675 por bushel na bolsa de Chicago. O México também é um importante mercado para o trigo brando dos EUA. A redução nas exportações do cereal pela Rússia foi outro fator que impulsionou as cotações, segundo a consultoria IKAR. Também influenciou a previsão de limitação das vendas do país até o meio do ano.
Perspectivas
Para Luiz Carlos Pacheco, da consultoria TF AgroEconômica, a segunda-feira foi apenas “mais uma onda das ‘trumpulências’, que vão e voltam, não dando a previsibilidade necessária ao mercado”. Segundo o analista, é difícil saber o que virá pela frente ou o que passa pela cabeça do presidente americano, mas suas ações seguem fortalecendo o dólar e “isso é negativo para todos os preços de Chicago”. O motivo é que o dólar alto tira a competitividade dos produtos americanos no mercado externo.
Para o analista, o milho não deve apresentar grande queda porque, ao menos por enquanto, os Estados Unidos não perderão seu principal comprador, o México. Já a soja, em sua avaliação, deve continuar a cair por causa da supersafra brasileira.
Na segunda-feira, a Céleres elevou sua estimativa de produção para o Brasil, de 170 milhões para 174 milhões de toneladas. Já o trigo deve ter valorização em Chicago e no Brasil, devido à quebra de safras no Mar Negro e no país (Globo Rural)