Mais da metade dos agricultores espera aumento dos lucros em 2 anos

A menor rentabilidade das principais commodities agrícolas não afasta o otimismo dos agricultores brasileiros. Mais da metade deles, ou 57%, preveem crescimento dos lucros nos próximos dois anos, revela o estudo “A mente do agricultor brasileiro 2024” da consultoria McKinsey. Outros 33% esperam rentabilidade estável em 2026, enquanto 11% projeta queda na rentabilidade. Em contrapartida, para este ano corrente, 37% esperam lucros mais altos, enquanto 33% aposta em estabilidade e 29% acredita em lucros menores.

O otimismo quanto à melhora na rentabilidade da atividade em 2026 é maior entre os produtores de café (65% esperam lucros maiores em dois anos), grãos do Sul (64%), frutas e hortaliças (61%) e grãos no Matopiba (60%), apesar de uma perspectiva mais conservadora para este ano. “Os produtores de algodão e grãos do Cerrado são os mais pessimistas em relação aos resultados de 2024, mas esperam um cenário melhor daqui a dois anos”, aponta a pesquisa. A melhora na perspectiva dos agricultores em relação à rentabilidade ocorre após dois anos de preços mais baixos de commodities e alta volatilidade nas cotações.

O estudo integra a pesquisa Global Farmers Insights 2024, realizado pela McKinsey em nove países, incluindo Brasil, Argentina, EUA, México e Índia. A pesquisa envolveu 4.250 agricultores de fevereiro a junho deste ano. No Brasil, foram entrevistados 757 agricultores, sendo que 95% produzem de um a dois tipos de cultivo, segundo a pesquisa divulgada pela McKinsey nesta quarta-feira.

Os principais riscos apontados pelos agricultores brasileiros para a sua rentabilidade nos próximos dois anos são os eventos climáticos extremos (52%), o aumento do preço de insumos (35%) e a escassez de trabalhadores agrícolas (23%), segundo a pesquisa. Há dois anos, quando o estudo foi realizado em 2022, 73% dos agricultores viam como principal risco o aumento do preço dos insumos, em meio à ascensão da guerra entre Rússia e Ucrânia, e 44% apontavam os eventos climáticos extremos como uma das principais preocupações. Já a falta de mão de obra não figurava entre os cinco principais riscos à rentabilidade em 2022. Agricultores mais pessimistas, que esperam lucros menores em dois anos, citam também a volatilidade dos preços das commodities (28%) entre os riscos para a rentabilidade da atividade.

Para ampliar a lucratividade da produção agrícola nos próximos dois anos, 54% dos agricultores brasileiros apostam no aumento da produtividade, ante 39% reportado em 2022, mostra a pesquisa. O estudo mostra ainda que para melhorar o rendimento das lavouras, 47% estão dispostos a testar novos produtos, 39% a experimentar novos produtos de proteção de cultivos e 32% a adquirir equipamentos, produtos ou tecnologia inovadores. Uma parcela de 27% vê oportunidade de melhorias dos lucros por meio de menores preços de insumos, enquanto 24% esperam melhor previsibilidade dos custos de insumos.

O estudo da McKinsey revelou ainda que os agricultores brasileiros estão aumentando a adoção de produtos biológicos para obter melhores resultados no campo. A adoção de produtos de base biológica no País aumentou de 54% para 64% em biofertilizantes e bioestimulantes de 2022 para 2024 e passou de 55% para 64% em produtos de biocontrole. Os números do Brasil em biológicos superam expressivamente a adoção de bioprodutos pelos Estados Unidos, que chega a 24% em nutrição e 18% em biocontrole. Além disso, 70% dos agricultores brasileiros afirmaram que planejam ampliar o investimento em biológicos, independentemente das flutuações nos preços dos insumos tradicionais.

A pesquisa mostrou que os agricultores brasileiros também ampliaram a adoção de tecnologias digitais nas lavouras, apesar de o índice ainda estar atrás dos agricultores norte-americanos. O uso de ferramentas digitais passou de 42% em 2022 para 55% em 2024 na agricultura brasileira, enquanto nos Estados Unidos 74% dos agricultores responderam usar pelo menos um tipo de tecnologia digital. No Brasil, as culturas mais digitalizadas são algodão (90% dos produtores adotam algum tipo de tecnologia) e grãos (72% no Cerrado, 64% no Matopiba e 61% no Sul).

No País, a maior adoção de tecnologias na agricultura são em ferramentas focadas nas operações, sobretudo em agronomia digital (43%) e agricultura de precisão (23%). “Os principais desafios para a adoção de tecnologias agrícolas incluem custos, suporte técnico e infraestrutura, mas o compartilhamento de dados não é uma preocupação. No Brasil, as agtechs são usadas principalmente para proteção de cultivos, enquanto nos Estados Unidos o foco está na otimização operacional – quanto maior a área cultivada, mais sentido faz adotar tecnologia”, avaliou a McKinsey.

O Brasil continua liderando a adoção de práticas sustentáveis na agricultura. Entre os índices da pesquisa que auferem as práticas de sustentabilidade, 87% dos agricultores brasileiros relataram eficiência no uso de insumos agrícolas, em comparação com 75% em 2022, superando a média global de 67% neste ano. O Brasil se destaca também em práticas sustentáveis de gestão no campo, como plantio direto, cultura de cobertura, tocaia de cultura, sendo adotado por 80% a 83% dos agricultores, à frente da média global de 64% a 80%. A adoção de práticas sustentáveis são motivadas financeiramente, segundo a McKinsey. “O apoio aos custos iniciais é o principal incentivo para a adoção de práticas sustentáveis, enquanto a monetização por meio de créditos de carbono é mais atrativa para grandes agricultores”, conclui a McKinsey.

Outro recorte do estudo mostra que os agricultores brasileiros estão recorrendo a fontes externas para financiar as atividades. Neste ano, 38% dos respondentes utilizaram financiamentos bancários para custear a safra, 33% recorreram a crédito na loja e 17% a financiamento junto a fornecedores. Os pagamentos à vista da safra caíram de 73% em 2022 para 58% neste ano, índice também atrelado à descapitalização e menor rentabilidade das commodities, enquanto a fatura a prazo subiu de 6% para 22%. Os agricultores brasileiros usam em média duas fontes de recursos para financiamento da safra.

A adoção de pagamentos digitais cresceu 34 pontos porcentuais no País, sendo relatada por 54% dos agricultores neste ano, principalmente entre aqueles com maior familiaridade tecnológica, diz a McKinsey. Além disso, o uso de seguros aumentou, especialmente entre produtores de grãos, café, frutas e hortaliças. De acordo com a pesquisa, 51% dos agricultores brasileiros utilizam seguro de cultivos atualmente, contra 41% dos Estados Unidos e 40% da média global. A adoção crescente está atrelada à maior percepção de risco quanto a eventos climáticos extremos (Broadcast)

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