Café e carne bovina, dois itens incluídos no tarifaço, podem render menos no ano.
O VBP (Valor Bruto de Produção), quando olhado do ponto de vista mensal, vem em queda desde abril. A retração em julho, sobre o mês anterior, foi de 0,6% nos dados do Mapa (Ministério da Agricultura) e de 0,12% nos da CNA (Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil). O ministério prevê o valor bruto da produção agropecuária em R$ 1,4 trilhão neste ano. Já a CNA estima em R$ 1,48 trilhão. Número de produtos avaliados e metodologia explicam essa diferença de valores entre as duas apurações.
Tanto o Ministério da Agricultura como a CNA divulgam os dados sempre com a comparação anual, mas, se comparados os dados previstos para julho com os para junho, os valores do mês passado indicam um VBP menor.
Dois produtos da lista das sobretaxas de Donald Trump, café e carne bovina, estão entre as quedas, mas ainda é cedo para uma avaliação dos reflexos do tarifaço, segundo técnicos da CNA. O VBP é o montante de dinheiro obtido dentro da porteira. As estimativas anuais são feitas com base no volume de produção esperado e nos preços de negociação obtidos por eles.
A queda do café em julho mostra um movimento normal, devido à entrada maior de produto no mercado. A queda nos preços do arábica foi de 4% no mês, e a do robusta, 6%, interferindo na expectativa anual do valor de produção a ser recebido pelos produtores. O VBP do café arábica caiu para R$ 85,1 bilhões, e o do robusta recuou para R$ 30,3 bilhões. Mesmo com a queda de julho, no entanto, o valor da produção deste ano supera em 53% o de 2024, no caso do café arábica, e em 65% no do robusta, segundo a CNA.
O mercado de café está cheio de incertezas. Uma delas é como os Estados Unidos vão abastecer a sua demanda interna: pagando mais pelo produto brasileiro ou buscando café em outros fornecedores, o que também elevaria os preços internacionais.
A essas dúvidas se somam um rendimento menor do café brasileiro após o beneficiamento neste ano, preocupações com o clima e estoques baixos. Com isso, o café disparou em agosto. O Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) indica que o arábica acumula alta de 26,3% neste mês no campo, em relação aos preços do final de julho, e o robusta subiu 42,9%. Em Nova York, o café teve alta de 30% neste mês.
A carne também teve uma pressão de baixa no campo em julho. A queda, no entanto, durou pouco, e a arroba voltou a subir neste mês. Além de conseguir embarques maiores para países que já estavam na lista de compradores, o país obteve a abertura de novos mercados, e a oferta de gado também está mais restrita, segundo a CNA.
O balanço do VBP do Ministério da Agricultura e da CNA indica que, entre as altas, estão soja e milho, produtos que atingiram patamares recordes de produção. A soja gerará receitas de R$ 366,5 bilhões neste ano, um valor 12% superior ao de 2024. Já o milho, além de uma safra de 130 milhões de toneladas, poderá terminar o ano com alta nos preços médios, gerando um valor bruto de produção de R$ 171 bilhões, 36% a mais do que em 2024, nos cálculos da CNA.
Arroz e laranja, após a boa evolução de 2024, têm forte queda neste ano. O VBP do cereal recua para R$ 19,5 bilhões, e o da laranja, para R$ 19,3 bilhões. Na pecuária, todos os segmentos estão em alta em relação aos valores do ano passado (Folha)