A nova geração, muitas vezes, não deseja seguir os passos dos pais como produtores, optando por serem investidores e isso exige uma visão adaptativa para a sucessão familiar
“Sem um planejamento estratégico, o processo de sucessão pode custar de 6% a 8% do patrimônio familiar. Muitas famílias não estão preparadas para essa transição, o que pode gerar incertezas e conflitos até internos”, afirma Rafael Sperotto, advogado especialista em transações internacionais no setor do agronegócio e sócio Ag4UP.
As empresas familiares no Brasil, correspondem a mais de 80% das empresas ativas de acordo com o IBGE e entre essas, 70% chegam à segunda geração, 10% alcançam a terceira geração e apenas 3% sobrevivem até a quarta geração, isso demonstra a importância de pensar a sucessão familiar como um tema estratégico dentro do planejamento das companhias.
O agronegócio, setor que representa mais de 21% da riqueza econômica do Brasil, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), enfrenta desafios específicos na gestão da sucessão familiar. “A complexidade dos perfis de investidores, desde pequenos produtores até grandes corporações, exige uma abordagem bem planejada, levando em consideração tanto os aspectos legais quanto os financeiros e operacionais”, comenta.
Além de minimizar os riscos econômicos da transição, o planejamento sucessório tem papel crucial na preservação do legado familiar e no alinhamento das expectativas entre os herdeiros. “A nova geração, muitas vezes, não deseja seguir os passos dos pais como produtores, optando por serem investidores. Isso exige uma visão adaptativa para a sucessão”, alerta.
Sperotto enfatiza que a sucessão familiar vai além da simples transferência patrimonial, envolve também a transferência de poder decisório e de responsabilidades dentro da gestão da empresa rural. “É importante que todos os membros da família sejam alinhados em relação às expectativas e à gestão dos bens, especialmente considerando que a terra continua sendo o maior ativo das famílias rurais.”
Com a crescente profissionalização das fazendas e o impacto das fusões e aquisições no setor, uma sucessão familiar ganha importância estratégica. A falta de planejamento pode comprometer o futuro do negócio familiar, responsável por uma parcela significativa da produção de alimentos no Brasil, como mandioca (87%), feijão (70%) e pecuária leiteira (60%).
Consultoria Especializada e Alinhamento Familiar
A contratação de consultorias e assessorias especializadas, como a Ag4UP, pode simplificar esse processo. Com vasta experiência e conhecimento das questões jurídicas e contábeis envolvidas, essas empresas são capazes de adaptar o plano às especificidades de cada negócio. “A cultura da empresa — seus valores, tradições e características únicas — deve ser preservada ou ajustada conforme necessário, garantindo que uma transição seja suave”, acrescenta
Além disso, Sperotto ressalta que o momento da sucessão é uma oportunidade para o empresário rural se preparar para o futuro, especialmente diante das inovações tecnológicas que transformaram o campo. “Novas técnicas de manejo, agricultura de precisão, telemetria e sistemas de monitoramento são algumas das inovações que precisam ser consideradas e incorporadas no plano de sucesso.
Embora a idade média dos agricultores brasileiros seja de 46,5 anos, segundo a Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA), os jovens têm mostrado interesse crescente no setor. “Eles não podem ter a mesma experiência prática, mas estão mais conectados com a tecnologia, o que pode ser crucial para o sucesso do negócio familiar no futuro”, aponta.
No entanto, ele alerta para os desafios comuns no processo de sucessão, como falta de interesse da nova geração, rivalidades familiares e resistência do gestor atual em abrir mão do poder. “Esses obstáculos precisam ser discutidos abertamente para evitar conflitos e garantir que uma transição seja bem-sucedida”.
O planejamento sucessório deve ser tratado como um processo, com etapas claras de identificação e preparo do sucessor, transferência de poder e gestão compartilhada entre as gerações.
Caso o interesse em continuar o negócio não esteja presente, outras opções como arrendamento ou venda de propriedade também deverão ser consideradas com cautela e análise prévia. “A decisão de dividir o patrimônio em partes iguais, por exemplo, pode ser desastrosa se não for bem planejada, levando à falência ou à venda forçada das terras”.
A importância do levantamento de informações essenciais para a gestão da fazenda, como custos, receitas, histórico de safras e ativos imobilizados. “Sem dados concretos, é impossível tomar decisões estratégicas que garantam a sustentabilidade e o crescimento da empresa”, finaliza.
Rafael Sperotto é brasileiro, advogado, empreendedor e sócio da Ag4UP Consultoria estratégica para investimentos no agronegócio e sócio na Tax Group Inteligência e Tecnologia Tributária, é especialista em Direito Internacional pelo Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) e construiu seu portfólio atuando em diferentes frentes, tendo início no segmento bancário, mas desenvolvendo-se no Agronegócio e no Direito Internacional, consolidando assim sua carreira.