O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) emitiu nota oficial nesta quarta-feira (20/11) rechaçando o comentário feito em redes sociais pelo presidente da rede de supermercados Carrefour da França, Alexandre Bompard, de que a gigante do varejo não mais iria comercializar carnes provenientes do Mercosul (veja abaixo).
“O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) reitera a qualidade e compromisso da agropecuária brasileira com a legislação e as boas práticas agrícolas, em consonância com as diretrizes internacionais. Diante disso, rechaça as declarações do CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, quanto às carnes produzidas pelos países do Mercosul”, traz a nota da pasta.
Em postagem publicada em redes sociais, Bompard reproduz uma carta enviada ao presidente dos sindicatos agrícolas da França, Arnaud Rousseau. No texto, ele diz que, em solidariedade aos agricultores do país frente à proposta de acordo de comércio livre entre a União Europeia e o Mercosul, o Carrefour “quer formar uma frente unida com o mundo agrícola e assume o compromisso de não vender carne do Mercosul”.
O presidente do Carrefour da França ainda afirma que espera “inspirar” outras empresas do setor agroalimentar e criar um movimento mais amplo de solidariedade no país, em favor das carnes de origem francesa.
Ministério defende produção de carne do Brasil
Na nota comentando a postagem, o órgão brasileiro ressalta o trabalho do sistema de defesa agropecuária brasileiro, que garantiria ao país o posto de maior exportador de carne bovina e de aves do mundo, mantendo relações comerciais com aproximadamente 160 países.
“Atendendo aos padrões mais rigorosos, inclusive para a União Europeia, que compra e atesta, por meio de suas autoridades sanitárias, a qualidade e sanidade das carnes produzidas no Brasil há mais de 40 anos”, continua o texto.
O ministério acrescenta que o Brasil possui uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo e atua com transparência no setor.
“Apresentou à União Europeia propostas de modelos eletrônicos que contemplam as etapas iniciais do Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR), demonstrando compromisso com uma produção rastreável e transparente, sendo que os modelos privados de rastreabilidade são amplamente reconhecidos e aprovados pelos mercados europeus”.
O Mapa também lamenta que “questões protecionistas influenciem negativamente o entendimento de consumidores”, sem critérios técnicos que justifiquem as declarações do presidente da empresa francesa.
“O posicionamento do Mapa é de não acreditar em um movimento orquestrado por parte de empresas francesas visando dificultar a formalização do Acordo Mercosul – União Europeia, debatido na reunião de cúpula do G20 nesta semana. O Mapa não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros”.
Por fim, a nota oficial reitera o compromisso da agropecuária brasileira com qualidade, sanidade e sustentabilidade dos alimentos aqui produzidos, e que contribuem com a segurança alimentar e nutricional de todo o mundo.
Abiec se posiciona sobre declaração do CEO do Carrefour
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) lamentou, em nota, a declaração do CEO do Carrefour. “Tal posicionamento vai contra os princípios do livre mercado e é contraditório, vindo de uma empresa que opera cerca de 1.200 lojas no Brasil, abastecidas majoritariamente com carnes brasileiras, reconhecidas mundialmente por qualidade e segurança”.
O texto afirma que, ao adotar um discurso protecionista em defesa dos produtores franceses, a rede de supermercados fragiliza seu próprio negócio e expõe o mercado europeu a riscos de abastecimento, já que a produção local não supre a demanda interna.
“O Brasil é líder global em exportação de carne bovina, com o maior rebanho comercial do mundo, produção sustentável e rigorosos controles sanitários que garantem qualidade para mais de 160 países. Nos últimos 30 anos, a pecuária brasileira aumentou sua produtividade em 172%, reduzindo a área de pastagem em 16%, demonstrando compromisso com eficiência e sustentabilidade”, segue o texto da associação.
A nota da Abiec afirma que decisões como essa não prejudicam apenas o Brasil, mas também a França, que dependeria de diversas commodities brasileiras. “Em um mundo de desafios crescentes para a segurança alimentar global, o diálogo e a cooperação são mais urgentes do que nunca.”
ApexBrasil defende produção do Mercosul
Também por nota, a ApexBrasil considerou “lamentável” a declaração de Bompard. “Em nossa missão de promover as exportações brasileiras, temos participado dos esforços do governo e do setor privado que tornaram o Brasil e seus parceiros do Mercosul os principais fornecedores de proteína animal do mundo, assegurando a segurança alimentar de populações dos mais diversos países”, diz o texto da entidade.
A ApexBrasil lembra que o país segue os mais rigorosos padrões sanitários e ambientais para garantir a qualidade da proteína animal brasileira que é vendida ao exterior.
