Brasil: Economia fica estagnada com crises políticas e baixo investimento

60 anos é muito tempo para fazer um país mudar de patamar economicamente. No caso da Coreia do Sul, foi mais que o necessário para fazer a nação sair de uma atividade econômica de US$ 3,96 bilhões em 1960 para alcançar o auge de mais de US$ 1,82 trilhão em 2021, segundo dados do Banco Mundial.

A Coreia do Sul era um país miserável que buscava se recuperar da Guerra da Coreia, encerrada em 1953. A partir da década seguinte, passou por mudanças para tentar impulsionar a produtividade e sair da pobreza. Assim como o Brasil, uma das estratégias adotadas foi a política de substituição de importações – mas houve um grande diferencial.

“No Brasil, por ser uma economia e um país grande, muitas vezes o setor privado se sentia confortável para explorar apenas o mercado doméstico, deixando as exportações para um segundo momento”, explicou Alexandre Uehara, coordenador de Estudos e Negócios Asiáticos da ESPM.

“Quando o Brasil não estava bem e a economia brasileira não tinha uma demanda suficiente, aí pensava em exportar. No caso da Ásia, não. Eles sempre estavam olhando para as exportações”, pontuou Uehara.

A política de substituição de importação voltada ao mercado externo não foi utilizada apenas pela Coreia, mas permeou boa parte dos países asiáticos que hoje são altamente desenvolvidos tecnologicamente, como Japão, Singapura, Taiwan e Vietnã, além daquele que hoje rivaliza com os EUA como a maior economia do planeta: a China.

A busca por tecnologia de ponta, alinhada aos incentivos estatais e ao investimento em educação para qualificar a mão de obra, fizeram com que as economias asiáticas conseguissem produzir gigantes multinacionais. No caso da Coreia, conhecidas do público brasileiro como Hyundai, Samsung e LG.

“Já no nosso caso, as condições, o grau de abertura do mercado brasileiro, a sobrevivência de empresas ineficientes é muito maior do que no caso dos asiáticos. E essa sobrevivência dos ineficientes puxa para baixo a média no Brasil”, afirmou Otaviano Canuto, ex-diretor do FMI (Fundo Monetário Internacional).

Não é de um dia para outro que um país consegue resultados econômicos satisfatórios. Para isso, os especialistas ressaltam ser necessário forte investimento em educação e tecnologia – algo que o Brasil deixou em segundo plano.

“Não foi feito investimento na área de ciência e educação necessários para que a gente pudesse estar colhendo frutos hoje. Esses investimentos são geracionais. Investe-se na década de 1980 para colher em 2010. E não foi isso que o Brasil fez”, pontuou Gustavo Macedo, professor do Insper.

Segundo Macedo, o caso do Brasil se assemelha mais ao de países como México e Paquistão, que não terminaram de desenvolver um parque industrial tecnológico, do que de países como Irlanda, Polônia e as economias asiáticas, cujo planejamento industrial deu resultados. E a divergência de caminhos teve um início claro.

Declínio brasileiro

Apesar do diferencial considerável na produtividade das economias de Brasil e Coreia do Sul, a realidade nem sempre foi essa. Na verdade, os dois países enfrentavam problemas semelhantes, como dívidas e a tão temida inflação.

“Existem muito mais semelhantes entre a experiência coreana e a brasileira entre o período de 1950 a 1980. Eram duas economias com base agrícola. No caso da Coreia, toda a indústria havia ficado com a Coreia do Norte, então a do Sul sai da guerra civil muito empobrecida, e tem que fazer um esforço muito grande de desenvolvimento”, afirmou Lavínia Barros de Castro, professora do Ibmec-RJ e assessora da presidência do BNDES.

No Brasil, o crescimento médio anual do PIB (Produto Interno Bruto) de 1961 a 1980 foi de 7,44%; na Coreia do Sul, de 9,45%. Ou seja, embora o crescimento econômico do país asiático tenha sido maior, para um país com dimensão continental, o Brasil seguia de vento em popa.

Mas houve um desalinho no percurso desde então, acarretado em grande parte pelo modelo inflacionário sistêmico.

“A inflação na Coreia era muito elevada em relação à média asiática. A inflação média desse período era de 19,9%, enquanto a do Brasil, 35%. Então eram dois países com problemas de transformação de economias agrícolas para industrial, muito orientadas pelo Estado, que vão usar instrumentos muito semelhantes e ambos com problema inflacionário”, acrescentou Lavínia.

“Mas tem uma diferença: o Brasil, através da correção monetária, vai perpetuar a inflação, enquanto a Coreia vai combater e não criar esses mecanismos.”

De 1981 a 2024, o crescimento médio anual do PIB sul-coreano foi de 5,89%. O de outras economias em ascensão também superaram os 5% nesse período, como Singapura (5,91%), Irlanda (5,11%), Vietnã (6,37%) e China (8,97%). Já o Brasil estagnou: de lá para cá, a economia brasileira cresceu apenas 2,2%.

Os anos 1980 foram um divisor de águas para todas as economias do globo, muito em razão das consequências da crise do petróleo do fim dos anos 1970 e da recessão que atingiu o mundo posteriormente.

“No Brasil, o setor público absorveu o ônus da crise da dívida externa do setor privado. E o desenrolar lento da resolução da crise da dívida, com renegociação, substituição, tudo isso acabou resultando em uma crise fiscal brasileira. Então, a crise de dívida externa no caso brasileiro virou uma crise fiscal”, explicou Otaviano Canuto.

“Na Coreia, o sistema bancário intermediário destes investimentos era estatal. A primeira coisa que fizeram foi privatizar o sistema bancário. Jogaram de volta o ônus da dívida externa para setor privado, que por sua vez gerava receitas em dólares”, continuou.

O boom das economias asiáticas

As economias asiáticas passaram por um processo de ajuda mútua a partir da segunda metade do século XX, que permitiu a países miseráveis se tornarem centros tecnológicos hoje em dia – que nunca aconteceu na América Latina.

O desenvolvimento da região teve como alicerce o Japão, tido como a principal economia asiática pós-Segunda Guerra Mundial. Com os Estados Unidos buscando ganhar influência em razão da Guerra Fria, houve ajuda financeira ao país derrotado, que rapidamente se reergueu.

Mas o impulso foi tanto que a mão de obra japonesa começou a ficar cara, obrigando o país a buscar alternativas para manter a produtividade em alta. A solução foi contar com seus vizinhos e, para isso, ajudá-los com a tecnologia de ponta e o investimento em educação para qualificar a mão de obra.

A partir daí, outros países começaram o movimento de produção para o mercado externo, em outras palavras, para exportação.

“No caso das economias asiáticas, muitas delas são de países pequenos, com pequenas populações e, de fato, para ganhar competitividade tem que olhar para o mercado internacional”, declarou Alexandre Uehara, da ESPM.

“No Brasil, por ser uma economia e um país grande, muitas vezes o setor privado se sentia confortável para explorar apenas o mercado doméstico, deixando as exportações para um segundo momento.”

Atualmente Taiwan é um grande exportador de semicondutores, enquanto Singapura e o Vietnã de máquinas e aparelhos eletrônicos. Em suma, o continente soube se organizar para que grande parte dos países conseguisse uma fatia do bolo no novo mundo tecnológico globalizado.

“Quando o Brasil não estava bem, a economia brasileira não tinha uma demanda suficiente, aí, sim, pensava em exportar. No caso da Ásia, não. Eles sempre estavam olhando para as exportações”, concluiu (CNN Brasil)

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