Na Associação Brasileira do Agronegócio, ele será a voz comunitária de gigantes do setor, entre exportadores, instituições financeiras e organizações, como Basf, Bayer, Bosch, Cargill, JBS, John Deere, Mosaic, Santander, SLC e Tereos.
Em entrevista exclusiva à Forbes Brasil, Ingo Plöger, novo presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), eleito na manhã desta segunda-feira (27), fala sobre o papel do Brasil na geopolítica global, os riscos do protecionismo, a importância das alianças estratégicas, a integração produtiva latino-americana e os desafios da liderança em um mundo em transformação.
Com uma trajetória marcada pela defesa da cooperação e da inovação, Plöger acredita que o futuro do agronegócio depende da capacidade de construir pontes — entre países, setores e gerações — em vez de barreiras. Para ele, o Brasil precisa transformar seu peso agrícola em influência política e ética, unindo produtividade, sustentabilidade e visão de longo prazo. “Somos um país extraordinário, mas precisamos marchar mais em conjunto do que em separado”, afirma Plöger, que na gestão encerrada era vice-presidente e assume novo posto em janeiro.
Integram a ABAG, empresas e instituições como AGCO, Agroceres, Agropalma, Algar, B3, Banco do Brasil, Basf, Bayer, Bosch, Cargill, Cooxupé, Corteva, Cosan, EY, Jacto, JBS, John Deere, Mosaic, OCB, Santander, Sicredi, SLC, Sonda, Syngenta, Tereos, Yara, Zilor, entre outros.
O engenheiro mecânico Ingo Plöger, 76 anos, é formado pela Technische Universität Darmstadt, na Alemanha, e pós-graduado em Ciências Econômicas e do Trabalho pela Technische Universität München. Empresário, consultor e mentor de empresas e instituições na América Latina e na Europa, atua como presidente do capítulo brasileiro do Consejo Empresarial de América Latina (CEAL) e como presidente da IP Desenvolvimento Empresarial e Institucional (IPDES), consultoria voltada ao desenvolvimento corporativo, institucional e à internacionalização. Integra conselhos de grandes empresas, como Robert Bosch GmbH e Embraer, além de participar de entidades de integração econômica entre o Brasil, a Europa e a América Latina. Confira:
Como a formação na Alemanha influenciou sua forma de pensar e atuar em negócios no Brasil e na América Latina?
Existe uma diferença conceitual entre o ensino europeu e o brasileiro. Na Alemanha, você é colocado diante de temas e problemas para resolver, e o caminho que percorre para chegar a uma solução é tão valorizado quanto o resultado final. No Brasil, a ênfase costuma estar apenas na resposta certa.
Lá aprendi a pensar de origem ao destino, valorizando o processo. Durante meus estudos, participei de um grupo de inovação e criatividade no Instituto Gapelli, ligado à universidade. Era uma linha de fronteira do imaginário, onde se construíam cenários de forma lúdica e criativa — algo muito à frente do tempo.
Quais experiências pessoais marcaram sua visão sobre liderança e desenvolvimento econômico?
Uma parte veio de casa. Meu pai valorizava muito as instituições, e isso me marcou. Desde cedo aprendi que a governança e a responsabilidade são fundamentais para entregar resultados.
A liderança estudantil também me fascinava. Tanto no Brasil quanto na Alemanha, vivi em tempos em que a democracia era testada, o que me ensinou a lidar com o contraditório e a compreender a importância das instituições e da alternância de poder.
O que o motivou a criar o IPDES (IP Desenvolvimento Empresarial e Institucional) e a se dedicar à integração empresarial latino-americana?
A paixão pela América Latina nasceu na minha iniciação política estudantil, nos anos 1960, quando participei de movimentos no Brasil e da Society for International Development. Desde então, percebi o quanto temos de potencial de integração e de complementariedade na região.
Como o sr. define liderança em um mundo em transformação, com tantas crises e rupturas?
A liderança hoje é muito exigida. Vivemos um tempo em que cada cidadão, com um celular na mão, se torna protagonista. A força das redes é instantânea, e isso pressiona os líderes a tomarem posições rápidas.
O desafio é equilibrar essa instantaneidade com compromissos de médio e longo prazo. Liderar hoje exige tolerância, preparo e a capacidade de conjugar informação, comunicação e valores.
Quais são os valores que mais norteiam suas decisões e parcerias?
Cada vez mais acredito em alianças. O mundo está fragmentado, e alianças criam contrapesos e ampliam visões. Na ABAG, temos buscado uma atuação integrada entre quem produz, transforma, transporta e consome.
Essa visão de conjunto é o que fortalece o agro. Trabalhamos por um propósito maior: abastecer a população, reduzir a fome e promover justiça social, cuidando do meio ambiente e valorizando o ser humano.
Que papel acredita que o empresariado latino deve assumir diante das transições, em especial a ambiental?