“Muito estranhamos tal movimento por parte da gigante do varejo francês, em meio a pressões protecionistas em seu país, no momento em que Mercosul e União Europeia estão próximos de fechar o ambicionado acordo que formará o maior mercado do planeta, beneficiando enormemente as populações dos países signatários”, traz o texto.
A entidade conclui a nota afirmando que “é preciso que sejam rechaçadas as suspeitas infundadas e de viés protecionista lançadas sobre a carne do Brasil e dos demais países do Mercosul” (Canal Rural, 20/11/24)
Carrefour decide não comprar carne do Mercosul em meio a protestos de agricultores franceses
Ministério da Agricultura do Brasil critica decisão e fala em protecionismo; operação brasileira da empresa continua comprando de produtores locais.
Em mensagem publicada na sua conta oficial no Instagram, o presidente mundial do Carrefour, Alexandre Bompard, afirmou que a rede francesa não vai oferecer nos seus pontos de venda carne produzida em países do Mercosul –aliança comercial formada por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, da qual também participam como países associados Bolívia, Chile, Colômbia, Peru e Equador.
“Em solidariedade ao mundo agrícola, o Carrefour se compromete a não vender carne do Mercosul”, informou o executivo no post, em que trazia a reprodução de uma carta enviada por ele a Arnaud Rosseau, empresário francês, presidente da FNSEA (Federação Nacional dos Sindicatos dos Agricultores).
Procurado pela Folha, o Carrefour Brasil informou, por meio da sua assessoria de imprensa, que “nada muda nas operações do país” e que a rede continua comprando carne de produtores locais.
Nesta semana, agricultores franceses têm feito protestos contra o acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, que veem como ameaça. A França lidera a resistência à assinatura do pacto, que criaria a maior zona de livre-comércio do mundo e começou a ser desenhado em 1999.
O acordo criaria um mercado comum de 780 milhões de pessoas e um fluxo de comércio de até R$ 274 bilhões em produtos manufaturados e agrícolas.
Durante a reunião do G20 no Rio de Janeiro, o presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que o país “não está isolado” em sua oposição ao tratado comercial. “Por ter sido negociado há muitas décadas, o texto se baseia em condições prévias que estão desatualizadas”, disse o chefe de Estado francês, que lançou a ideia de “repensar a relação com essa sub-região”.
Na carta, o presidente mundial do Carrefour afirma “entender o desespero e a raiva dos agricultores diante do projeto de acordo de livre-comércio” e do “risco de inundar o mercado francês com uma produção de carne que não respeita suas exigências e normas.”
“Esperamos inspirar outros atores do setor agroalimentar e dar impulso a um movimento mais amplo de solidariedade, que vá além do setor do varejo, que já lidera a luta a favor da origem francesa da carne que comercializa”, afirmou.
O Ministério da Agricultura e Pecuária brasileiro divulgou nota nesta quarta-feira (20) em que critica a decisão da companhia.
“O posicionamento do Mapa é de não acreditar em um movimento orquestrado por parte de empresas francesas visando dificultar a formalização do acordo”, afirmou o ministério.
Outras entidades criticaram a carta do executivo do Carrefour. “Seguimos os mais rigorosos padrões sanitários e ambientais, que garantem sua qualidade em todas as operações de venda de proteína brasileira ao exterior —qualidade reconhecida por mais de 160 países, inclusive pela União Europeia”, disse a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).
A ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) classificou as declarações como “infelizes e infundadas”.
Vários governos europeus, como os da Espanha e Alemanha, são favoráveis pacto, que abriria as portas para maiores exportações de carros, máquinas e produtos farmacêuticos da UE.
O primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, pediu na cúpula do G20 que o acordo com o Mercosul seja concluído “de uma vez”. “Depois de mais de vinte anos [de negociações], precisamos finalizar de uma vez o acordo de livre comércio”, defendeu.
Os fazendeiros europeus, por outro lado, listam diversas preocupações, como a quota de carne a ser importada pelo bloco sob uma tarifa básica de 7,5%. Alegam que a competição seria desleal, pois a produção na América do Sul seria mais leniente em termos sanitários, ambientais e sociais.
Uma auditoria da União Europeia, publicada no mês passado, aponta que o Brasil não consegue dar garantias de que sua produção de carne não faz uso de um hormônio de crescimento banido no continente há décadas. A itens desse tipo se somam as considerações ambientais de praxe, bem conhecidas do público brasileiro.
O Ministério da Agricultura afirma que “reitera a qualidade e compromisso da agropecuária brasileira com a legislação e as boas práticas agrícolas, em consonância com as diretrizes internacionais” (Folha)