Dirigente da Abag afirma que presença é pequena, mas enviado para os estados da Amazônia Legal vê elevada exposição no evento.
A representatividade do agronegócio na cúpula central dos debates da 30ª Conferência do Clima (COP 30) gera avaliações divergentes de lideranças ligadas ao setor, que estão em Belém, cidade que sedia o evento. Há quem diga que a participação do setor é pequena e deixa a desejar. E quem avalie que a exposição do agro brasileiro é a maior já vista em uma COP.
Entre os pontos de crítica nos bastidores, está a ausência do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, em discussões com outros países. Fávaro chegou à COP na segunda-feira (17/11) e concentrou sua participação na Agri Zone, espaço dedicado ao setor. Na terça-feira (18/11), ele cumpriu agenda oficial no município de Tomé-Açú (PA) antes de voltar à conferência.
“O setor consegue falar para fora da bolha, mas tem poucas representações nas discussões principais”, diz o diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e presidente do Instituto Equilíbrio, Eduardo Bastos.
Segundo ele, o Ministério da Agricultura teve menos de 20 credenciais para as mesas de negociação da “Blue Zone”, área que concentra as discussões entre autoridades nacionais e internacionais, e de onde saem as principais decisões. “Outros ministérios tiveram 300, 400 credenciais”, compara.
Um dos itens vistos como essenciais para o agronegócio é o debate acerca do mercado de carbono. “O agro tem condição de gerar excedente de crédito, que pode ser vendido no mercado brasileiro, mas a grande oportunidade é exportar crédito de carbono, mas para avançarmos nisso precisamos intensificar a presença nas discussões”, pontua Bastos.
“É uma pena que estejamos subrepresentados”, acrescentou.
Nos corredores da COP, e sob a condição de anonimato, interlocutores ligados ao agro ressaltam as restrições de acesso à Blue Zone. Há casos de representantes do setor com cadeiras em órgãos internacionais que ficaram de fora desta área.
“A maioria dos líderes globais e ministros do mundo inteiro esteve aqui na semana passada. A segunda semana é, sobretudo, de discussões técnicas, e onde se chega a conclusões que virarão acordos. Chegar neste momento foi um tiro no pé”, diz um deles, com conhecimento sobre as discussões.
Paralelamente, a sociedade civil, empresas e representantes setoriais têm acesso à “Green Zone”, com a realização de eventos menores onde há também discussões relativas à produção agropecuária. Mas é na AgriZone que a participação do setor se concentra, onde há eventos, debates e áreas de demonstração técnica sobre sustentabilidade nas cadeias produtivas.
No geral, as avaliações ouvidas pela reportagem da Globo Rural sobre o espaço são positivas. Entretanto, o distanciamento geográfico das demais áreas da COP desagradou, uma vez que limita o acesso de pessoas que não têm relação com o setor, mas são um público de interesse.
Com base em dados da Embrapa, Bastos, da Abag, afirma que o espaço da AgriZone tem recebido cerca de 2 mil pessoas diariamente, das quais 10% seriam estrangeiras.
“Estamos em um esforço para trazer as pessoas para cá (Agri Zone), porque quando quem não é do agro vê as demonstrações, fica impressionado. No calor do Pará, as áreas com florestas ou integrações deixam o solo muito mais fresco, fica óbvio o impacto das mudanças climáticas e como a agricultura pode contribuir com a solução para isso”, ressalta.
Indagado pela Globo Rural sobre as críticas, após um evento na Agri Zone, o ministro ressaltou que não tinha nada a dizer sobre o assunto e ironizou os questionamentos do setor. “Não devia ter vindo?”
“Agro está no centro da discussão”
O secretário-executivo do Consórcio dos Estados da Amazônia Legal, Marcello Brito, rebate as queixas e diz discordar da avaliação de que o agronegócio esteja pouco representado na COP 30. Ele explica que os negociadores brasileiros ligados ao setor são os mesmos de outras COPs, e que existem procedimentos para que eles ocupem estas posições.
“Dizer que não estamos participando ou estamos subrepresentados, eu discordo em 100%”, enfatiza. Em sua visão, nunca houve uma COP onde a agricultura e pecuária esteja tão no centro da discussão como a de Belém, que tem um espaço dedicado a isso.
Britto destaca que, desde o início do evento, houve oportunidade para se fazer uma “apresentação maravilhosa” da agropecuária brasileira para 160 países, que “nunca foram tão expostos” ao tema como agora.
“Se a gente vai conseguir os financiamentos ou não, é responsabilidade nossa. Não falta oferta de capital no mundo, temos problema de demanda de projetos”, afirma.
Para ele, os estrangeiros estão dispostos a investir no país, e se o projeto não conseguir investimento, é porque não foi apresentado da maneira correta, mas a perspectiva é que bons avanços saiam da COP neste sentido (Globo Rural)






