Cálculo é de exportadores, que defendem a inclusão do produto em lista de exceções, porque os americanos não são produtores
A decisão do presidente Donald Trump, de taxar em 50% os produtos de origem brasileira, pode doer na própria economia americana. Só o café, commodity que o Brasil mais exportou para o país no primeiro semestre de 2025, movimenta 1,2% do PIB dos Estados Unidos.
“Para cada dólar gasto com a importação de café brasileiro, geram-se US$ 43 para a economia dos EUA. Isso representa 1,2% do PIB norte-americano, impulsiona 2,2 milhões de empregos e movimenta cerca de US$ 343 bilhões”, diz Marcos Matos, diretor-presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
A conta, na visão do executivo, justifica o tratamento do café como um produto natural não disponível nos Estados Unidos, e, portanto, passível de exceção tarifária. De todo o café que o país compra a cada ano, 34% no volume sai do Brasil, especialmente da variedade arábica, informa o Cecafé.
De janeiro a junho deste ano, o café brasileiro custou US$ 1,7 bilhão aos EUA, representando 5,8% de tudo que chegou do Brasil. Os americanos são os maiores consumidores mundiais do produto, com mais de 24 milhões de sacas.
Matos reitera a preocupação da entidade com o tarifaço. Segundo ele, afetaria igualmente o consumo e a indústria. Lembra ainda que decisões semelhantes tomadas no passado foram revistas após negociações diplomáticas.
“O governo brasileiro precisa atuar com firmeza, como já fez historicamente em defesa dos interesses nacionais. Trump já recuou em tarifas para países como Vietnã, Indonésia, Nicarágua, Colômbia e Etiópia após rodadas de negociação”, pontua.
EUA importam café commodity e especial
Em 2024, os EUA importaram 8,13 milhões de sacas de café brasileiro, aumento de 34% em relação ao ano anterior, e uma receita de US$ 2,051 bilhões. O arábica respondeu por 82%, o conilon (robusta) por 8,5%, o solúvel por 9,5% e o torrado e moído por apenas 0,1%.
“Para cada dólar gasto com a importação de café brasileiro, geram-se US$ 43 para a economia dos EUA. Isso representa 1,2% do PIB norte-americano”, afirma Marcos Matos, diretor-executivo do Cecafé
Os EUA também são líderes na importação de cafés especiais brasileiros — aqueles com selo de qualidade e sustentabilidade. Em 2024, o país foi responsável por 22% das compras desse segmento, totalizando mais de 2 milhões de sacas. Apenas nos cinco primeiros meses de 2025, os americanos representaram 19% da demanda por cafés diferenciados do Brasil, segundo o Cecafé.
Novos mercados para o café do Brasil
O consumo global de café tem mantido uma taxa média de crescimento de 0,6% ao ano nos últimos cinco anos. No entanto, esse ritmo é mais acelerado entre países produtores (1,2% ao ano) e na Ásia (2,3%), o que reforça o potencial de novos mercados para o produto brasileiro.
Marcos Matos afirma que o Brasil já vem diversificando suas parcerias comerciais e ampliando mercados, especialmente no continente asiático, justamente para driblar tensões geopolíticas, com a atual, com os Estados Unidos.
Ao longo de 2024, os embarques de café do Brasil cresceram 40,6% para a Europa, com destaque para Alemanha, que aumentou a compra em 51,3% e está na liderança entre os europeus.
Na Ásia, o crescimento foi de 11,4%, com aumentos expressivos para Rússia, com 101% a mais nas compras, Turquia (9,4% mais) e China — que já havia registrado recorde em 2023 com 1,5 milhão de sacas.
As exportações para os países do BRICS cresceram 19,9%, para o mundo árabe, 31,5%, e para o leste europeu, 74,7%. Já o México ampliou em 143,9% a compra de café brasileiro, impulsionado pela demanda da indústria de café solúvel local (Globo Rural)