Iniciativas no Cerrado, Amazônia e Sudeste mostram ganhos econômicos e ambientais, mas enfrentam barreiras de custo e crédito
A adoção da pecuária regenerativa vem ganhando força no Brasil, com resultados mensuráveis em produtividade, custos e restauração ambiental. O país, que abriga cerca de 220 milhões de bovinos, já registra iniciativas consolidadas em diferentes regiões, como o Cerrado, a Amazônia e o Sudeste, com recuperação de pastagens, integração de sistemas produtivos e práticas de baixa emissão.
A pecuária regenerativa reúne práticas que vão além da manutenção: visa regenerar solos, aumentar biodiversidade e promover sequestro de carbono. Entre as técnicas, destacam-se o pastejo rotacionado intensivo, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), sistemas silvipastoris, uso de bioinsumos e manejo de dejetos como fertilizante. Essas práticas podem transformar pastagens degradadas em áreas mais produtivas e resilientes.
Para Maquiel Vidal Nardon, coordenadora do curso de Agronomia da UNIASSELVI, a pecuária regenerativa representa um conjunto de ações que buscam restaurar a vitalidade do solo e reduzir a dependência de insumos químicos. “As práticas regenerativas devolvem estrutura ao solo, aumentam a biodiversidade e tornam o sistema mais resiliente às secas, o que favorece a produtividade sem ampliar a abertura de novas áreas”, destaca ela.
Exemplos de sucesso
A especialista destaca que na região brasileira do Cerrado, onde metade das pastagens apresenta algum nível de degradação, a técnica conseguiu elevar a produtividade de 1 para até 3,5 cabeças por hectare, além de permitir o sequestro de até 140 milhões de toneladas de CO₂ ao ano.
Exemplos não faltam. O projeto Regenera Cerrado abrange mais de 8 mil hectares em Goiás com monitoramento de solo, polinização e emissões. Também em Goiás, uma fazenda que adotou a prática registrou redução de 50% nos custos de insumos após integrar soja e milho ao sistema pecuário.
Em Mato Grosso, o Reverte, iniciativa da The Nature Conservancy, pretende recuperar 1 milhão de hectares no Vale do Araguaia até 2030, com assistência técnica e crédito rural voltado a pequenos produtores.
A Amazônia também apresenta avanços. No Pará e em Tocantins, investimentos privados de R$ 10,2 milhões foram realizados em ações regenerativas com foco em rastreabilidade e baixa emissão. Já em Minas Gerais, a adoção de sistemas silvipastoris foi reconhecida internacionalmente pela condução sustentável. No setor lácteo, grandes empresas multinacionais apoiam produtores mineiros e paulistas, projetando que 30% do volume total da produção venha de fazendas regenerativas até o fim de 2025.
Além das iniciativas privadas, políticas públicas ampliam o alcance do modelo. O Plano ABC+, do Ministério da Agricultura, já recuperou 26,8 milhões de hectares de pastagens e implantou integração lavoura-pecuária-floresta em 17 milhões de hectares. Outro destaque é o Projeto Pecuária Regenerativa Brasil, criado em 2023, que prevê a remoção de 3,5 milhões de toneladas de CO₂ equivalente na Mata Atlântica.
Os benefícios econômicos são reforçados por estudo do Boston Consulting Group em parceria com o Ministério da Agricultura. A análise indica que a regeneração de 32,3 milhões de hectares no Cerrado pode gerar US$ 100 bilhões até 2050 e elevar o PIB do setor em US$ 20 bilhões por ano.
“Esses resultados demonstram que é possível produzir mais, emitir menos e preservar recursos ao mesmo tempo. A pecuária regenerativa é uma importante tendência para o futuro do agro brasileiro. Ao equilibrar produção e preservação, ela beneficia produtores, consumidores e o meio ambiente”, aponta a professora.
Apesar dos avanços, o setor ainda enfrenta obstáculos. A recuperação de pastagens custa cerca de R$ 2 mil por hectare, valor que dificulta a adesão de pequenos produtores, que representam 80% da atividade pecuária no país. Apenas 20% utilizam linhas de crédito verde, como a CPR Verde, o que limita a expansão do modelo. “Sem assistência técnica e políticas de financiamento adequadas, a transição tende a avançar de forma lenta e desigual”, afirma Maquiel.




