Roça Sustentável aumenta a produtividade da agricultura familiar no Maranhão

Um conjunto de tecnologias modernas, que alia custos acessíveis e sustentabilidade, tem aumentado significativamente a produtividade de culturas agrícolas de importância alimentar – como mandioca, arroz, milho, feijão, entre outras – em propriedades familiares do Maranhão. Essa é a Roça Sustentável, um pacote de soluções referenciado no Sistema Bragantino da Embrapa, desenvolvido pela Embrapa Amazônia Oriental (AM) e adaptado pela Embrapa Maranhão (MA) para as condições do estado, que já resultou, por exemplo, em aumento de produtividade de 50% de arroz e milho, e em ganho temporal de sete meses para a colheita de mandioca.

A solução  tecnológica surgiu em um processo de inovação aberta, dentro das propriedades dos agricultores familiares, para equacionar problemas de baixas produtividades e ausência de condições de uso de tecnologias em lavouras da agricultura familiar em que os cultivos eram realizados  em área compartilhada, sem qualquer coerência técnica ou econômica.

Segundo o analista Carlos Santiago (foto à esquerda), responsável pela implementação da tecnologia em municípios maranhenses, sem o uso da Roça Sustentável, a produção média de mandioca no Maranhão é de 8 toneladas por hectare após 18 meses de cultivo. Com a tecnologia, em 11 meses de cultivo a produção atinge 30 toneladas por hectare. “Trata-se de um policultivo das culturas mais produzidas pelos agricultores familiares, seja para consumo familiar ou comercialização. A ênfase é nas variedades em uso na região e preferidas pelos agricultores. A iniciativa aumentou o leque de produtos do agricultor familiar com excelentes resultados de produtividade e qualidade dos produtos”.

A lógica do consórcio é diversificar a produção e otimizar a produtividade com sustentabilidade econômica, social e ambiental. Para isso, os cultivos são dispostos em fileiras de forma a não haver competição por nutrientes, água, luz e espaço. Além do consórcio, o sistema preconiza a rotação de culturas com uso de “safrinha”, prática que intensifica o uso da terra e maximiza o aproveitamento do período chuvoso. O objetivo é que essas novas técnicas contribuam para modernizar sistemas de produção tradicionais, como o de “roça no toco” (no qual uma área de vegetação é derrubada, queimada e utilizada para plantio), sob bases sustentáveis, ou seja, sem necessidade de fogo e desmatamento.

Em termos ambientais, a reconfiguração da “roça no toco” evita a abertura de novas áreas e a prática de “derruba e queima” ao cultivar a terra e as lavouras de acordo com suas necessidades nutricionais e de prevenção de pragas e doenças. Além disso, ao incentivar o consórcio e a rotação de culturas, a tecnologia permite incrementos na ciclagem de nutrientes, manutenção da biodiversidade, conservação do solo, controle de ervas daninhas e manejo de pragas e doenças das culturas.

Francisco Elias de Araújo, do Assentamento Cristina Alves em Itapecuru-Mirim (MA), diz que a mandiocultura é a atividade de maior importância econômica e a tecnologia deu resposta positiva no que se refere à produtividade. Para ele, a Roça Sustentável promove a diversificação de culturas consorciadas e a adequação da demanda nutricional de cada uma delas para melhorar a produtividade do conjunto. “No assentamento, já completamos quatro anos consecutivos de produção na mesma área, com bom retorno do custo investido. Queremos deixar para as próximas gerações uma terra melhor do que achamos”, ressalta.

No Maranhão, estado de grande diversidade edafoclimática, a Roça Sustentável atualmente tem projetos na região amazônica e no Cerrado, onde está a fronteira agrícola do Matopiba. São duas Unidades de Referência Tecnológica (URTs) em São Raimundo das Mangabeiras e em Balsas; três em Itapecuru-Mirim (quilombo de Canta Galo, Jaibara dos Nogueiras e Outeiro dos Nogueiras); e uma em São Luís, em área rural do bairro Maracanã.

