Café: Mercado em consolidação. Até quando?

Por Marcelo Fraga Moreira

O vencimento Set-24 encerrou a semana praticamente inalterado @ 199,95 centavos de dólar por libra-peso x 199,10 centavos de dólar por libra-peso na semana anterior. O “fechamento inalterado” voltou a deixar o mercado apreensivo. Entre a mínima e a máxima da semana o Set-24 trabalhou com uma amplitude de +/-2.000 pontos (fechamento anterior / máxima / mínima / nova máxima da semana / fechamento respectivamente @ 199,10 / 199,90 / 191,00 / 202,15 / 199,95 centavos de dólar por libra-peso). Após atingir a mínima da semana @ 191,00 centavos de dólar por libra-peso na terça-feira os “comprados” conseguiram defender suas posições e “empurraram” o mercado novamente para a região dos +200 centavos de dólar por libra-peso.

Os fundos + especuladores continuam “brigando e defendendo suas posições”. Segundo a última posição do CFTC* os fundos + especuladores reduziram a posição comprada em -5.998 lotes e continuam comprados em +46.541 lotes. Entre o dia 19 de abril e 08 de maio alguns “fundos + especuladores” reduziram a posição comprada em -10.000 lotes, colocando muito resultado no bolso (aproximadamente +6.000 pontos no movimento de alta e +5.000 no movimento da baixa)!

A briga entre os “comprados x vendidos” deverá continuar firme e forte até o próximo vencimento das opções contra o vencimento Julho-24 no dia 12 de junho. A posição em aberto nas opções continua interessante nas opções de venda “Put*” com aproximadamente +27.000 lotes em aberto (entre os strikes +185 / +220 centavos de dólar por libra-peso) e com volume ainda interessante no “strike*” +190 centavos de dólar por libra-peso.

Os gestores dos “fundos + especuladores” que adicionaram posições compradas acima dos +220/+210 centavos de dólar por libra-peso através da venda de opções de venda “put*” ou comprando futuros/opções aguardando um eventual “repique” já devem estar ficando sem dormir. No curto prazo, creio que enquanto a primeira onda de frio sinalizando eventual risco de geadas não chegar o mercado deverá voltar a testar os +190 centavos de dólar por libra-peso “colocando” esse mar de opções e venda “put*” no dinheiro.

A média-móvel dos +100 dias continua sendo um “divisor de águas”. Se o mercado confirmar o seu rompimento poderemos ver novos “stops” sendo acionados com o Julho-24 e Set-24 podendo voltar a negociar novamente no intervalo +170/+180 centavos de dólar por libra-peso.

Do lado fundamental por enquanto nada mudou. A colheita do café tipo robusta continua firme com rendimentos aquém do esperado. Provavelmente o mercado vai sentir o reflexo dessa quebra apenas durante o último trimestre de 2024 / primeiro trimestre 2025 com a redução nas exportações e dificuldades na originação para café com peneira acima da 17/18 (tanto no café tipo robusta quanto no arábica).

A colheita do café tipo arábica já começou em algumas regiões (em função da maturação precoce decorrente das floradas irregulares ocorridas no período set-nov-24). No café tipo arábica deveremos ter também problemas com qualidade e originação para cafés graúdos.

Noticias vindas do Vietnam continuam indicando um certo alivio com a chegada das chuvas – creio que em muitas regiões os prejuízos para a próxima safra já são irreversíveis.

A Cecafé* ainda não publicou o fechamento dos embarques do mês de abril-24 (creio que deverá ficar próximo dos +4,50 milhões de sacas). Segundo as projeções da Cecafé* (atualizadas até o último dia 08 de maio) as exportações no mês de maio-24 deverão ficar novamente entre +3,50 / +4,00 milhões de sacas. O Brasil deverá encerrar o ano safra julho-23/junho-24 exportando entre +46,35 / +46,70 milhões de sacas!

Os preços no mercado interno continuam interessantes (tanto para o café tipo robusta quanto para o café tipo arábica) com preços firmes para tanto para o robusta – ao redor dos +800/+850 R$/saca- quanto para o café tipo arábica -entre +1.050 / +1.200 R$/saca.

Sigo recomendando ao produtor para se proteger e não comprometer sua safra futura sem realizar a compra de um seguro, de preferência a compra de uma opção de venda “Put*” onde o produtor “tem o direito mas não a obrigação” em vender no preço mínimo garantido pela opção. O único risco do produtor passa a ser a variação do “basis*/desconto/ágio” – acordado entre o comprador x vendedor no momento da negociação – reduzindo em muito o seu eventual risco/prejuízo!

A situação no estado do Rio Grande do Sul deve servir de exemplo/lição/atenção para o produtor dos outros estados brasileiros e para todas as culturas (grãos, café, açúcar, boi, citrus, celulose, etc). Imagine a situação do produtor de soja/milho que “travou” a venda da sua produção “sem ter colhido/armazenado” e agora não vai ter produto para entregar! Será que no contrato de venda existia alguma “cláusula de Força Maior”? Se o produtor tivesse negociado com a cooperativa/exportadora a compra de uma opção de venda “Put*” fixando apenas o “basis*” e se comprometendo a entregar apenas o volume que viesse a colher, então esse produtor estaria agora protegido pois não seria obrigado a entregar nenhuma tonelada para a cooperativa/exportadora.

Creio que o setor do agro brasileiro precisa aprender com o desastre sofrido por muitas famílias produtoras do Rio Grande do Sul. Os bancos, seguradoras, tradings precisam promover junto ao produtor a negociação da sua safra com a compra de um seguro (contra problemas climáticos / garantia de preço mínimo através da compra de opção de venda “Put*” / “contra hedge” através da compra de uma opção de compra “call*” / contratos de “compra e venda” onde o produtor não pode / não deveria vender mais do que +50%/+70% da sua safra antecipada).

Se o governo decidir “ajudar” o Estado do Rio Grande do Sul abrindo os cofres sem cuidar do equilíbrio fiscal poderemos ter nova desvalorização do R$ frente ao US$ (podendo voltar rapidamente para os +5,50 R$/US$) e volta da inflação dos alimentos.

Como sempre, Protejam-se!

Creio que teremos dias difíceis pela frente!

Estão abertas as inscrições para o Curso Avançado de Futuros Opções e Derivativos – Commodities Agrícolas, presencial, em São Paulo, dias 25 (terça-feira) e 26 (quarta-feira) de junho. Esta provavelmente será a única oportunidade desse ano de você fazer um curso que virou referência no mercado e já foi atendido por mais de 3.000 profissionais. Para mais informações contate priscilla@archerconsulting.com.br (Marcelo Fraga Moreira é um profissional há mais de 30 anos atuando no mercado de commodities agrícolas, escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting)

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