A pressão da União Europeia e do Mercosul para concluir as negociações comerciais até o final do ano causou descontentamento no setor.
Os agricultores voltaram a protestar em toda França nesta segunda-feira (18/11), à medida que a perspectiva de um acordo comercial entre os países europeus e do Mercosul acentua o descontentamento com a concorrência estrangeira que alimentou uma crise agrícola no início deste ano.
A pressão da União Europeia e do Mercosul para concluir as negociações comerciais de longa duração até o final do ano reacendeu a ira na França.
No entanto, o clima na França piorou ainda mais, depois que as colheitas foram prejudicadas por chuva, surtos de doenças nos rebanhos e uma eleição parlamentar que atrasou as medidas prometidas para acalmar os protestos anteriores, que levaram os agricultores a bloquear rodovias por semanas.
“Temos as mesmas exigências de janeiro, nada mudou”, disse Armelle Fraiture em sua fazenda de gado leiteiro ao norte de Paris. “Precisamos fazer com que o governo entenda que já é o bastante.”
Enquanto os agricultores enfrentam importações mais baratas, regulamentações onerosas e rendimentos escassos, um acordo com o Mercosul representaria uma amarga “cereja no bolo”, afirmou Arnaud Rousseau, chefe do principal sindicato de agricultores da França, o FNSEA, à BFM TV no domingo. Dezenas de milhares de fazendas na França, o maior produtor agrícola da UE, estão em dificuldades financeiras, segundo ele.
Os agricultores franceses temem que um acordo com o Mercosul traga mais carne bovina, frango, açúcar e milho do Brasil e da Argentina, países que, segundo eles, usam pesticidas nas plantações e antibióticos de crescimento no gado que são proibidos na Europa.
Os agricultores realizarão manifestações na segunda e terça-feira, principalmente em frente a prédios do governo, como parte dos protestos planejados até meados de dezembro, disse Rousseau.
Antes da ação nacional, um pequeno grupo de agricultores com tratores bloqueou um lado de uma rodovia perto de Paris na noite de domingo, exibindo slogans como “Não vamos importar a agricultura que não queremos”. No domingo, o presidente Emmanuel Macron reiterou sua oposição a um acordo com o Mercosul, conforme proposto.
Mas com a França sem aliados da UE nas negociações do Mercosul e com as queixas rurais sendo profundas, as autoridades podem ter dificuldades para apaziguar os agricultores. “Sabemos que estamos saindo (para protestar), mas não sabemos quando voltaremos”, disse Fraiture (Reuters)