Lançada às vésperas da cúpula do clima, aliança reúne centros de pesquisas e institutos ligados ao agro para ajudar a posicionar País como líder em soluções agroclimáticas entre os países tropicais.
Seis das principais organizações de pesquisa e suporte para políticas do setor do agro no Brasil anunciaram nesta quinta-feira, 23/10, a criação da Rede de Inteligência em Agricultura e Clima (Riac), uma coalizão que pretende atuar no posicionamento do País como líder da transição global para uma agricultura regenerativa.
Dentro da rede, lançada às vésperas da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-30), estão FGV Agro, Insper Agro Global, FDC Agroambiental, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Agroicone e Instituto Equilíbrio. As entidades contam com apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS) e da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura.
Com as atividades do Riac, as instituições têm como foco acelerar no Brasil políticas em torno da chamada agricultura tropical regenerativa: método de produção que combina produtividade às práticas agrícolas de baixo carbono e à proteção da biodiversidade, seguindo as características geográficas e climáticas do território tropical, onde o País está localizado.
Segundo Ludmila Rattis, pesquisadora da FDC e do Ipam, a iniciativa vem de uma “urgência de cooperação” entre as instituições para a produção de estratégias conjuntas “baseadas em evidências técnicas e científicas, e não tanto em narrativas”. “Por muito tempo, esse debate ficou paralisado em uma falsa dicotomia entre produzir e conservar. Mas agora, com a rede, queremos construir uma terceira via pragmática, baseada em ciência.”
Uma das principais ações da rede, explica Rattis, está no diálogo com os setores público e privado durante a COP-30, principalmente por meio da participação do ex-ministro da agricultura Roberto Rodrigues, professor emérito da FGV e enviado especial do setor agrícola à COP-30. As instituições realizaram as revisões técnicas de um documento único que vai ser apresentado por Rodrigues na conferência.
Para tornar amplas as estratégias de debate, a Riac tem como um de seus pilares o apartidarismo político. “(Queremos) a neutralidade política para pautar o diálogo, porque queremos atuar com independência e imparcialidade para construir consenso entre os diferentes atores.”
Outro ponto estratégico para globalizar as discussões será tornar o diálogo internacional, com os estudos produzidos pelas entidades da rede já disponíveis na plataforma da Riac em inglês. Na COP, por exemplo, os representantes da rede querem realizar uma consulta entre países produtores sobre Índice de Agricultura Regenerativa Tropical, da FDC, que deve se tornar global em dois anos.
“Usaremos essa oportunidade para sentar com 16 países produtores agrícolas nos trópicos, mostrar esse arcabouço e entender se funciona para eles ou não. A internacionalização do índice está marcada só para 2027, mas, se não fizermos esse diálogo agora, não conseguiremos construir algo assim.”
Posição de liderança global
Parte dos argumentos que levam a Riac a defender a posição do Brasil na liderança global da agricultura tropical regenerativa vem acompanhada dos números da pesquisa Diagnóstico e reposicionamento político-estratégico da agricultura tropical, primeiro estudo da rede, lançado também nesta quinta e organizado pelo Insper Agro Global.
Segundo o estudo, países tropicais (considerando os localizados na América do Sul, África Subsaariana e Sudeste Asiático) são um pilar considerável na segurança alimentar global, uma vez que concentram 40% das terras aráveis e 52% da água doce do planeta. No entanto, eles possuem desafios tecnológicos e econômicos que travam o aproveitamento adequado desses recursos.
O Brasil aparece como exceção e referência global, ao deter 13% da água doce mundial e 58,25 milhões de hectares de terras aráveis e aproveitar os recursos para a produção agrícola com tecnologias próprias para adaptar cultivos e sistemas produtivos às condições dos trópicos, preservando a fertilidade dos solos.
Entre 1974 e 2024, segundo o mapeamento, a produção brasileira de grãos cresceu de 24 milhões para 317 milhões de toneladas: um avanço médio anual de 4,7%, o mais alto entre as regiões tropicais. A evolução, segundo especialistas, foi impulsionada por políticas públicas de longo prazo voltadas para pesquisa, crédito, extensão rural e infraestrutura.
A posição estratégica do País na agricultura regenerativa tropical se dá por tecnologias como sistemas integrados de produção, agricultura de baixo carbono e de precisão, uso de biofertilizantes e recuperação de pastagens degradadas, explica o coordenador do Insper Agro Global, Marcos Jank.
“Nesse momento, nós estamos vendo uma revolução acontecendo no uso de biológicos, no uso de agricultura de precisão, no uso de drones. O objetivo hoje é otimizar, é produzir mais utilizando menos recurso natural. E isso vem acontecendo naturalmente pelo mercado, sem precisar muito (de intervenção) do governo. Conversão de pastagem degradada em produtiva já vem acontecendo há um bom tempo por razões econômicas”, exemplifica.
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A posição da Riac é defender que o País possa exportar modelos replicáveis de produção regenerativa para outros países tropicais, especialmente para a África Subsaariana. A proposta é que o Brasil fortaleça laços com países da América Latina, África e Ásia, para a construção de uma agenda conjunta de segurança alimentar, sustentabilidade e inovação tropical, de modo a reposicionar o conceito de agricultura tropical no debate internacional.
“Se não se produzir aqui no Brasil, você vai produzir na zona tropical em países com muito menos condições de ter bons resultados. É justamente por isso que temos de estudar mais a fundo. Estamos acompanhando três grandes regiões tropicais continentais e precisamos olhar dentro de cada uma delas” (Estadão)





