- BP e Exxon estão entre gigantes que interromperam iniciativas de baixo carbono recentemente
- AIE estima que apenas um quarto dos projetos previstos para 2030 será concluído até lá
Quase 60 grandes projetos de hidrogênio de baixo carbono foram cancelados ou suspensos neste ano, incluindo iniciativas das petroleiras BP e ExxonMobil, em meio a disparada de custos, incerteza regulatória e falta de compradores.
Os empreendimentos cancelados ou paralisados somavam uma produção anual combinada de 4,9 milhões de toneladas de hidrogênio limpo, segundo dados da S&P Global. Isso equivalente a mais de quatro vezes a capacidade global instalada.
A BP desistiu, na semana passada, de investimentos planejados em plantas de hidrogênio em Omã e em Teesside, no nordeste da Inglaterra, depois de ter abandonado, este ano, um projeto de hidrogênio verde que seria construído na Austrália. A Exxon, no mês passado, suspendeu uma planta de hidrogênio no Texas que seria uma das maiores do mundo.
Equinor, ArcelorMittal e Vattenfall estão entre as empresas que cancelaram ou adiaram plantas de hidrogênio nos últimos 18 meses, enquanto a Shell descartou um projeto na Noruega.
Os atrasos evidenciam os desafios de ampliar uma tecnologia que há muito tempo é vista como peça-chave na redução das emissões de carbono. O hidrogênio de baixo carbono —produzido a partir de energia renovável e água ou de gás associado à captura e armazenamento de carbono— tem enfrentado dificuldades para fechar contratos antecipados, já que o hidrogênio verde e o azul são mais caros que o “cinza”, derivado de combustíveis fósseis sem captura de emissões.
“Tem sido um ano ou dois desafiadores para qualquer empresa tentando desenvolver projetos de hidrogênio [limpo]”, disse Murray Douglas, chefe de pesquisas de hidrogênio da Wood Mackenzie. “A disposição de pagar qualquer tipo de prêmio verde em tecnologias de baixo carbono simplesmente evaporou.”
A consultoria rastreou mais de 300 iniciativas de hidrogênio de baixo carbono canceladas, paralisadas ou inativas desde 2020, embora Douglas ressalte que muitas eram especulativas ou de baixa qualidade.
A nascente indústria também foi afetada pela hostilidade do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a projetos de energia renovável, o que resultou em cortes a subsídios prometidos pela administração de Joe Biden. Países europeus também têm sido lentos na implementação de seus planos.
O hidrogênio de baixo carbono ganhou atenção no início de 2020 como alternativa para descarbonizar setores difíceis de eletrificar —como aviação, siderurgia e transporte rodoviário de longa distância— e reduzir emissões em refinarias e fábricas de fertilizantes.
Mais de 2.600 projetos haviam sido anunciados globalmente até o fim de 2024, segundo a AIE (Agência Internacional de Energia), incluindo grandes plantas em países com abundância de energia solar e eólica, como Austrália, Mauritânia e Egito.
Energia Limpa
A agência, que estima que a produção de hidrogênio limpo precisa crescer dez vezes até 2035 para que metas de emissões líquidas zero sejam alcançadas, afirma que apenas um quarto dos projetos previstos para 2030 provavelmente será concluído até lá.
O Hydrogen Council, apoiado por grandes grupos industriais e petroleiras como ExxonMobil, Aramco, Adani e Adnoc, observou que mais de US$ 110 bilhões já foram comprometidos com cerca de 500 projetos globalmente.
A diretora-executiva, Ivana Jemelkova, declarou: “O que estamos vendo é uma fase natural e esperada de maturação do mercado, semelhante ao que aconteceu com as indústrias de vento, solar e baterias em seus estágios iniciais, quando cerca de um em cada dez projetos efetivamente entrou em operação.”
Mas o custo continua sendo um entrave: o hidrogênio verde, mesmo quando produzido com energia renovável barata, pode custar o dobro daquele feito com combustíveis fósseis sem captura de emissões, em grande parte devido às despesas com nova infraestrutura e logística.
A siderúrgica ArcelorMittal cancelou, em junho, duas plantas de hidrogênio verde na Alemanha, apesar de 1,3 bilhão de euros em apoio do governo, alegando que o hidrogênio verde ainda não é uma fonte de combustível viável.
Problemas com infraestrutura de armazenamento e transporte levaram a Vattenfall a desistir, neste ano, de um subsídio da União Europeia para um projeto de eletrólise nos Países Baixos, após o adiamento de um gasoduto pan-europeu.
O apoio regulatório permanece incerto em muitos mercados, apesar de o hidrogênio ter recebido ao menos US$ 10 bilhões em financiamento público para pesquisa e desenvolvimento entre 2020 e 2024, segundo a AIE.
ENTENDA AS ‘CORES DO ARCO-ÍRIS’ DO HIDROGÊNIO
- Hidrogênio verde: Produzido com eletricidade limpa de fontes renováveis para eletrólise da água, separando o hidrogênio do oxigênio. Atualmente é muito caro devido aos custos de infraestrutura e transporte.
- Hidrogênio azul: Produzido com gás natural, mas com captura e armazenamento (ou reutilização) das emissões de carbono. Ainda há produção insignificante por falta de projetos de captura.
- Hidrogênio cinza: A forma mais comum. É derivado de gás natural via reforma a vapor de metano, sem captura das emissões.
- Hidrogênio marrom: O mais barato, porém o mais poluente, pois utiliza carvão térmico no processo de produção (Folha)





