Como governo, Congresso e setor produtivo lidam com anúncio de Trump

Lula e presidentes da Câmara e do Senado falam em ‘reciprocidade’, mas colocam como prioridade negociar para evitar que os 50% sobre as exportações aos EUA entrem em vigor no dia 1º

Lula promete retaliação aos EUA e diz que Trump estaria preso no Brasil por Capitólio

Ainda perplexos com o anúncio de tarifa de 50% sobre os produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos, líderes do governo, do Congresso e do setor produtivo mostraram rara convergência nesta quinta-feira, 10/7, em relação à postura diante do governo de Donald Trump.

Apesar de o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e o da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), terem defendido a reciprocidade, prevalece a vontade de resolver o conflito sem ter de ir para o confronto. No ambiente político, destoou um bate-boca entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o governador de São Paulo,Tarcísio de Freitas.

Leia a seguir em quatro pontos como foi o dia seguinte ao tarifaço — o mais duro entre todos os que constaram nas cartas da Casa Branca a diferentes parceiros comerciais, nesta semana — e quais são os próximos passos apontados pelas reações de autoridades e líderes empresariais, em contagem regressiva para a entrada em vigor da medida, em 1º de agosto.

Estadão/Broadcast apurou que o governo está criando um grupo para definir como será a reação a Trump se entrar em vigor a taxação de 50%. Com base em avaliações de algumas áreas feitas mesmo antes do comunicado da Casa Branca, há a avaliação de que o Brasil possa antecipar o fim do período em que há direito de patentes de medicamentos, que impede a fabricação, a venda ou a distribuição da fórmula sem autorização.

Em entrevista ao Jornal da Record, da TV Record, Lula afirmou que vai cobrar 50% em tarifas dos EUA caso Trump cumpra o anúncio, mas ressaltou ao Jornal Nacional, da TV Globo: “Não queremos brigar com ninguém, nós queremos negociar“. Em ambas, disse que avalia recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) e propor investigações internacionais.

Ainda assim, Lula elevou o tom das críticas a Trump. Disse que o norte-americano tem de respeitar o Brasil e a Justiça brasileira.

E comparou as ações de Trump na época da invasão do Capitólio com o que ocorreu nos ataques de 8 de Janeiro em Brasília. “Eles têm que respeitar a Justiça brasileira como eu respeito a americana. Se o que o Trump fez no Capitólio tivesse feito no Brasil, ele estaria sendo processado como (o ex-presidente Jair) Bolsonaro e arriscado a ser preso porque feriu a democracia e a Constituição”, declarou.

Os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, Davi Alcolumbre (União-AP) e Hugo Motta (Republicanos-PB), divulgaram nesta quinta-feira, 10, uma nota conjunta em que sugerem o uso da lei de reciprocidade como reação à tarfia de Trump e destacam que o Congresso Nacional estará pronto para defender a economia do País.

“Com muita responsabilidade, este Parlamento aprovou a Lei da Reciprocidade Econômica. Um mecanismo que dá condições ao nosso país, ao nosso povo, de proteger a nossa soberania”, diz o texto, referindo-se à lei sancionada em abril.

Alcolumbre e Motta afirmaram também que o Congresso vai “acompanhar de perto” os desdobramentos da taxação e argumentam que a decisão de Trump de impor nova taxação sobre “setores estratégicos da economia brasileira deve ser respondida com diálogo nos campos diplomático e comercial”.

Setores do agro e da indústria estão apreensivos

Do agro à indústria, líderes de diferentes segmentos manifestaram preocupação com os efeitos da tarifa de Trump.

O deputado Fausto Pinato (PP-SP), da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), afirmou à Coluna do Estadão que a reação do Brasil “não é uma questão de direita, centro ou esquerda. É uma questão de defender a soberania do nosso País. Ou o Brasil se ajoelha ou enfrenta”.

Na mesma linha, em nota assinada por seu presidente, Josué Gomes da Silva, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) afirmou: “Apesar do impacto negativo para a indústria brasileira da elevação de tarifas unilateralmente pelos EUA, entendemos que a soberania nacional é inegociável. Este é um princípio balizador”.

Exportadores de suco de laranja encaminharam ofício a Lula apontando os impactos da tarifa sobre o setor. A taxação “coloca em risco a continuidade do setor de suco de laranja brasileiro”, diz o texto da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR). O documento destaca que os EUA representaram 41,7% das exportações brasileiras de suco de laranja na safra 2024/25, encerrada em 30 de junho, com receita de US$ 1,31 bilhão.

O tarifaço acendeu uma luz vermelha no setor siderúrgico brasileiro. O grande receio é que a medida adotada como parte de um “stress político” entre os dois países afete as negociações que vinham sendo realizadas para manter o sistema de cotas de exportação, adotado em 2018 na primeira gestão de Trump.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, bateram boca nesta quinta-feira, 10, sobre o tarifaço.

Em entrevista a jornalistas de cinco veículos (Brasil 247, Carta Capital, Diário do Centro do Mundo, Fórum e TVT News), Haddad afirmou que Tarcísio “errou muito” (ao ser aliado de Bolsonaro, citado como pivô da taxação ao Brasil): “Ou uma pessoa é candidata a presidente ou é candidata a vassalo, e não há espaço no Brasil para vassalagem”, afirmou.

Em São Paulo, durante o lançamento do primeiro trem da Linha 6-Laranja, Tarcísio criticou a atuação do governo federal. “Deixar de lado questões ideológicas, sentar na mesa e trabalhar. (…) cabe ao Haddad falar menos e trabalhar mais”, disse Tarcísio (Estadão)

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