Área queimada em todo o País no ano passado foi 62% acima da média histórica; a maior parte dos incêndios ocorreu na Amazônia.
Pelo menos 30 milhões de hectares foram destruídos pelo fogo no Brasil, em 2024, uma área 62% acima da média histórica, que é de 18,5 milhões de hectares por ano. O dado está no MapBiomas Fogo, lançado nesta terça-feira, 24, parte da primeira edição do Relatório Anual do Fogo (RAF), com números relativos ao período de 1985 a 2024.
O aumento das áreas queimadas em relação à média histórica ocorreu na maioria dos biomas. A Amazônia registrou a maior área queimada de toda a série histórica e foi, de longe, o bioma que mais queimou no País: foram 15,6 milhões de hectares destruídos pelo fogo, um valor 117% acima da média histórica. Essa área respondeu por 52% de toda a área do Brasil afetada pelo fogo no ano passado, mostrando que o bioma é o epicentro das queimadas.
No Pantanal, a extensão da destruição ficou 157% acima da média e, no Cerrado, 10%. As exceções ficaram por conta da Caatinga e dos Pampas, onde foram registrados decréscimos de 16% e 48%, respectivamente. No caso da Mata Atlântica, o ano de 2024 bateu recorde de destruição: a área afetada pelo fogo foi 261% acima da média histórica.
Não por acaso, no ano passado, o Estado de São Paulo concentrou quatro dos dez municípios com maior proporção de área queimada no Brasil, todos no entorno do município de Ribeirão Preto, uma região predominantemente agrícola. São eles: Barrinha, Dumont, Pontal e Pontes Gestal.
Obtidos a partir do mapeamento das cicatrizes de fogo por imagens de satélite, os dados traçam o mais completo retrato da ação do fogo em todo o território nacional e revelam alguns padrões de ocorrência das queimadas e incêndios. De forma geral, os incêndios são concentrados num período curto do ano, em determinados biomas e, recorrentemente, nos mesmos lugares.
A ocorrência do fogo é registrada em poucos meses do ano – o período de agosto a outubro responde por 72% da área queimada no País. O Cerrado e a Amazônia são os biomas com maior ocorrência de queimadas nos últimos 40 anos, o equivalente a 86% da área incendiada pelo menos uma vez no Brasil ao longo desse período. De forma geral, 64% da área afetada pelo fogo em todo o País já queimou mais de uma vez entre 1985 e 2024.
“Essa primeira edição do RAF é uma ferramenta fundamental para apoiar políticas públicas e ações de gestão territorial do fogo”, explicou a coordenadora do MapBiomas Fogo, Ane Alencar. “Ao identificar os locais e períodos mais críticos da ocorrência do fogo, o relatório permite apoiar o planejamento de medidas preventivas e direcionar de forma mais eficaz os esforços de combate aos incêndios.”
Ao longo dos últimos 40 anos, 69,5% das queimadas no Brasil ocorreram em áreas de vegetação nativa, em um total de 514 milhões de hectares. No ano passado essa porcentagem foi ainda mais alta: 72%.
Foram registradas mudanças também no tipo de vegetação nativa mais afetada. Historicamente, a maior área de vegetação nativa queimada era de savana, com uma média anual de 6,3 milhões de hectares. Em 2024, no entanto, predominaram os incêndios em áreas de floresta, com 7,7 milhões de hectares – uma extensão 287% superior à média.
Os biomas com maior proporção de vegetação nativa afetada pelo fogo entre 1985 e 2024 foram Caatinga, Cerrado, Pampa e Pantanal, todos com mais de 80% da extensão afetada. Na Amazônia e Mata Atlântica, o fogo ocorreu principalmente em áreas antrópicas (mais de 55%). No caso de Amazônia, pastagens respondem por 53,2% da área queimada no período; na Mata Atlântica, 28,9% da extensão queimada eram de pastagem e 11,4% de agricultura (Estadão)