Açúcar: Dez coisas que podem afetar o mercado de açúcar

Por Arnaldo Luiz Corrêa

Sempre que viajo a trabalho gosto de xeretar as livrarias dos aeroportos em busca de novidades. Uma coisa que me chama a atenção são os títulos bem sugestivos dos livros que resumem qualquer assunto em número de dicas ou passos. “10 Dicas para Tornar-se um Milionário antes dos 30 (Mesmo que você tenha 40)”, “Guia Prático para Manter a Calma em Reuniões Chatíssimas”, “50 Maneiras de Parecer Inteligente sem Abrir a Boca”, “O Guia Definitivo para Perder Peso Comendo Pizza”. Na espera de um voo atrasado na sala de embarque, que é sempre um lugar chatíssimo, é saudável que a mente da gente procure algo melhor para fazer do que ficar observando as pessoas reclamando do atraso.

Aí me veio a ideia de escrever sobre as 10 coisas que podem afetar o mercado de açúcar nesse momento. Por força do título, parece até que existem apenas 10 coisas. Deve ter muito mais, mas o importante aqui é não sair do contexto proposto.

  1. Recuperação Econômica Global: A Ascensão dos Preços – Com a recuperação econômica global, a demanda por açúcar tende a aumentar. Países emergentes, especialmente na Ásia, estão vendo uma recuperação acelerada, o que pode levar a um aumento no consumo de açúcar. À medida que as economias se fortalecem, a demanda por alimentos e bebidas açucaradas tende a subir, impulsionando os preços. Afinal, quem não gosta de uma sobremesa doce depois de um longo dia de trabalho? Temos comentado aqui que o aumento do consumo mundial virá da Ásia (Índia, Paquistão, Indonésia) e n ritmo de 1.2% ao ano, nossa estimativa é que a Índia poderá deixar de ser um exportador de açúcar muito em breve.
  2. Problemas Climáticos no Brasil: O Impacto do Tempo Seco – O clima é sempre um grande fator no mercado de açúcar. E o clima está de cabeça pra baixo. O Brasil, maior produtor mundial de açúcar, está enfrentando condições climáticas adversas. A seca prolongada está afetando a produtividade das lavouras de cana-de-açúcar, resultando em menores safras. Essa redução na oferta pode levar a um aumento nos preços, já que a disponibilidade de açúcar diminui. E não há nada como um pouco de drama climático para apimentar os mercados.
  3. Diminuição na Produção da Índia: Exportações em Risco – A Índia, outro grande produtor de açúcar, também enfrenta desafios na produção. Problemas como o atraso das monções e a política governamental de apoio aos preços internos podem reduzir as exportações. Menos açúcar no mercado global significa preços mais altos. Se for verdade, como dizem alguns analistas, que a Índia tem um estoque de passagem de 9 milhões de toneladas de açúcar, alguma coisa muito errada tem ocorrido na apuração desse estoque de passagem. Como ele é composto pelo estoque inicial mais a produção menos o consumo interno menos as exportações e menos o que foi destinado à produção de etanol, para chegarmos a um estoque de 9 milhões de toneladas as chances são de que o erro está na produção ou no consumo.
  4. Interesse de Compra da China: Um Piso de Segurança – A China, grande consumidora de açúcar, tem demonstrado um interesse crescente em aumentar suas reservas. O interesse de compra chinês proporciona um piso de segurança para os preços. Se a demanda chinesa continuar forte, isso pode sustentar os preços em níveis elevados, independentemente de outros fatores. É quase como se a China estivesse dizendo: “Não se preocupe, estamos aqui para garantir que os preços não caiam muito.” Mas, não acredito que este seja o caso.
  5. Inovações na Produção de Biocombustíveis: Diversificação do Uso da Cana – A crescente demanda e recuperação dos preços do etanol está influenciando o mercado de açúcar. Com mais cana sendo desviada para a produção de etanol, a oferta de açúcar pode diminuir. Essa diversificação no uso da cana cria uma pressão adicional sobre os preços do açúcar.
  6. Superprodução na Tailândia: Oferta em Excesso – A Tailândia, um dos maiores exportadores de açúcar, está prevendo uma colheita recorde este ano. A superprodução pode levar a um excesso de oferta no mercado global, pressionando os preços para baixo. Imagine um tsunami de açúcar inundando o mercado – os preços não têm para onde ir a não ser para baixo.
  7. Aumento das Exportações Indianas: Concorrência no Mercado – Embora a produção indiana possa enfrentar desafios, as políticas governamentais incentivando as exportações podem aumentar a oferta no mercado global. Se as exportações indianas ocorrerem, isso pode adicionar pressão baixista sobre os preços. Nesse momento, não acreditamos que possam ocorrer exportações de açúcar por parte da Índia.
  8. Retração na Demanda por Alimentos Processados: Adoçantes Alternativos – A crescente conscientização sobre a saúde e a mudança de preferências dos consumidores para adoçantes alternativos estão impactando a demanda por açúcar. Se essa tendência continuar, a demanda por açúcar pode diminuir, levando a uma queda nos preços. Parece que o açúcar está enfrentando uma competição acirrada de seus primos mais saudáveis. Esse um ponto discutível, pois o HFCS (xarope de milho) não é mais saudável, mas certamente é um forte competidor do açúcar na indústria de refrigerantes.
  9. Força do Dólar: Preços Relativos Mais Altos – A valorização do dólar americano torna as commodities denominadas em dólar, como o açúcar, mais caras para compradores estrangeiros. Isso pode reduzir a demanda internacional e pressionar os preços para baixo. Um dólar forte pode ser bom para os turistas americanos, mas não tanto para os produtores de açúcar.
  10. Avanços Tecnológicos na Agricultura: Aumento da Eficiência – A adoção de novas tecnologias agrícolas, como variedades de cana-de-açúcar mais produtivas e práticas agrícolas mais eficientes, pode aumentar a produção global de açúcar. Se a oferta continuar a crescer devido a esses avanços, os preços podem cair.

