Na última safra, setor de etanol de milho adicionou quase 2 bilhões de litros em relação ao ciclo anterior.
O aumento da mistura de etanol na gasolina e de biodiesel no diesel vendidos nas bombas vai demandar uma produção adicional anualizada de até 1,5 bilhão de litros de etanol, e de ao menos 300 milhões de litros de biodiesel, segundo analistas e agroindústrias. A medida foi anunciada ontem durante reunião extraordinária do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).
O novo percentual de mistura do etanol à gasolina, de 30%, deve adicionar 1,5 bilhão de litros do biocombustível anualmente, segundo Guilherme Nolasco, presidente-executivo da União Nacional do Etanol de Milho (Unem).
Já nas contas da consultoria FG/A, de Ribeirão Preto, o volume adicional deverá ser de 1,2 bilhão de litros. Mesmo nessa projeção mais conservadora, haveria um crescimento de 25% em relação ao que foi produzido no Centro-Sul, maior polo produtor do biocombustível do país, na safra passada.
Para isso, o Brasil deverá contar com o crescimento da produção de etanol de milho, mas não só. As usinas de cana também podem produzir menos etanol hidratado (que compete com a gasolina) ou menos açúcar.
Para a FG/A, a maior chance é de que elas reduzam a produção do hidratado, o que restringiria sua oferta. Se isso se confirmar, a consultoria estima que o preço do hidratado pode subir 2% ao longo do ano, ou R$ 0,10 por litro.
Cristian Quiles, analista da consultoria, avalia que há possibilidade também de que algumas usinas destinem parte da cana que iria para o açúcar para a fabricação de anidro. “Em Mato Grosso e Goiás, já há prêmio para o etanol hidratado [sobre o açúcar], então pode ter mudança de mix. Mas boa parte das usinas já fixou os preços de açúcar, o que minimiza esse efeito.”
No caso do biodiesel, o aumento da mistura de 14% para 15% deve demandar uma produção adicional de ao menos 300 milhões de litros até o fim do ano, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).
Para garantir essa produção, a indústria de biodiesel vai aumentar a demanda por óleo de soja em ao menos 150 mil toneladas no ano. Já as esmagadoras terão que processar até 1 milhão de toneladas a mais de soja, o que deve gerar 600 mil toneladas de farelo de soja adicionais, segundo a entidade.
Como o preço do biodiesel é maior do que o do diesel fóssil, deve haver um acréscimo de preço do diesel nas bombas, mas com efeitos limitados, segundo analistas. Hoje, o preço médio do biodiesel está em R$ 5,29 o litro, um valor R$ 1,63 maior que o preço médio do óleo diesel, segundo dados mais recentes da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
No entanto, o aumento da oferta de farelo de soja decorrente da nova política acaba gerando um efeito deflacionário sobre alimentos, como as proteínas animais, segundo a indústria.
“Com o aumento da mistura, estima-se que o PIB mensal seria 0,36% maior, a produção de óleo de soja seria 2,35% maior e a de carne de frango seria 1,37% maior”, estimou a Frente Parlamentar Mista do Biodiesel (FBio), em nota. “A carne bovina, tão cara ao brasileiro, teria um aumento de 1,78% na sua produção mensal. Tudo isso significa maior oferta de alimentos e comida mais barata na mesa do povo brasileiro”, acrescentou.
Segundo estudo da Abiove, o incentivo ao esmagamento de soja pode levar a uma redução no IPCA de 0,05 ponto percentual, resultado agregado líquido dos ganhos com a queda das carnes.
O aumento da mistura ocorre com atraso de seis meses. Pela regra, o teor de 15% de biodiesel deveria ter entrado em vigor em março. Pressionado pela inflação na época, o governo decidiu congelar o percentual em 14%.
Com arrefecimento dos preços e a realização de estudos técnicos para sanar dúvidas sobre a viabilidade da mistura em teores mais altos e da qualidade do biodiesel, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, voltou a defender a elevação da mistura. O mesmo cenário vale para o etanol (Globo Rural)