Presidente da Abiove, André Nassar, disse que não deve haver crescimento significativo do país na demanda por oleaginosa.
A demanda por biocombustíveis vem sendo cada vez mais importante para manter o crescimento do plantio de soja no Brasil, em um momento em que a China, o maior importador global, passa a adotar uma estratégia de não elevar muito suas importações da oleaginosa como fazia antes, avaliou nesta quarta-feira (19/6) o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar.
O presidente da Abiove, associação que reúne tradings e processadoras, considera que a China parece ter intenção de se manter no patamar de importações totais de 100 milhões de toneladas de soja de todas as origens, já que busca depender menos de importações.
Isso significa que não deverá haver grandes crescimentos na demanda como no passado, que foram fundamentais para o avanço da oleaginosa no Brasil.
“Vamos admitir que não tivesse demanda por biocombustíveis, eu não vejo a soja crescendo 1 milhão de hectares por ano [no Brasil] como aconteceu nos últimos anos para atender o chinês”, disse Nassar a jornalistas, após participar de um seminário do setor promovido pela Argus.
“Não vejo isso mais, a gente provavelmente iria enxergar uma certa redução”, não fossem os biocombustíveis, acrescentou.
A soja é a principal matéria-prima para a produção de biodiesel, com fatia de mais de 70%, enquanto novos tipos de biocombustíveis avançados, que podem usar o óleo de soja no processo, tendem a manter a demanda elevada no futuro.
Da produção brasileira de óleo de soja de 11 milhões de toneladas estimada para 2024, cerca de 6 milhões de toneladas devem ser destinadas à produção de biodiesel, após a mistura do biocombustível no diesel ter passado de 12% para 14% em 2024. Ainda segundo os cálculos de Nassar, outras cerca de 3 milhões de toneladas da produção de óleo de soja serão para atender a demanda por óleo de cozinha e o restante para exportações e estoques.
Já a China adquiriu no ano passado 74,47 milhões de toneladas de soja em grão do Brasil, de um recorde exportado pelo país de 101,86 milhões de toneladas, segundo dados do governo brasileiro. O país asiático comprou o restante de sua demanda principalmente dos Estados Unidos, o segundo exportador global atrás do Brasil.
NOVOS PROJETOS
Segundo Nassar, a exportação de óleo de soja do Brasil em 2024 deverá cair para 1,1 milhão de toneladas, de 2,4 milhões de toneladas em 2023, por conta da maior demanda por biodiesel.
“O que a gente enxerga é que o óleo de soja para o mercado interno acaba prevalecendo sobre a exportação”, destacou.
O executivo citou ainda novos projetos de empresas que entraram no setor de biodiesel, como o grupo Potencial, que antes atuava no setor de combustíveis. Lembrou ainda da Três Tentos, que veio da distribuição de insumos e cresceu para originação de grão antes de se tornar produtora do biocombustível.
Pelo projeto Combustível do Futuro, que aguarda votação de senadores, a demanda por biodiesel pode subir ainda mais, à medida que a mistura poderá passar de 14% para 25% no futuro.
“Para [atingir] isso, tem que dobrar [o processamento de soja], esmagar 100 milhões de toneladas de soja, hoje esmaga-se 54 milhões”, disse Nassar, lembrando que o aumento da mistura geralmente é gradativo no Brasil.
Nassar citou um cálculo da indústria que indica que seriam necessários investimentos de mais de 52 bilhões de reais para atender uma mistura de 25% até 2035, com a construção de novas esmagadoras e fábricas de biodiesel.
O presidente da Abiove destacou também que o processamento da soja produz, além do óleo, grandes volumes de farelo de soja, importante matéria-prima da ração animal.
NOVA SAFRA
Segundo ele, ainda que as margens dos agricultores não estejam tão boas atualmente, o Brasil deverá ver algum crescimento de área plantada na nova safra 2024/25, cujo plantio começa em meados de setembro.
Mesmo assim, o Brasil tem o potencial de ter uma safra “enorme”, à medida que a expectativa é de uma recuperação nas produtividades, após a seca e inundações históricas em Mato Grosso e Rio Grande do Sul, respectivamente, em 2023/24.
“Não é que a soja vai parar de crescer, mas o produtor vai tentar fazer safra grande… deve crescer um pouco a área”, disse, ressaltando que a associação ainda não tem uma previsão.
“Se a gente tiver a mesma área em ano de clima bom, vamos produzir 170 milhões de toneladas, este ano produzimos 152 milhões, mas essa era uma safra para quase 170 milhões”, afirmou ele.
Uma produção deste tamanho no maior produtor e exportador global teria impactos no mercado.
“Imagina 170 milhões de toneladas de soja. Ano que vem vamos ter uma produção enorme.” (Reuters)