Por Elio Gaspari
O governo poderia lançar o Anti-PAC, destinado a explicar porque seus projetos não andam.
Completam-se amanhã dois anos do lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento, joia da coroa do governo Lula 3.0. Previa R$ 1,8 trilhão de investimentos.
Na cumbuca, entrou o projeto da Ferrogrão. Trata-se de uma ferrovia com mil quilômetros de extensão, ligando a cidade de Sinop (MT) ao distrito de Miritituba (PA). Pelo andar da carruagem, era fake news, pois nenhuma folha de papel saiu do lugar para permitir a discussão ou a realização da obra, prevista no PAC para ser concluída em 2030.
Na melhor das hipóteses, a Ferrogrão ficou no ar por conta de um governo que não se mexe. Na pior, ela entrou no PAC para enganar a turma do agro. A ferrovia (paralela à rodovia BR-163 já existente e asfaltada), permitirá o escoamento de 50 milhões de toneladas de grãos anuais, com o frete estimado em R$ 150 por tonelada, metade do custo do mesmo frete por transporte rodoviário.
Admitindo-se que não se tratou de uma brincadeira, em dois anos Lula 3.0 não mexeu um só papel nem discutiu um só tema relacionado com essa obra.
São muitos e dormentes os interesses contra a abertura de qualquer ferrovia. Se o governo teve de fato algum interesse na obra, nada melhor que abrir a discussão do projeto. Como se sabe, a luz do Sol é o melhor detergente.
Numa época em que tanto se fala das sentenças condenatórias do ministro Alexandre de Moraes, o governo fez que não ouviu sua decisão, autorizando-o a começar o processo de licitação da ferrovia.
Como parte das comemorações do segundo ano da inclusão da Ferrogrão no PAC, o governo poderia lançar o Anti-Pac, destinado a explicar porque seus projetos não andam (Folha)