O agricultor, em qualquer parte do mundo, vive com incertezas. A agricultura tropical, como a brasileira, tem uma vantagem: várias safras por ano e enorme capacidade de adaptação.
O brasileiro é naturalmente inovador. As novas fronteiras da produção — da genética ao uso de dados — exigem conhecimento e colaboração. Ainda estamos no início desse processo, mas com grande potencial.
O sr. fala com frequência sobre “integração produtiva latino-americana”. O que ainda impede que ela aconteça plenamente?
O principal desafio é ordenar a agricultura tropical e compartilhar conhecimento. Temos instituições como a Embrapa e empresas que desenvolvem tecnologias adaptadas à nossa realidade. Além disso, há biomas que ultrapassam fronteiras políticas, como Amazônia, Pantanal e Pampa.
Essa natureza compartilhada favorece a cooperação. Hoje, um produtor de algodão da Bahia pode trocar experiências com um do Paraguai. Isso vale também para culturas como sorgo, gergelim e soja. A integração é natural quando se entende essa unidade regional.
Qual o papel do Brasil nesse contexto e que setores podem liderar esse movimento?
O Brasil tem um papel de liderança natural por sua escala, diversidade e capacidade de inovação. O modelo de integração lavoura-pecuária-floresta é uma das maiores contribuições que podemos oferecer à América Latina. Ele mostra que é possível conciliar produtividade e sustentabilidade.
Como enxerga o equilíbrio entre soberania nacional e interdependência global nas cadeias produtivas?
É um tema delicado e atual. A história mostra que ceder parte da soberania pode ser um avanço civilizatório. A União Europeia é um exemplo: países que antes se enfrentavam em guerras construíram uma convivência pacífica com uma moeda comum e políticas compartilhadas.
No Mercosul, o rodízio de presidências dá voz a países menores, o que é um progresso. O risco está no retorno do nacionalismo extremo. Ser patriota é diferente de ser nacionalista. O patriotismo constrói, o nacionalismo divide. Liderar hoje é saber ouvir e recompor os extremos para criar convergência.
O sr. destaca com frequência a importância do agro na geopolítica global. Que riscos e oportunidades o setor brasileiro enfrenta hoje?
O maior risco é o protecionismo, que nasce do medo da escassez. Quando um país tem fome, cresce a chance de conflito. O comércio de alimentos ainda é pequeno no mundo, menos de 10% é de fato intercambiado. Muitos países preferem garantir o abastecimento interno, e isso restringe o comércio. A soberania alimentar é importante, mas não pode se tornar um pretexto para isolar mercados.
O agronegócio brasileiro está preparado para competir num cenário de novas barreiras tarifárias e exigências ambientais?
Sim. Para competir com quem é muito bom, temos que ser melhores. O brasileiro é competitivo por natureza. Nosso setor tem mostrado isso: deixamos de importar algodão para nos tornarmos exportadores. O mesmo acontece com culturas novas, como o gergelim. A competição é positiva quando é justa. O agro brasileiro gosta de desafios e responde bem a eles.
O que falta para o Brasil converter seu peso agrícola em maior influência global?
Precisamos de coordenação e de um discurso de longo prazo. O país precisa de uma estratégia que una eficiência, sustentabilidade e protagonismo global. A força existe, falta consolidar a narrativa e fortalecer as instituições que a sustentam.
Que conselho daria ao Brasil hoje, como urgência?
O Brasil precisa se unir em torno de propósitos de longo prazo. É um país extraordinário, mas tem se perdido nas diferenças. Pessoas com experiência devem falar mais aos jovens, estimular sonhos e inspirar novas lideranças a pensar no coletivo. É tempo de reduzir o ego e caminhar juntos.
Qual foi o conselho mais valioso que recebeu em sua carreira?
Nunca perder a esperança e manter Deus na frente.
Que livros, autores ou pensadores o inspiram hoje?
Minhas leituras mudam com o tempo. Além da Bíblia, gosto de Chesterton, Saint-Exupéry e James Lovelock. Releio Vitor Hugo, Santo Agostinho, Aristóteles e Platão. Valorizo também os brasileiros — Machado de Assis, Ariano Suassuna, Barbosa Lima Sobrinho — e admiro figuras como a Princesa Isabel, mulher de enorme coragem.
Se pudesse conversar com o Ingo de 30 anos atrás, o que diria a ele?
Trabalhe menos, converse mais, dê mais tempo ao tempo, busque sabedoria e sonhe mais alto.
O que mais o motiva atualmente e o que ainda quer realizar?
Tenho muitos planos. A Nina (nr: esposa Nina Plöger) e eu queremos conhecer melhor o Brasil, conversar com mais pessoas, aprender com outras culturas. Estamos fazendo cursos juntos e seguimos curiosos. A vida ainda oferece muito a descobrir (Forbes)





