Presidente da associação de exportadores de carnes destaca que há momento diplomático para Japão habilitar frigoríficos brasileiros ainda este ano.
Com o crescimento populacional e a elevação da renda, a Ásia se consolidou como a prioridade do setor de carne bovina brasileiro.
O mercado asiático é visto como “a menina dos olhos” dos exportadores nacionais, que buscam expandir as vendas não apenas de cortes tradicionais, mas principalmente de miúdos — produtos de alto valor agregado que têm forte aceitação cultural e religiosa em países da região.
Para se ter uma noção, o mercado de língua bovina no Japão chega a pagar entre US$ 10 e US$ 12 o quilo, enquanto o Brasil exporta o mesmo produto a cerca de US$ 2, segundo o presidente da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), Roberto Perosa.
De acordo com o executivo, essa diferença de até seis vezes mostra o potencial de agregação de valor que os miúdos representam para a indústria nacional.
“Quem já foi no Japão sabe: numa churrascaria, em vez de servir a picanha fatiada como aqui [no Brasil], servem a língua fatiada, e é considerada um churrasco gourmet. Então, é costume. Se servir a língua aqui, poucas pessoas vão comer, mas lá é um produto valorizado. É essa a estratégia da indústria bovina brasileira”, explicou em coletiva de imprensa nesta terça-feira (9/9).
Para Perosa, o maior medo dos americanos é o Brasil ampliar o acesso ao mercado asiático, justamente pela dimensão da demanda.
“Os Estados Unidos têm receio de perder espaço na Ásia porque sabem que não conseguem competir em escala com o Brasil. Eles têm teto de produção, e a Austrália também”, afirmou.
“Então, quando a gente abre espaço na Ásia, é um caminho sem volta. Esse é o grande ponto: a carne magra produzida pelo Brasil é necessária no mundo todo, mas é na Ásia que está o futuro do consumo”, pontuou.
Desta forma, uma das estratégias para ampliar a presença no mercado japonês é aproveitar o ambiente diplomático criado pelas recentes agendas entre os dois países e a COP30, conferência do clima que acontecerá em novembro em Belém (PA).
Mas tudo começou a avançar em março deste ano, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esteve no Japão após seis anos sem o país lançar um convite para visita de Estado para qualquer nação. Na ocasião, foram assinados tratados de cooperação em diversas áreas, inclusive a agropecuária.
Após o encontro, uma comitiva japonesa esteve no Brasil para averiguar os frigoríficos do país. O Japão é um dos países mais rigorosos em critérios sanitários sobre carne bovina do mundo.
Segundo Roberto Perosa, os movimentos mostram avanços concretos para a abertura de mercado para a carne bovina brasileira.
“É claro que isso está tudo em negociação ainda com o Ministério da Agricultura brasileira, que é o ministério e o órgão responsável por negociar com o governo japonês a abertura do mercado”, ponderou.
“A gente costuma dizer que existe um momento diplomático para haver esse anúncio. O momento diplomático está dado, e eu acho que é na COP, com a visita do primeiro-ministro japonês”, frisou.
Para além das tratativas com o mercado nipônico, nesta segunda-feira (8/9), a Indonésia anunciou a habilitação de 17 novas plantas brasileiras, elevando para 38 o número de frigoríficos aptos a exportar carne bovina ao país.
O governo indonésio também autorizou a entrada de carne com osso, miúdos e produtos preparados, ampliando o portfólio brasileiro no mercado local.
Em 2025, as exportações para a Indonésia já somam 15,4 mil toneladas, gerando US$ 71,6 milhões, um salto de 258,9% em valor e 253% em volume em relação ao mesmo período de 2024.
Entre janeiro e agosto, o Brasil exportou 2 milhões de toneladas de carne bovina, alta de 20% frente a 2024, com faturamento de US$ 10,7 bilhões, avanço de 33%.
A China segue como principal destino, com 1 milhão de toneladas (US$ 5,4 bilhões), consolidando a liderança asiática no consumo da proteína brasileira.
Nos próximos meses, Perosa e sua equipe devem viajar para a China a fim de ampliar o diálogo para avançar com as negociações.
Perspectivas para 2025 e 2026
No balanço da Abiec, para as exportações em geral, a expectativa calculada em dezembro passado era de crescimento de 12% no volume e 14% no faturamento das exportações brasileiras de carne bovina em 2025.
O resultado parcial do ano já superou a previsão, com avanço de 16% em valor e de 12% em volume.
“Fizemos um compilado no fim do ano passado e projetamos 12% de incremento no volume de exportação, fazendo com que a
gente passe de 13 milhões de toneladas de carne exportada e 14% em faturamento no incremento também do setor em 2025”, disse Perosa.
“E, para minha surpresa, isso está mantido, e está dando acima. Está dando 12% no volume, e no faturamento está dando um pouquinho mais, está dando 16%, mas muito em linha com o estudo que nós fizemos em dezembro.”
O dirigente ressaltou que, mesmo diante do impacto do tarifaço dos Estados Unidos, a diversificação geográfica tem sustentado os embarques.
“Claro que tem país a mais [recebendo exportações], tem país que diminuiu [a compra], mas no conjunto das exportações a gente está mantendo esse equilíbrio”, completou (CNN Brasil)