O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira com o vencimento outubro/24 encerrando a semana cotado a 18.48 centavos de dólar por libra-peso, uma queda de 19 pontos no acumulado da semana (pouco mais de 4 dólares por tonelada).  Na semana passada, ousei dizer que já havíamos visto o preço mais baixo do mercado no ano. Errei. O mercado pouco se importou com minhas previsões e quebrou a mínima do ano de 17.95 centavos de dólar por libra-peso e foi estrear novas mínimas: 17.86 centavos de dólar por libra-peso. Agora sabemos o porquê.

Os fundos surpreenderam o mercado e de acordo com os dados publicados nessa sexta-feira, o COT (Commitment Of Trades), relatório dos comitentes, mostrou que os fundos especuladores estão vendidos mais de 45,000 lotes e claramente essa virada de mão contribuiu para a queda das cotações em NY, ajudadas – é claro – pela fraqueza do real frente ao dólar que encerrou a semana a R$ 5,6668 uma queda de 1.21% em relação à semana passada.

Nosso analista técnico Marcelo Moreira diz o seguinte sobre o mercado de açúcar: O vencimento Out-24 testou e respeitou o piso da banda de Bollinger dos 50 dias a 17,70 centavos de dólar por libra-peso. Negociou na mínima da semana a 17,86 centavos de dólar por libra-peso, reverteu negociando na máxima da semana a 18,74 encerrou a 18,42 centavos de dólar por libra-peso. O suporte continua a 17,70 centavos de dólar por libra-peso e as resistências estão a 18,67/19,08/19,83 centavos de dólar por libra-peso. Já o vencimento Julho-25 rompeu o piso da banda de Bollinger dos 50 dias (negociando na mínima da semana a 17,25 centavos de dólar por libra-peso) e encerrou a semana a 17,56 centavos de dólar por libra-peso. O próximo suporte continua sendo o piso da banda de Bollinger dos 50 dias a 17,52 centavos de dólar por libra-peso. As próximas resistências estão a 17,94 e 18,38 centavos de dólar por libra-peso.

Quer adquirir o livro “Commodities Sem Fronteiras”? Você encontra na Livraria Martins Fontes, em São Paulo, ou pelo link abaixo. Boa leitura. https://oseulivreiro.com.br/produto/commodities-sem-fronteiras/ (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting)

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