Tarifaço causa desemprego em seis segmentos exportadores no Brasil

Na fabricação de produtos de madeira, o saldo, que era positivo em 579 vagas em agosto de 2024, se tornou negativo em 1.780 no mesmo mês deste ano; na prática, 2.359 postos de trabalho perdidos. Para Gabriel Petrus, professor de relações internacionais na Science Po Paris, China virou parceiro confiável enquanto EUA perdeu reputação.

No mês em que entrou em vigor o tarifaço de 50% a produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, seis segmentos afetados pela medida registraram um forte fechamento de postos de trabalho com carteira assinada. É o que mostram dados de um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), obtido com exclusividade pelo Estadão/Broadcast.

Houve quedas expressivas em segmentos altamente sensíveis às medidas tarifárias (os 50% de taxação somam os 10% de tarifa recíproca, que já estavam em vigor, e a tarifa punitiva de 40% imposta a parte dos exportadores do Brasil desde agosto). Esse impacto é especialmente sentido em fabricação de produtos de metal, produção florestal, metalurgia e fabricação de produtos de madeira, observaram as pesquisadoras Janaína Feijó e Helena Zahar, autoras do estudo do Ibre/FGV. O levantamento tem como base os microdados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), do Ministério do Trabalho.

O mercado de trabalho no País registrou abertura líquida de 147.358 postos com carteira assinada em agosto, menor resultado para o mês na série do Novo Caged, iniciada em janeiro de 2020. O saldo foi 38,4% inferior ao de agosto de 2024, quando houve geração de 239.069 vagas.

No caso de segmentos mais sensíveis às exportações, a queda foi bem mais séria. Na fabricação de produtos de madeira, por exemplo, o saldo, que era positivo em 579 vagas em agosto de 2024, se tornou negativo em 1.780 no mesmo mês deste ano; na prática, são 2.359 postos de trabalho perdidos

“É um ajuste, porque lá em meados de julho já se começou a ventilar todas as informações relacionadas ao tarifaço. Então, os agentes e empreendedores acabam ali gerando expectativas, já vão se ajustando. Se eles tinham uma perspectiva de contratar mais pessoas ou mesmo de segurar um trabalhador temporário por mais tempo, isso pode ter afetado esse tipo de relação e ele ter demitido”, exemplificou Feijó.

Seis dessas atividades que mais pioraram o saldo de vagas em agosto de 2025 ante agosto de 2024 tinham relação com exportações: fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos; produção florestal; metalurgia; fabricação de produtos de madeira; extração de minerais não metálicos; e agricultura, pecuária e serviços relacionados.

“A gente exporta muita madeira, e o setor de madeira foi muito afetado pelo tarifaço, assim como a metalurgia, produtos de metal. Esses são segmentos que já vinham comunicando realmente que seriam muito afetados pelas medidas do Trump”, lembrou Feijó.

O efeito do juro alto

Completam o ranking dos dez segmentos com maior queda no saldo de vagas com carteira assinada: atividades cinematográficas, produção de vídeos e de programas de televisão, gravação de som e edição de música; seleção, agenciamento e locação de mão de obra; organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais; e correio e outras atividades de entrega.

Além do tarifaço, outra causa para o recuo no mercado de trabalho é o efeito dos juros nas alturas.

No conjunto, o saldo nos dez segmentos foi negativo em 13.769 vagas. Na prática, significa quase 23 mil postos de trabalho perdidos comparados com o saldo do mesmo mês do ano anterior, que era positivo em 9.085 vagas.

“O mercado de trabalho continua num nível bom, aquecido, mas agora ele desacelerou em relação ao ano passado. E aí com esse fenômeno adicional do tarifaço, a gente percebe que os setores que apresentaram maior decrescimento também são os que já tinham potencial maior de serem tarifados. Então é difícil a gente dizer quanto que é da conjuntura interna e quanto é de fato externo, mas os dois fatores estão impulsionando para que esses segmentos performem mal”, disse Feijó.

A expectativa é de que o saldo de vagas no agregado do mercado de trabalho formal permaneça positivo em 2025, porém mais brando, com sinais de acomodação.

“Obviamente que a gente tem os meses de outubro, novembro e dezembro, que são meses que geralmente têm mais contratações temporárias. Isso pode impactar positivamente ou atenuar essa desaceleração que já vem sendo observada, mas a gente não vai ver uma performance tão boa quanto vimos nos anos anteriores, de 2023 e 2024”, estimou Feijó. “Tanto que esse foi o pior agosto dos últimos quatro anos.” (Estadão)

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