Tradings multinacionais de grãos que operam no Brasil estão buscando enfraquecer a chamada moratória da soja, um acordo que proíbe a compra da oleaginosa cultivada em áreas desmatadas da floresta amazônica, disseram defensores ambientais envolvidos nas discussões nesta quarta-feira (04).
Os comerciantes de soja, incluindo ADM, Cargill, Cofco e Bunge, assinaram a Moratória da Soja em meados da década de 2000, comprometendo-se a parar de comprar soja de fazendas que tiveram floresta desmatada a partir de 2008.
Cientistas e conservacionistas elogiaram a moratória voluntária por reduzir a taxa de desmatamento na Amazônia, a maior floresta tropical do mundo e um baluarte contra a mudança climática, pois suas árvores absorvem grandes quantidades de gases de efeito estufa que aquecem o clima.
A moratória é aplicada por um grupo de trabalho que inclui representantes de empresas comerciais, grupos de defesa ambiental e o governo.
Em reuniões recentes desse grupo, comerciantes de grãos propuseram mudar as regras da moratória, disse Carolina Pasquali, diretora-executiva do Greenpeace Brasil, em uma entrevista.
O que é a moratória da soja?
O acordo atual proíbe compras de soja de uma fazenda inteira se incluir áreas desmatadas desde 2008. Mas os comerciantes agora propõem uma distinção entre campos de soja individuais, permitindo que os produtores exportem de uma parte de uma fazenda enquanto plantam soja em áreas recém-desmatadas próximas, disse Pasquali.
“Faz com que a moratória perca seu sentido”, disse ela.
“Fazendeiros descumprindo (a restrição sobre desmatamento) ainda assim podem vender soja para os signatários.”
A Abiove, que representa as tradings e processadores de soja no Brasil, disse que estava mantendo discussões sobre a moratória, mas não confirmou detalhes de qualquer votação ou proposta.
Os membros da associação ADM, Cargill, Cofco, Bunge e Louis Dreyfus encaminharam o assunto à Abiove.
O jornal The Guardian publicou anteriormente que os membros da Abiove planejavam votar na próxima semana sobre mudanças propostas na moratória.
Mesmo que os membros da Abiove apoiassem tal movimento, grupos ambientalistas e signatários do governo precisariam concordar com a mudança, disse Pasquali.
Outras organizações sem fins lucrativos também disseram à Reuters que se opõem à mudança.
De acordo com o Código Florestal brasileiro, os proprietários de terras na Amazônia podem desmatar legalmente até 20% de sua propriedade. No entanto, um aumento no desmatamento na virada do século provocou pedidos de uma postura mais restritiva por parte do setor privado, bloqueando efetivamente as exportações de soja de fazendas recém-desmatadas na floresta.
O Brasil é o maior produtor e exportador de soja do mundo. Os ambientalistas argumentam que o enfraquecimento da moratória poderia abrir uma enorme quantidade de terras na região amazônica para o plantio de soja.
“É uma quantidade enorme de terra que foi desmatada depois de 2008 na Amazônia”, disse Jean-François Timmers, um ativista contra o desmatamento do World Wide Fund for Nature. “Estamos falando de milhões de hectares.”
Em sua declaração à Reuters, a Abiove observou que os Estados brasileiros estão promovendo uma legislação “que prejudica significativamente os signatários da Moratória da Soja”.
O Estado do Mato Grosso aprovou uma lei que retira incentivos fiscais de empresas que aderirem à moratória.
A Abiove disse que defende a Moratória da Soja enquanto “se esforça para equilibrar as demandas de agricultores e consumidores, incluindo atualizações no modelo atual para garantir sua eficácia” (Reuters)