Comércio de soja tornou-se o sinal mais claro do estresse vivido pelo comércio agrícola dos EUA
Organização defende que os Estados Unidos precisam diversificar mercados compradores.
A China está cada vez mais reduzindo suas compras de produtos agrícolas dos Estados Unidos em meio à disputa comercial com a Casa Branca, abrindo espaço para outros fornecedores, como o Brasil. A derrocada das exportações de soja americanas ao país asiático é o exemplo mais claro disso, conforme avaliação feita pela American Farm Bureau Federation (Federação Americana de Escritórios Agrícolas, em inglês), principal organização agrícola dos EUA, com seis milhões de membros.
“Mesmo quando os agricultores americanos produzem safras com preços competitivos, a China tem reduzido gradativamente sua dependência dos Estados Unidos, voltando-se para o Brasil, a Argentina e outros fornecedores”, disse a federação, em comunicado publicado em seu site.
De acordo com a organização, o comércio de soja tornou-se o sinal mais claro do estresse vivido pelo agronegócio dos EUA. Entre janeiro e agosto deste ano, as exportações de soja americana à China atingiram 5,9 milhões de toneladas de janeiro. Um ano antes, foram 26,8 milhões. Em contrapartida, os envios de soja do Brasil somaram 68 milhões de toneladas no período.
Além do Brasil, os sojicultores argentinos aproveitaram a isenção temporária das tarifas de exportação do país para negociar com os chineses, minando as chances de reação da demanda por soja dos Estados Unidos.
“O colapso do comércio de soja em 2025 é a continuação dessa trajetória mais ampla. Mesmo quando os agricultores americanos produzem uma safra competitiva, a ausência de demanda chinesa consistente deixa uma lacuna nos mercados de exportação difícil de preencher. Para os agricultores, a mensagem é clara: depender de um único grande comprador traz riscos e desenvolver novos mercados é essencial para sustentar a renda agrícola”, afirmou a Farm Bureau.
A entidade pontuou, ainda, que as importações de soja da China não estão diminuindo, “na verdade, atingiram níveis recordes, mas a maior parte dessa demanda agora está sendo atendida por concorrentes”.
Ainda segundo a Farm Bureau, essa mudança na dinâmica no comércio agrícola entre EUA-China não se limita à soja. O gigante asiático não comprou milho, trigo ou sorgo dos EUA este ano, e as exportações de carne suína e algodão continuam em níveis reduzidos.
O Departamento de Agricultura americano (USDA) projeta que as exportações agrícolas do país para a China totalizem US$ 17 bilhões em 2025, uma queda de 30% em relação a 2024 e mais de 50% em relação a 2022. Em 2026, as exportações para a China devem cair para apenas US$ 9 bilhões, o menor nível desde a guerra comercial de 2018.
“Com os EUA importando mais produtos agrícolas do que exportando, os agricultores enfrentam menos oportunidades de comercializar sua produção no exterior. Esse excesso de oferta pressiona os preços para baixo, reduz as margens de lucro e aumenta a pressão financeira nas comunidades rurais”.
Diante dos desafios de escoar a safra para o principal importador de commodities do mundo, a entidade que representa os agricultores dos EUA disse que o país precisa expandir acesso a outros mercados, em países do sudeste asiático, América Latina e África. A federação também reafirma a importância de se firmar acordos bilaterais.
“O contexto mais amplo mostra que isso não se trata apenas de uma interrupção de curto prazo, mas sim de parte de uma tendência mais longa de redução das compras chinesas. Embora o comércio com a China possa se recuperar em alguns anos, o panorama geral aponta para a diversificação de mercados como o melhor caminho a seguir. Os agricultores precisarão de acesso a novos mercados para sustentar suas rendas e gerenciar riscos em um ambiente de comércio global mais volátil”, frisou a entidade (Globo Rural)