Boa renda que os produtores vinham obtendo nos anos recentes, porém, perde ritmo.
As máquinas agrícolas já semearam pelo menos um quinto da área que será destinada à soja nesta safra 2024/25, conforme dados da AgRural, de Curitiba.
É uma safra que começa com atraso no plantio, em relação a 2023, mas com perspectivas melhores, uma vez que as chuvas vêm com mais constância. No ano passado, a interrupção das chuvas exigiu o replantio de parte das áreas.
A boa renda que os produtores vinham obtendo nos anos recentes, porém, perde ritmo. Na safra 2023/24, além da queda da produtividade, houve redução dos preços. Nesta, a oferta cresce muito.
Os próprios números de área de plantio da safra que está sendo semeada refletem as dúvidas dos produtores, que estão mais cautelosos. Será o menor crescimento anual de área de soja no Brasil desde 2005/06.
A área é menor não tanto pelo aumento de custos mas pelas incertezas que o cenário internacional traz. O mundo conviverá com volumes recordes de soja.
O Brasil, pelos números da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), terá uma safra recorde de 166 milhões de toneladas. Os Estados Unidos sobem para 125 milhões, um patamar também nunca registrado, e a Argentina deverá atingir 52 milhões. À exceção da safra americana, que praticamente está consolidada, as demais dependerão muito do clima neste período de 2024/25.
Apenas a América do Sul produzirá 238 milhões de toneladas, segundo o Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), o que ajudará a produção mundial subir para o patamar recorde de 429 milhões.
O aumento de safra ajuda a recompor os estoques mundiais, segundo Daniele Siqueira, analista da AgRural. Nas contas da AgRural, os estoques de passagem de uma safra para outra eram suficientes para 101 dias de consumo na safra 2022/23. Em 2024/25, poderão subir para 122.
Daniele afirma que a oferta de soja em relação à demanda é grande, mas há muitos outros fatores que interferem nos preços.
Um deles são os juros, que, mantidos em patamares baixos, levariam os fundos de investimento para as commodities, sustentando o mercado.
Além de afetar a renda dos produtores, o cenário internacional de preços da soja vai impactar também as receitas geradas pelas exportações.
Principal setor na balança comercial, o complexo soja (grão, farelo e óleo) deverá render US$ 54 bilhões neste ano, após ter atingido US$ 67 bilhões em 2023, segundo a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais).
As exportações de grãos recuam para 97,8 milhões de toneladas neste ano, mas serão os preços que afetarão mais as receitas geradas pelas vendas externas.
O volume de soja em grão a ser exportado cai 4% neste ano, enquanto as receitas diminuem 14%. Já as vendas de farelo recuam 2% em volume e 20% em receitas. O óleo tem perda de 44% no volume exportado e de 12% nas receitas.
Os preços internos da soja estão descolados dos de Chicago nas últimas semanas. Na sexta-feira (18), o valor da saca em Cascavel (PR) superava em 3% o de igual período de setembro. Já em Chicago, caíram 4% no mesmo período, conforme acompanhamento diário da AgRural.
O produtor espera compensar as quedas nos preços com produtividade. Esta, no entanto, vai depender muito do clima, afirma Daniele.
- 112 milhões de toneladas foi quanto a China importou de soja na safra 2023/24, acima dos 105 milhões do período anterior
- 39% a menos é quanto os chineses estão pagando pela soja nos últimos dois anos. Aproveitam o momento para fazer estoques (Folha)