Mais uma vez escrevo sobre etanol de milho — porque o que está acontecendo é realmente revolucionário, embora muita gente ainda nao tenha entendido a relevância da mudança estrutural.
Sorriso (MT) ultrapassou Ribeirão Preto (SP) em produção total de etanol. A capital mundial da cana-de-açúcar está sendo superada pela nova potência do milho. Este marco não é apenas estatístico: simboliza a virada estrutural do etanol de milho sobre o etanol de cana no Brasil.
As consequências são profundas:
a) O centro de gravidade da bioenergia brasileira se desloca do litoral para o interior.
b) Rio Grande do Sul, que importa 99% de seu etanol, passará a suprir 23% de sua própria demanda com apenas um projeto em construção (Be8).
c) O Brasil se consolida como exportador global de DDG, ampliando simultaneamente segurança energética e alimentar.
Estamos diante de um setor em transformação acelerada — novos polos produtivos, novos fluxos comerciais e novos símbolos de poder. Liderado pelo investimento privado, aportando gestão e tecnologia.
O que ocorre em Sorriso é mais do que milho superando cana: é a renovação do papel do Brasil na transição energética global, movida por tecnologia, capital e empreendedorismo (Francisco Jardim, cofundador e sócio-diretor da SP Ventures)
O mapa do etanol de milho cresce — e deve se expandir ainda mais
Com R$ 40 bilhões em investimentos previstos, novas usinas devem dobrar o parque industrial do etanol de milho no Brasil e chegar a seis novos estados.
A produção de etanol de milho está redesenhando o mapa energético do país. A região de Sorriso (MT), por exemplo, já supera Ribeirão Preto (SP) — tradicional polo canavieiro — em volume produzido. Impulsionado pelo avanço do cereal na segunda safra, o setor vive um momento de forte expansão e deve continuar crescendo na próxima década.
Atualmente, o Brasil conta com 24 usinas de etanol de milho, sendo dez no Mato Grosso e sete em Goiás. Mas esse número tende a mudar rapidamente: há 38 novas unidades programadas, das quais 18 serão instaladas no Mato Grosso, segundo dados da Unem (União Nacional do Etanol de Milho).
Projetos bilionários e novas parcerias
Um dos projetos mais expressivos é a joint-venture entre Inpasa e Amaggi, que prevê três usinas em Rondonópolis, Campo Novo do Parecis e Querência (MT). Cada unidade terá capacidade para processar 2 milhões de toneladas de milho por ano, resultando em cerca de 800 milhões de litros de etanol.
A FS Bioenergia também avança no setor e vai investir R$ 2 bilhões em sua quarta unidade, em Campo Novo do Parecis (MT), com produção anual estimada em 540 milhões de litros de etanol e 935 mil toneladas de DDG (coproduto usado na alimentação animal).
Outro destaque é a Evermat, formada por 31 famílias produtoras de milho em Sinop (MT). O grupo está investindo R$ 1 bilhão em uma usina com capacidade para 207 milhões de litros por ano e 134 mil toneladas de DDG.
No restante do Centro-Oeste, o ritmo também é acelerado. Empresas como Inpasa, São Martinho e Cargill Bioenergia têm projetos em Goiás, enquanto o Grupo Sada anunciou R$ 1,1 bilhão para duas usinas “flex” — que utilizarão tanto milho quanto cana — em Montes Claros de Goiás (GO) e Jaíba (MG).
Novas fronteiras produtivas
A expansão não se limita ao Centro-Oeste. Novas usinas devem chegar a Tocantins, Rondônia, Bahia, Piauí e Pará, ampliando a presença do etanol de milho em regiões antes inexploradas.
No Maranhão, a Inpasa inaugurou recentemente a primeira indústria de etanol de milho e sorgo do Nordeste, em Balsas, com investimento de R$ 2,5 bilhões. A planta tem capacidade para produzir 925 milhões de litros por ano e 490 mil toneladas de DDG.
No Sul do País, o movimento também ganha força. O Grupo Potencial investe R$ 2 bilhões em uma usina em Lapa (PR), enquanto a Coamo aplica R$ 1,7 bilhão em Campo Mourão (PR). Já o Rio Grande do Sul ganhará sua primeira fábrica de etanol de milho, da Be8, em Passo Fundo, com capacidade para atender 23% da demanda estadual e produzir coprodutos como glúten vital, suprindo toda a necessidade nacional.
Investimentos e metas para a próxima década
De acordo com a Unem, o setor deve receber R$ 40 bilhões em investimentos nos próximos dez anos. A produção nacional deve crescer dos atuais 10 bilhões para 17 bilhões de litros até 2034, acompanhando o aumento da mistura obrigatória do etanol na gasolina — hoje em 15%, com meta futura de até 35%.
“O volume de investimentos e a crescente produção viabilizam o aumento da mistura para 35%”, afirma Guilherme Nolasco, presidente da Unem.
A representatividade do milho na produção de etanol também impressiona: o grão, que respondia por apenas 8% da produção nacional em 2020, hoje já representa 30% e deve ultrapassar 40% até 2030 (TheAgriBiz)