Ivonei Dalla Corte, diretor da Sempre Agtech diz que bioinsumos deve avançar
O mercado de insumos biológicos, ou bioinsumos, no Brasil enfrenta um paradoxo: cresce a necessidade de soluções sustentáveis, mas a adoção pelos agricultores ainda esbarra em desafios culturais e econômicos. “O consumidor exige sustentabilidade, e o agricultor precisa se adaptar para manter sua competitividade global. Mas ainda há um longo caminho para que ele compreenda o impacto dos bioinsumos em sua produtividade e custo de produção”, afirma Ivonei Dalla Corte, diretor comercial da Sempre Agtech, criada em 2008 e com sede em Chapecó (SC), para atuar no melhoramento genético de plantas e desenvolvimento de biotecnologias. Desde 2017, a agtech faz parte da Rede Endeavor, uma organização que apoia empreendedores de alto impacto.
“Não basta usar bioinsumos, é preciso entender o conceito de manejo regenerativo. Quem adotar essa visão antes terá vantagens competitivas. O mercado está evoluindo, e a revolução biológica ainda está no começo”, diz ele. “Os bioinsumos são uma ferramenta poderosa, mas precisam ser inseridos dentro de um sistema de produção eficiente. Sem isso, os resultados serão limitados. A agricultura do futuro será biológica e o caminho para isso exige mudanças de mentalidade e de manejo”. A agtech estima que em 2025 sua receita deve chegar a R$ 60 milhões e que a transição para uma agricultura mais voltada para os biológicos exige, também, adaptação. Atualmente, as suas nove soluções biológicas são aplicadas em cerca de 1 milhão de hectares de lavouras.
A aposta da Sempre Agtech está na projeção para este setor. A CropLife Brasil (CLB), entidade que trabalha com ciência das plantas, atuando nas áreas de defensivos agrícolas, sementes, biotecnologia e bioinsumos, estima que os bioinsumos agrícolas – que inclui produtos como agentes de controle biológico, inoculantes, bioestimulantes e solubilizadores –, tenha movimentado entre US$ 13 bilhões e US$ 15 bilhões em 2023. E que deve acelerar com um mercado de até US$ 45 bilhões até 2032, o que representa uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) entre 13% e 14% no período de 2024 a 2032.
Por exemplo, a Mordor Intelligence calculou para 2024 um mercado de biofertilizantes da ordem de US$ 3,27 bilhões, com potencial de alcançar US$ 5,23 bilhões até 2029, principalmente os produtos à base de micorrizas e rizóbios. Esses dois tipos de microrganismos – basicamente fungos e bactérias –, desempenham papéis essenciais na melhoria da saúde do solo e na sua nutrição das plantas.
Para um mundo em busca de soluções mais próximas da natureza, a agricultura regenerativa tem sido apresentada como um modelo de produção eficiente e ambientalmente adequado. Mas Dalla Corte diz que a adoção dessas práticas ainda enfrenta resistência porque há uma percepção de que bioinsumos representam um custo adicional.
“Os produtores não veem os bioinsumos como investimento de longo prazo. É um problema de educação do mercado. Mas os dados mostram que um manejo adequado reduz custos, melhora a produtividade e aumenta a resiliência do solo”, afirma ele. “Muitos produtores ainda tomam decisões com base na tradição e não na eficiência.”
Outro entrave atual é a situação financeira da agricultura brasileira, que também impacta na adoção dos bioinsumos. “Quando há dificuldades financeiras, o produtor corta gastos e os bioinsumos entram na lista de cortes porque não são percebidos como essenciais. Mas esse pensamento limita a produtividade futura e mantém um modelo de manejo que se mostra insustentável.”
A resistência do agricultor, segundo o executivo, também está ligada à falta de clareza sobre os impactos da biologia do solo. “A agricultura brasileira historicamente foca na análise química do solo, mas há outros fatores igualmente importantes. A biologia e a física do solo influenciam diretamente na produtividade. Se não houver equilíbrio nesses fatores, o uso de qualquer insumo, seja químico ou biológico, será menos eficiente”, afirma.
A comparação com outras regiões do mundo também ilustra os desafios do Brasil. “Nos Estados Unidos, há uma padronização maior das lavouras, o que facilita a adoção de novas tecnologias. No Brasil, a diversidade climática e de solos exige soluções específicas para cada região. Isso torna o processo mais complexo, mas também abre oportunidades para um desenvolvimento tecnológico direcionado.”
Mesmo assim, a estimativa é de crescimento do mercado brasileiro em 2025, segundo a Associação Nacional de Promoção e Inovação da Indústria de Biológicos (ANPII Bio), que teve uma participação ativa na elaboração e promoção da Lei de Bioinsumos no Brasil, aprovada no final do ano passado. Ela representa um marco para o setor, porque cria um ambiente mais favorável para a produção e comercialização ao reduzir burocracias e incentivar investimentos em inovação.
Embora não divulgue seus dados financeiros, não por acaso, afirma Dalla Corte, a Sempre Agtech ampliou sua participação, triplicando suas vendas no último ano, resultado do trabalho de uma equipe de cerca de 100 profissionais em campo para orientar e monitorar a utilização dos produtos. “Sem o suporte técnico adequado, os bioinsumos podem não oferecer o retorno esperado”, afirma. “Bioinsumos são organismos vivos e precisam ser aplicados corretamente. Pequenos erros, como o preparo inadequado da calda ou a aplicação em horários errados, comprometem o resultado. Por isso, trabalhamos diretamente com o agricultor para garantir eficiência.”, destaca Dalla Corte.
O que é a próxima geração de biológicos
Mas isso somente não basta. A agtech tem na agulha pesquisas, principalmente na busca por antecipar tendências. Um dos próximos avanços do setor será a comercialização de metabólitos biológicos. “Hoje, vendemos microrganismos vivos que precisam se multiplicar no solo para gerar benefícios. O próximo passo é entregar diretamente os metabólitos, eliminando essa etapa e acelerando os ganhos para o produtor”, explica Dalla Corte.
Esse avanço permitirá que os bioinsumos tenham ação mais rápida e previsível. “Ainda conhecemos apenas uma pequena fração do potencial dos bioinsumos. Nos próximos anos, novas tecnologias vão mudar completamente a forma como os insumos biológicos são usados na agricultura”, afirma.
As pesquisas para o desenvolvimento dessa nova geração de bioinsumos já estão em andamento. “A ideia é oferecer ao agricultor uma solução mais prática e eficiente, reduzindo a dependência de insumos químicos tradicionais. Esse é o futuro da agricultura sustentável.”
Presença no Brasil e expansão internacional
A Sempre Agtech tem forte presença no Cerrado, a maior região produtora do Brasil, e está ampliando sua atuação em outras áreas. “O Cerrado concentra boa parte da produção nacional, então é natural que tenhamos um foco maior nessa região. Mas estamos expandindo nossa presença para outras regiões agrícolas do país”, explica Dalla Corte.
Além do Brasil, a empresa já opera na Argentina e no Paraguai. “O Paraguai se assemelha à safrinha brasileira, enquanto a Argentina tem um perfil mais próximo do clima temperado dos Estados Unidos. Cada mercado exige uma abordagem específica, e estamos estruturando nossa atuação para crescer nesses países”, afirma.
A agtech já realizou negócios pontuais com países como Venezuela e algumas nações africanas. No entanto, a expansão internacional ainda não é uma prioridade estratégica. “Nosso foco principal é fortalecer nossa posição na América Latina antes de ampliar para outros continentes” (Forbes)