Controle de pragas, doenças e ervas daninhasO conjunto tecnológico consiste em técnicas de manejo e arranjos espaciais com sustentabilidade e impactos na redução do fogo na agricultura, no combate à pobreza e redução da fome, por meio da produção diversificada de alimentos. As práticas agrícolas aliadas ao uso de defensivos corretamente utilizados intensificam a eficiência do uso da terra e ainda recuperam áreas degradadas. Também aumentam a fertilidade do solo e a nutrição das plantas. Ou seja, trata-se de um sistema de cultivo convencional, no qual é permitido o uso de herbicidas e inseticidas, se necessário, na hora certa e na dose certa. O uso da dose recomendada no momento certo provoca o mínimo impacto ambiental possível, com eficiência necessária para surtir o efeito desejado. “A lavoura, livre de mato, doenças e pragas, produz muito mais, com menos esforço físico do produtor, ou seja, há também redução da carga de trabalho e do gasto com mão de obra. Isso significa mais economia e tempo para as pessoas envolvidas cuidarem de outras atividades e da família. O retorno social é a melhoria da produtividade, segurança alimentar, renda e qualidade de vida da família e comunidade do produtor familiar, contribuindo para o desenvolvimento regional”, enfatiza Santiago.
Adubação específica para cada culturaA adubação equilibrada é também realizada no sistema para garantir o aporte dos nutrientes necessários ao desenvolvimento das plantas, à produtividade da lavoura e à conservação do solo. A diversificação de culturas melhora a utilização das terras. Cada cultura é especializada num tipo de nutriente e a rotação entre elas permite a exploração de camadas do solo por diferentes culturas. Por exemplo, o arroz é uma cultura que oferece bastante potássio ao solo. Do potássio aplicado nas plantações de arroz, a cultura absorve 20%. Os 80% restantes ficam na palhada após a colheita, disponíveis no solo. A mandioca é uma cultura que demanda potássio.  Ao plantar a mandioca na palhada do arroz, faz-se uma adubação natural de uma cultura pela outra.
Aprender fazendoA Embrapa no Maranhão multiplica o conhecimento sobre o manejo do sistema alimentar em propriedades dos produtores em parceria com instituições públicas e privadas. A metodologia preconiza a implantação de URTs em comunidades rurais familiares com a participação de técnicos e produtores das regiões. São repassadas técnicas de manejo do solo, de pragas e doenças, fertilidade e arranjos espaciais para melhor eficiência com sustentabilidade, conservação e manejo adequados. Também fazem parte dessas capacitações noções de visão empreendedora da lavoura, para que o sistema de produção possa ser viabilizado.O objetivo é a promoção do desenvolvimento regional pelo empoderamento dos atores locais envolvidos. “As URTS são vitrines tecnológicas, unidades didáticas de construção do conhecimento para eventos como dias de campo, palestras e visitas técnicas. Ali o produtor e o técnico aprendem a manejar as culturas de arroz, milho, feijão e mandioca separadamente, além da integração entre elas. Aprendem também o valor do trabalho realizado com dedicação e cuidado para ter os resultados esperados. Nossa missão é transformar a ciência em motor do desenvolvimento por meio da construção e compartilhamento de saberes e experiências”, frisa o analista.O produtor Geraldo de Matos, conhecido por “Juca”, destaca o acesso ao conhecimento como diferencial para a qualidade de vida conquistada. “Graças à parceria com a Embrapa Maranhão, tivemos acesso ao conhecimento científico e tecnológico, a nossa produção aumentou, não só em quantidade, mas também em qualidade, e com diminuição da carga de trabalho. Nunca tinha visto tanta mandioca em um espaço tão pequeno. Ver nossa família com alimentação adequada é tudo. Hoje tenho a esperança de ver meus filhos na roça”, comemora.
Combate à fome e à pobreza e fixação no campoOs agricultores que seguem o manejo corretamente têm uma transformação significativa. Já no primeiro ano, eles sanam a questão alimentar. Com mais tempo, passam a ter excedente para venda. A tendência é a ampliação da lavoura. A elevação da produtividade faz com que tenham garantia de diversificação alimentar e quantidade, volume produzido suficiente para a alimentação da sua família e comunidade e para a troca e comercialização do excedente. “A dignidade do homem que cultiva a terra e produz o alimento para a família permite a permanência no campo, e a de seus filhos, que passam a enxergar o futuro que almejam na agricultura”, conclui Santiago.

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