Rede de pesquisa quer derrotar o greening na citricultura

A experiência com o sequenciamento do genoma da Xylella fastidiosa, a bactéria causadora da CVC (amarelinho), está nos preparando para trabalhar o maior problema da citricultura no mundo, o greening. A afirmação é de Juliano Ayres, diretor-executivo do Fundecitrus, o Fundo de Defesa da Citricultura, uma associação privada mantida por citricultores e indústrias de suco do Estado de São Paulo para promover o desenvolvimento sustentável do parque citrícola.

Recém-lançado, o Centro de Pesquisa Aplicada em Inovação e Sustentabilidade da Citricultura (CPA), com sede na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), terá um investimento de R$ 90 milhões para o desenvolvimento de pesquisas em rede nos próximos cinco anos com foco no controle do greening.

A doença causou, nas últimas cinco safras, a queda prematura de frutos equivalente a 97 milhões de caixas, um prejuízo estimado em US$ 972 milhões. Neste ano, o greening atingiu 47,63% dos pés de laranja no cinturão citrícola de São Paulo e do Triângulo/Sudoeste Mineiro, segundo levantamento anual do Fundecitrus. O número representa um aumento de 7,4% em relação ao ano anterior, quando a incidência foi de 44,35%.

A diretora do CPA será a pesquisadora Lilian Amorim, da Esalq. Fundecitrus e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) também vão participar da rede, assim como pesquisadores de outras unidades da USP, da Embrapa, Unicamp, Unesp e IAC (Instituto Agronômico). A colaboração internacional virá de centros de pesquisa da França, Estados Unidos, Inglaterra, Austrália e Portugal.

Ayres diz que a ideia do centro nasceu há dois anos quando ele buscou a ajuda da Fapesp, mesma instituição que investiu no sequenciamento da Xylella. No encontro, ele relatou que o greening está no Brasil há 19 anos, com incidência alta e precisa ser controlado para evitar a repetição do que ocorreu com a produção de laranja dos EUA, concentrada na Flórida, que caiu drasticamente com a doença.

“Criamos um consórcio mundial para vencer o greening. No Brasil, o projeto da Fapesp e Fundecitrus envolve mais de 70 pesquisadores em rede. Metade do plantio já migrou para fora de São Paulo para fugir do problema. Queremos manter no Estado a citricultura, que está presente em 360 municípios e emprega 200 mil pessoas.”

Segundo Ayres, o desafio emergencial é comparado à pandemia da Covid. No Brasil, diz, já foram investidos de US$ 100 milhões a US$ 150 milhões no combate à doença e nos EUA, mais de US$ 200 milhões.

Marco Antonio Zago, atual presidente da Fapesp e um dos pesquisadores envolvidos no sequenciamento da Xylella, concluído em 2000, disse que esse primeiro grande experimento de pesquisa em rede colocou o Brasil no mapa da ciência mundial e deu os parâmetros para o manejo do CVC.

O centro virtual de pesquisa formado agora para combater o greening, que vai trazer também gente do exterior para tentar resolver esse novo problema da citricultura, deve seguir o mesmo caminho.

“Tem um problema sério? Pode ser na agricultura, física, medicina, no tecido social. A ciência pode ajudar? A Fapesp tem recursos do povo paulista e por isso investimos em projetos de pesquisa a longo prazo para ajudar a resolver problemas”, diz Zago.

A Fapesp recebe por lei 1% dos tributos paulistas e tem um orçamento de cerca de R$ 2,9 bilhões neste ano. Só 5% pode ser gasto com estrutura. Os outros 95% são investidos nas várias pesquisas selecionadas.

O exemplo da Xylella

O diretor da Fundecitrus participou da reunião em 1997 na Fapesp que levou à escolha da bactéria Xylella fastidiosa, causadora da clorose variegada dos citros (CVC), ou amarelinho, como objeto do primeiro sequenciamento genômico da ciência brasileira. A doença, hoje controlada, ameaçava a produção de laranja em São Paulo na época e chegou a ser confundido com o greening, que já havia chegado em outros países.

“Para conter a doença era fundamental uma ferramenta tecnológica. Buscamos ajuda de consultores internacionais como o fitopatologista francês Joseph Maria Bové, o maior especialista em doenças de citros do mundo, que nos alertou que não era greening, mas um patógeno novo, a Xylella, que estava atacando também as videiras na Califórnia e depois foi descoberta na Argentina e na Costa Rica.”

De 1989 a 1992, a doença se manifestou inicialmente em quatro municípios paulistas e se alastrou pelo Estado, atingindo metade dos laranjais. Na reunião na Fapesp, Bové disse que a doença era um tsunami, poderia dizimar a citricultura se não fosse controlada e ofereceu a cultura da bactéria Xylella para o sequenciamento inédito no Brasil.

“O sequenciamento não significou o fim do CVC, mas criou uma rede de pesquisa para que a doença fosse reduzida a níveis desprezíveis porque conseguimos identificar de A a Z tudo sobre ela. Desenvolvemos manejo, mudamos o sistema de viveiros e fizemos um trabalho de conscientização junto aos produtores”, lembra Ayres (Globo Rural)

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